Governo indica que já decidiu em favor da Petrobras; Marina Silva terá que lutar sozinha para manter ministério inteiro
Não faz sentido que Marina Silva tenha que defender sozinha seu ministério na comissão do Meio Ambiente da Câmara. O Governo não se pronunciou sobre o caso.
Como explicar que, numa situação estratégica como a questão do processo de licenciamento ambiental do bloco FZA-M-59 em Amapá Águas Profundas para furar um poço exploratório, o presidente Lula tenha mandado o ministro Rui Costa, da Casa Civil, fazer "uma acareação" de Marina Silva, do Meio Ambiente, com o ministro Alexandre Silveira, das Minas e Energia?
O presidente já decidiu em favor da Petrobras, que deve refazer seu pedido para que o Ibama reanalise. Mas como sempre faz, deixa os seus auxiliares se esfaquearem em público para depois decidir, levando em conta o que lhe é mais conveniente.
Tem mais: como explicar que, após tomar conhecimento de que o relator da Medida Provisória (MP) da reforma administrativa, deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), apresente um projeto em que ela perde a maior parte de suas atribuições sem que, até a tarde desta quarta-feira, ninguém do governo tenha defendido a mudança enviada ao Congresso.
Não faz nenhum sentido que Marina Silva tenha que defender sozinha seu ministério na comissão do Meio Ambiente da Câmara, nesta quarta-feira?
Ora, o que Isnaldo Bulhões está propondo é que a nova estrutura do governo volte a ser como era no governo Bolsonaro. Isso desmoraliza todo o projeto do próprio governo Lula que se não reverter isso não vai poder continuar a fazer uma série de coisas.
Mas quem está defendendo Marina e o governo? A informação de que o relator escreveu seu relatório mexendo no Ministério do Meio Ambiente, transferindo o Cadastro Ambiental Rural (CAR), para o Ministério da Gestão e a Agência Nacional das Águas (ANA) passando a ser vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional não desmoraliza Marina Silva. Desmoraliza o governo Lula como um todo.
Que diabos de governo é esse que manda uma proposta de mudança de estrutura administrativa e um deputado do baixo clero - na condição de relator - decide mudar tudo e não tem uma resposta dura? E mais ainda que apoio o governo está dando para que os ministérios atingidos se defendam e façam pressão na casa?
O que parece claro é que Lula decidiu deixar à Marina Silva a tarefa de defender o seu espaço quando ela também tem que defender o Ibama e sua equipes da disputa com a Petrobras.
Numa situação normal, não seria Rui Costa quem teria que definir isso. É uma coisa grande demais para a Casa Civil. Tanto que enquanto Marina Silva defendia a integridade das atribuições de seu ministério, Alexandre Silveira estava defendendo o projeto de exploração de petróleo na Foz do Amazonas pela Petrobras. Segundo ele, a decisão do Ibama que indeferiu a licença ambiental é "inadmissível".
Ora, o ministro da Minas e Energia não estaria falando nesse tom se não tivesse respaldo, no mínimo de Rui Costa. Parece claro que o governo já não vê em Marina Silva aquele certificado internacional de qualidade na defesa da Amazônia. E que se ela sair quem está disposto a ajudar o Brasil vai continuar ajudando porque esse é assunto de estado não de ministro.
Marina dá charme, mas não é insubstituível. E se Lula diz que a Petrobras não vai furar o poço de pesquisa ela fica maior que ele. E alguém acha que Lula quer alguma sombra atrapalhando o seu sol.