Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Com 200 mil carros em estoque, indústria automobilística não se anima com carro popular que Lula deseja

Em abril, segundo dados da Anfavea, estavam nos pátios das fábricas 131.600 carros prontos e mais 72.300 nas revendas. Isso equivale a 31 dias de produção, uma situação que mês a mês vem crescendo

Fernando Castilho
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Publicado em 17/05/2023 às 15:00 | Atualizado em 17/05/2023 às 16:51
Christian Castanho
Fiat Mobi - FOTO: Christian Castanho

Apesar de todo entusiasmo do governo, especialmente do vice-presidente Geraldo Alkmin, que programa fazer o lançamento na próxima semana, por ocasião do Dia da Indústria, na próxima quinta-feira (25), a indústria automobilística não demonstra animação com a proposta de lançar um carro popular com valor de até R$ 60 mil, reprisando o movimento de Itamar Franco em 1994, quando convenceu a Volkswagen de relançar o Fusca.

Um veículo que possa ser chamado de “carro popular” é o novo projeto de Lula, que instruiu o ministro do Desenvolvimento Econômico e vice-presidente Geraldo Alkmin a convencer a indústria a embarcar na ideia de um produto com essas características. Mas a indústria não tem demonstrado muito entusiasmo. O problema é que carro de entrada não deixa margem de lucro para as montadoras.

Mas parece claro que o esforço com redução de impostos por parte do governo e simplificação dos modelos do lado das fabricantes não é o que a indústria deseja. Como forma de baixar ainda mais, a proposta é de carros sem a quinta marcha opcional, usar vidros mais finos e tirar itens como retrovisor do lado direito, apoios de cabeça dos bancos e janela quebra-vento retrátil, que vão de encontro a todo o marketing das indústrias, que não têm o mesmo foco do passado.

Primeiro porque a volta do tema ganhou corpo no início de abril, a partir de uma iniciativa da Fenabrave, a associação de concessionários de veículos que tentou convencer a algumas montadoras a defender a necessidade de oferta de carros mais baratos para tentar recuperar o mercado. Portanto, essa é uma tentativa de melhorar o faturamento dos revendedores desesperados com a queda nas vendas.

Em abril, segundo dados da Anfavea, estavam nos pátios das fábricas 131.600 carros prontos e mais 72.300 nas revendas. Isso equivale a 31 dias de produção. Uma situação que mês a mês vem crescendo.

É como se, da produção do primeiro quadrimestre, um mês tivesse ficado nos pátios. E, certamente, não será a venda de carro popular que vai melhorar isso.

A indústria de hoje não aceita retirar itens que hoje são considerados básicos e que no passado eram luxo. O coordenador dos cursos da área automotiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antônio Jorge Martins, advertiu numa entrevista ao Jornal do Carro (Estadão) que "Os carros evoluíram, mas não com a periodicidade de antes. As montadoras lançam novas séries a todo tempo. Por isso, hoje o consumidor exige evolução. E os carros tendem a ser cada vez mais um celular sobre rodas".

EVARISTO SA / AFP

Vice-presidente Geraldo Alkmin - EVARISTO SA / AFP

Para ele, O preço baixo não é mais o objetivo das montadoras. É um fenômeno mundial. Atualmente, o conteúdo tecnológico se tornou imperativo na disputa entre as marcas e modelos.

Tem mais, diz Martins: Não é só a alta de preços que compromete a indústria automobilística no momento. Não houve adequação ao novo nível de mercado. O custo de financiamento dos veículos novos disparou.

Ou seja, nossa taxa é mais consequência global que nacional. “O problema é que temos uma população com baixo poder de compra e um custo financeiro elevado”, sintetiza o professor da FGV.

Além disso, tem um fator determinante nessa questão: o custo do dinheiro para o consumidor comprar o carro que em 60 meses estoura o orçamento do cliente. Hoje, o consumidor está pagando taxas de 1,26% ao mês (13,73% ao ano) até 3,83% ao mês (57,01% ao ano). E mesmo que, na média, as taxas sejam de 2,05% ao mês (27,505) ao ano, como é o caso dos bancos Itaú e Bradesco, a prestação é muito alta para o cliente pagar por um carro de baixa qualidade.

Outro ponto importante é que dos 10 carros mais vendidos no Brasil, apenas o Fiat Mobi está na lista, ocupando o quinto lugar. Segundo a Fenabrave, os líderes de vendas são o Fiat Strada (R$ 112.456,00); Hyundai HB20 (R$ 96.255,00); Chevrolet Onix (R$ 85.252,00); Chevrolet Onix Plus (R$ 75.243,00) e o Fiat Mobi (R$ 72.756,00)

Nenhum desses fatores parece desanimar o governo Lula, que quer um carro para chamar de seu. Embora para algumas montadoras e para os concessionários, o tema é visto com certa urgência em um momento de queda de vendas, fábricas suspendendo a produção e sindicatos de trabalhadores temendo demissões.

Mas baixar os preços de um carro no Brasil não interessa a todas as montadoras e certamente não serão todas que vão participar. Tomando-se por base quem está no mercado dos produtos mais baratos, é possível prever que ao menos quatro montadoras possam estar nessa nova onda de carro popular.

A Renault com o seu Kwid Zen, que custa R$ 68.990; a Stellantis Fiat Mobi, que custa R$ 68.990, a Citroën com o modelo básico do C3, que custa R$ R$ 72.990, e a Volkswagen com o Gol 1.0, cujo preço é de R$ 78.160. E, talvez, a coreana Hyundai HB20 Sense 1.0, cujo preço de partida é R$ 82.290.

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