Debate ideológico radical contamina análise do novo ensino médio, que ainda está sendo implantado
Reforma de Ensino privilegiou Português e Matemática mas nas redes estaduais de ensino médio ja estão ofertando ao menos 1.526 opções de disciplinas.
Por mais absurdo que isso possa parecer, mas o comportamento revisionista do governo Lula, a cada dia que passa se aproxima dos primeiros meses do governo Bolsonaro quando ele começou atacando a legislação ambiental, o estatuto do desarmamento e o comportamento do ministério das Relações Exteriores.
No governo Lula, o comportamento é preocupante e semelhante e isso não tem nada a ver com a idéia de relançar os programas de sucesso retornando aos nomes antigos. Mas com a estratégia de rever uma série de políticas públicas em áreas que a ideologia de esquerda vale mais do que o sucesso ou evolução de programas.
O caso da pressão sobre o Ministério da Educação para edição de uma portaria para suspender o cronograma de implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio é um bom exemplo daquilo que ficou conhecido como a vanguarda do atraso.
Segundo informações divulgadas esta semana, um texto deveria ser assinado pelo ministro da Educação, Camilo Santana nos próximos dias e interrompendo a implementação no primeiro e segundo ano da etapa ainda em 2023, além de suspender a necessidade de adaptação do ENEM ao novo modelo até 2024. Imagine-se a confusão nas cabeças tensas dos jovens que estão se preparando para o Enem e nos que já estão estudando a novas disciplinas propostas pela reforma?
Como tudo no mundo político gira em torno dinheiro e poder é importante colocar que do bolso do contribuinte já saíram R$ 2 bilhões para organizar essa política a nível nacional. Então, a primeira questão é: quer dizer que vamos voltar ao tempo em que os alunos estudavam 13 disciplinas?
Os secretários de educação preocupados com a colocação do assunto e da urgência que os defensores da revogação ouviram dentro das áreas técnicas do MEC responsáveis pelas redes de ensino que nada mudaria. Mas nada está decidido - ainda.
O problema é que a chamada esquerda da educação quer simplesmente a revogação total do modelo. Ela entende que Lula se comprometeu com isso. Esse grupo é formado por associações estudantis, educadores ligados a universidades públicas e, naturalmente, sindicatos de professores.
Até porque eles foram às ruas defender a candidatura de Lula e já ficaram ressabiados quando Lula escolheu Camilo Santana, ex-governador de um dos estados que mais avançou nas reformas e mais ainda quando ele levou sua ex-secretaria de educação, Izolda Cela para ser secretaria executiva do MEC.
Quem conhece Santana e Cela sabem que por eles a reforma seria acelerada de modo a que o dinheiro do MEC fosse usado para treinar os docentes nessa nova metodologia. Mas vai dizer isso as entidade e professores?
Por mais absurdo que uma proposta de simples suspensão do cronograma da reforma (sem falar da idéia de revogação) possa parecer, a questão tem a ver com poder dentro das escolas e junto a sociedade. Isso tem a ver com o aumento do prestígio dos professores de matemática e português que passaram tem mais horas aulas. No projeto da Reforma de Ensino, Português e Matemática serão os dois únicos componentes curriculares obrigatórios nos três anos do ensino médio.
É aí que o bicho pega. Os professores das demais matérias estão vendo que os alunos não só deixaram de se interessar pelas suas competências, mas passaram a prestigiar os professores de Português e Matemática. Daí a proposta de revogação da lei 3.415/17 e a volta 13 disciplinas obrigatórias para os três anos.
Depois de três anos parte do currículo continua sendo feita com disciplinas conhecidas, como Português e Matemática, e a outra com os chamados itinerários formativos, que são caminhos que o estudante pode escolher e foi ai que a confusão começou.
Uma questão pratica é como será o Enem 2024 que avaliará esses alunos quando as primeiras turmas já teriam cursado as três séries obrigatoriamente no novo modelo? E qual os reflexos nos Estados onde escolas já estão adequadas a reforma como avaliar o aluno que as cursou novas disciplinas com uma prova antiga?
Professores que se acostumaram no seu quadrado viram que o seu mundo caiu. Nasceu então o discurso de que formação por competências seria para o atendimento das demandas originárias do setor empresarial e que reforma atenderia aos seus interesses. Virou um mantra. As passeatas e manifestações de entidades são pela revogação total e volta imediata ao modelo antigo.
Claro que toda reforma tem problemas e tem casos de exageros como casos de professores de História, Sociologia e Educação Física tendo que tratar de conteúdos como “RPG”, “Brigadeiro caseiro”, “Mundo Pets SA” e “Arte de morar” porque eles atenderiam às realidades de estudantes do ensino médio nas redes públicas do país que - nas escolas - decidiram aprender isso.
Um levantamento do MEC em 2022 identificou que asd redes estaduais de ensino do país estão ofertando ao menos 1.526 opções de disciplinas no novo ensino médio. Não é razoável.
O problema é que quem pensa educação sem viés sindical acha que deve haver correções porque a lei deixou tudo muita coisa frouxa. O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Vitor de Ângelo, criticou a suspensão dos prazos de implementação do modelo. Celebridades como Luciano Huck defende que o Novo Ensino Médio deveria estar acima de diferenças ideológicas.
Mas até influenciadores digitais como Felipe Neto entraram no dabate com discursos radicais: “o novo ensino médio" não deve ser suspenso, deve ser REVOGADO. “O projeto, que é uma desgraça, não foi criado para agradar aos educadores ou aos alunos.” Certamente pelo sua experiência de educador digital ele deve ter feito uma profunda reflexão sobre o tema para ser tão assertivo.
O problema continua e a questão é o que Lula que não é especialista em educação embora tenha um histórico de defender o setor vai fazer e que o cearense Camilo Santa conhecido por sua habilidade política vai conseguir fazer para encontrar uma solução para posições tão radicais.
Na deixa de ser curioso. Exatamente no memento em que nas escolas do mundo os estudantes estejam debatendo o reflexo da inteligência artificial e seus impactos na educação de jovens e adolescentes, o Brasil entre num debate sobre a volta do modelo de educação estruturado no século XIX e que isso se dê por questões sindicais travestidos de ideológico.