Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Coluna JC Negócios

Lula aposta contra Estados Unidos e corre o risco de virar coadjuvante no debate sobre paz que ele mesmo propõe

Lula não só faz declarações pouco diplomáticas após sua viagem à China, mas ainda exagera nas críticas à postura dos Estados Unidos

Fernando Castilho
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Fernando Castilho
Publicado em 16/04/2023 às 12:20 | Atualizado em 16/04/2023 às 13:26
Ricardo Stucker
Xi Jimping recebe Lula na Praça do Povo em Pequim - FOTO: Ricardo Stucker

Uma velha frase conhecida na diplomacia, na academia e na economia ensina: “nunca aposte contra a América”. América é como os americanos dos Estados Unidos se referem ao seu país.

O significado tem a ver com a capacidade de articulação dos Estados Unidos cuidarem se seus interesses ao redor do mundo, como influenciam com seus professores nas diversas universidades do mundo e como estão presentes na economia global com milhares de empresas, algumas centenas delas empresas transnacionais.

Os Estados Unidos, é importante não esquecer, viraram o século XX não apenas como a nação mais rica como a mais poderosa do mundo, embora as nações ainda acreditassem que era o Império Britânico.

Esse quadro pode ajudar a entender porque o presidente Lula da Silva comete um enorme equívoco quando não apenas aposta contra a América, mas dobra a aposta.

Lula não só faz declarações pouco diplomáticas após sua viagem à China, mas ainda exagera nas críticas à postura dos Estados Unidos na questão do padrão dólar, sobre as vantagens da parceria comercial com o país de Xi Jinping e mais ainda quando tenta nivelar discurso da guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Não tem como dizer que a Ucrânia também foi responsável pela decisão de entrar em guerra contra a Ucrânia. Não. A Ucrânia é o país agredido e invadido, já por ocasião da província da Crimeia. E está se defendendo por ter quase 20% de seu território tomado à força pela Rússia.

Ricardo Stucker
Crianças chinesas saudam Lula em Pequim - Ricardo Stucker

O mundo não erra quando tenta fazer a Rússia recuar dessa agressão. E os Estados Unidos e a União Europeia não têm como não tomar a posição que vem tomando. Quem está errado é Lula, que desde o ano passado “fechou” com Putin.

Quem errou foi Lula, quando mandou seu assessor especial, Celso Amorim, a Moscou, permitiu que uma delegação do PT visitasse o Parlamento Russo e, nesta segunda-feira, quando recebe o chancelar Serguei Lavrov, em Brasília.

Ou ele acha que alguém vai ouvir esse seu discurso de que é preciso fazer os Estados Unidos e União Europeia falarem de paz? Ele está querendo enganar quem?

Mas a questão do apoio inicial à Rússia, e agora o apoio quase irrestrito a Xi Jinping, é o menor dos problemas da diplomacia - liderada pelo chanceler Mauro Vieira, escolhido para o cargo por Celso Amorim.

O problema é saber se, no médio e longo prazo, essa paixão arrebatadora de Lula pela China se fundamenta nas relações comerciais, o motivo central que o Itamaraty fez questão de alardear nos seus comunicados e nas suas conversas “sob condição de anonimato” com jornalistas e analistas, muitos deles encantados com a projeção de Lula no cenário internacional.

Infelizmente, e até pelo tempo em que os americanos se relacionam com o Brasil, Joe Biden não foi o pioneiro na defesa da Democracia quando dos atos de 8 de janeiro. Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a Independência do Brasil, em 1822, até porque já tinham feito a sua em 1776, portanto menos de 50 anos antes.

Os Estados Unidos são, disparado, o país que mais tem investimento direto no Brasil há décadas. Em 2021, último ano do relatório da Camex, do Ministério das Relações Exteriores, os Estados Unidos lideram como investidor imediato com US$ 152,5 bilhões e também como controlador final do investimento, com US$ 191,6 bilhões.

Como a linha é crescente, é quase certo que, em 2022, eles tenham chegado a US$ 160 bilhões como investidor imediato e US$ 200 bilhões como controlador final.

A China, naquele ano, sequer apareceu como investidor imediato. E como controlador final do investimento, tinha apenas US$ 29,9 bilhões. Bem atrás de países como Espanha, França e Reino Unido, que estão no Brasil há muito mais tempo. E superando apenas Bélgica e Japão. Além da Holanda, que agora se identifica como Países Baixos e Luxemburgo, países sedes de empresas intermediárias, que atuam na canalização de investimento direto de países controladores finais para os países de destino.

Então, a menos que Lula, Celso Amorim, Mauro Vieira e o PT estejam vendo o que o resto do mundo não estão vendo, parece ser um enorme equívoco da parte do Brasil tentar relativizar a posição da Rússia em relação à guerra com a Ucrânia, assim como parece ser desnecessário abrir uma frente de desacordos verbais (na área econômica isso não conta) com o seu maior investidor histórico pelo encantamento com a posição da China.

O problema dessa verborragia de Lula é que ele mesmo estraga sua presença como líder de classe mundial quando fecha com a Rússia e a China, e passa a ser visto como um ventríloquo dos dois países, especialmente da China.

É importante não esquecer que na cultura chinesa, o mais sábio é o que leva mais vantagem. Como disse Deng Xiao Ping, “enriquecer é glorioso” e a China enriqueceu vendendo pelo menor preço e comprando também pelo menor preço. A sabedoria da China que forma 300 mil engenheiros, por ano, em suas universidades e tem o maior programa de alunos bolsistas nos Estados Unidos é a enorme vontade de aprender e empreender.

Quando os Estados Unidos decidiram mandar suas fábricas sujas, no governo Jimmy Carter, que celebrou o acordo com Deng Xiao Ping, a única exigência do líder chinês foi que mandasse professores e doutores para lecionar no país.

Ricardo Stucker
Comitiva de parlamentares brasileiros com Lula e Xi Jimping em Pequim - Ricardo Stucker

Eles foram, e talvez isso explique por que, em 2021, dos 3,4 milhões de pedidos de patente depositados no mundo, 1,59 milhão foram recebidos pelo instituto de propriedade intelectual da China. Os tradicionais e respeitados institutos dos Estados Unidos depositaram apenas 591.473; o Japão, 289.200, a Coreia do Sul, 237.998 e o Instituto Europeu de Patentes, 188.778.

E como tudo que é bom pode melhorar, ano passado, uma emenda aprovada pelo Parlamento Chinês estimula os inventores locais a obter patentes no exterior, abolindo a exigência de que os depósitos de patentes de cidadãos chineses sejam feitos primeiro na China.

Isso talvez explique por que, em 2019, a gigante chinesa de telecomunicações Huawei Technologies, com 4.411 pedidos publicados, foi a principal depositária no mundo. Naquele ano, a empresa foi responsável pela tecnologia que viabilizou o 5G na China continental. A Huawei Technologies, como se sabe, sofre com as sanções dos Estados Unidos, que acabam se refletindo em seus negócios em vários países da União Europeia. Mas ainda assim é um player global.

O problema nesse comportamento de Lula é que ele, com suas declarações, acaba sendo visto fora do Brasil não como um ator importante, mas como um ator coadjuvante - que serve de escada para o discurso da Rússia e os objetivos da China, que até agora salvou a economia da Rússia, comprando tudo que o país de Putin oferece irrigando sua economia, mas que até hoje não avançou nas declarações intempestivas como Lula.

Talvez porque, como diz a sabedoria chinesa, a palavra é prata, o silêncio é ouro.

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