Um das histórias mais conhecidas sobre o sentimento de pertencimento dos cearenses com o Banco Nordeste do Brasil trata de um empresário de sucesso a nível nacional que implantava um grande projeto no Ceará com recursos do BNDES quando recebeu a visita da diretoria do BNB lhe relatando a preocupação da instituição em não participar do empreendimento.
Depois uma longa reunião, o investidor aceitou que o banco entrasse financiando ao menos seus fornecedores. Os dirigentes do banco terminaram a reunião satisfeitos. Nos cumprimentos finais pediram para colocar uma placa da instituição na obra. Duas semanas depois a placa do BNB era tão grande que podia ser vista a quilômetros.
Isso é o Banco do Nordeste para o Ceará. Rigorosamente nenhum empreendimento que tem sede no estado pode deixar de ostentar uma placa do BNB informando que participa do projeto. Para os empresários e políticos do Ceará, o banco é uma instituição financeira a serviço do desenvolvimento do estado. E disso não apenas a classe empresarial cuida, mas a classe política cearense.
Esse sentimento de pertencimento é tão arraigado que não ter um nome indicado pelo estado para o Banco do Nordeste soa como uma enorme falta de prestígio junto ao Governo Federal. Mesmo que, no caso do atual governo, o estado tenha sido aquinhoado com o ministério da Educação. Ou que o próprio ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, o ex-governador do Amapá Waldez Góes tenha uma forte ligação com a política cearense. É bom. Mas o que a classe política queria mesmo era poder indicar o presidente do banco e se possível toda a diretoria.
A bem da verdade, fora Anderson Aorivan da Cunha Possa (diretor de Negócios) que tem origem da Caixa Econômica Federal e já foi presidente da instituição em substituição a Romildo Carneiro Rolim afastado do cargo por Jair Bolsonaro, após uma denuncia contra ele por Valdemar Costa Neto, todos os demais diretores da nova diretoria liderada pelo ex-governador de Pernambuco, Paulo Câmara são funcionários de carreira do Banco do Nordeste. E esse comprtamento pôde ser visto no proprio site do banco que não anexou à notícia da posse de Paulo Camara, nesta quarta-feira (29) uma foto da solenidade.
Isso dá uma idéia de como a classe política atuou para manter a instituição com a visão de negócios a partir do Ceará. E de como Paulo Câmara vai precisar se comportar à frente da instituição. Mesmo tendo sido uma escolha pessoal do presidente Lula que, já na campanha do primeiro turno, disse ao casal Paulo e Ana Luiza Câmara (juíza no Tribunal de Justiça de Pernambuco) que se preparassem para morar em Brasília, pois queria tê-los por perto.
É importante não desconsiderar esse detalhe. Câmara só não ocupa um ministério no govenro Lula porque o PSB não chancelou seu nome. Tanto que o ex-governador se desfilou do PSB depois de deixar o cargo.
Para um gestor extremamente técnico e de formação em auditoria sendo funcionário do TCE-PE cuidar da presidência de uma instituição como o BNB não representa um grande desafio. Ate porque o banco tem um bom quadro técnico.
Como se costumava dizer dentro do PSB quando ele ainda era seu vice-presidnete nacional. Se tem uma coisa que Paulo Câmara sabe fazer é conta. Prova disso foi a jornada que empreendeu no segundo governo para reconquistar a Capag B junto a Secretaria do Tesouro Nacional. Mas ele vai precisar exercitar numa instituição financeira o que não praticou muito no comando do governo de Pernambuco. Fazer política.
Paulo tinha fama de fazer concessões aos deputados. Mas de não ter um maior relacionamento com eles. Raramente se reuniu com a bancada para tratar de problemas paroquiais - que são mais importante para os deputados que um cargo ou uma verba. Ou como dizem seus ex-colegas de partido, Paulo Câmara nunca tirou um final de semana para viajar pelo interior para comer bode e galinha à cabidela numa fazenda de um chefe político.
Esse talvez seja seu maior desafio. Entender que, no Ceará, a classe empresarial tem forte ligação com a classe política e que o Banco do Nordeste é um das coisas que os une. O que significa que, ao menos nos primeiros meses, Câmara não deve recusar a tempestade de convites para conversas sociais nos fim de semana em Fortaleza ou mesmo em cidade do interior com a desculpa de ele ver onde o dinheiro do BNB está sendo aplicado como sucesso.
Comentários