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Brasileiros trocam carne bovina por suína, que ficou mais barata

Os preços da carne bovina ao consumidor começaram a se elevar em 2020

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Fernando Castilho

Publicado em 13/06/2023 às 12:13 | Atualizado em 13/06/2023 às 12:37
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Considerado um dos países que mais consome proteína animal, o Brasil vem observando uma mudança extraordinária no consumo das carnes de boi, frango e suíno nos últimos anos, especialmente por uma maior oferta decorrente da busca de empresas brasileiras pela exportação o que acaba aumentando a oferta de produtos de melhor qualidade.

Entretanto, devido à inflação e aos altos preços, o consumo de proteínas durante as refeições tem caído: enquanto a retração no mercado de alimentos e bebidas foi de 6% no primeiro trimestre de 2023, sobre o mesmo período de 2022, a diminuição nas ocasiões de consumo de proteínas foi ainda maior: -9%.

A principal responsável pelo novo cenário foi a carne bovina, que ocupava 43,1% do share de ocasiões no primeiro trimestre de 2021 e agora está com 39%. Não é um fato isolado. A trajetória de queda já era sinalizada no mesmo período de 2022, quando o consumo havia diminuído para 40,5%.

O consumo de carne bovina no Brasil caiu mais uma vez em 2022, pelo 4º ano consecutivo. No período, o consumo da proteína animal chegou a 24,2 quilos por habitante, o menor patamar desde 2004 segundo a Consultoria Agro do Itaú BBA.

Divulgação

Produção de Carne suina no brasil. - Divulgação

Os preços da carne bovina ao consumidor começaram a se elevar em 2020, o que fez muitos brasileiros tirarem a proteína do prato. O aumento da pobreza e a queda na renda durante a pandemia também impactaram a redução do consumo.

Enquanto isso, no caminho inverso está a carne suína, que passou de 4,6% para 7,6% e depois para 9,1% nos mesmos intervalos. Na verdade, o consumo de carne suína no primeiro semestre de 2022 bateu um recorde histórico no Brasil.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram consumidos, em média, 18 kg per capita entre janeiro e junho deste ano. A quantidade representa quase um quilo a mais do que o registrado no mesmo período de 2021 (16,9 kg).

Os dados divulgados pela Associação Brasileira de Proteína Animal – ABPA em seu relatório anual aponta que a produção brasileira de carne suína atingiu 4,7 milhões de toneladas, equivalendo a incrementos de 6% no ano e de 38,4% em 10 anos.

A distribuição desse volume no mercado interno e externo mostra que houve pequeno incremento na destinação para o mercado internacional que detinha 23% em 2020 e passou a 24,2% em 2021. Mesmo assim, a produção direcionada para o mercado interno proporcionou novo aumento no consumo per capita que atingiu novo recorde no setor.

O resultado foi um incremento anual de 4,4% no consumo de carne suína pela população brasileira que passou de 16 kg em 2020 para 16,7 kg em 2021.

Curiosamente, as proteínas mais baratas, como salsichas e linguiças, que se destacaram em 2022, perdem importância na mesa dos brasileiros no curto prazo. Por sua vez, os peixes e frutos do mar demonstraram estabilidade de 2022 para 2023, apesar de terem sofrido uma queda entre 2021 e 2022.

Mas houve movimentação em outros produtos. As carnes de aves, que também sofreram retração de consumo em 2022 com a alta dos preços, agora se recuperam, passando de 25,9% do share (mercado) para 28,6%.

Na verdade, segundo o coordenador do centro Insper Agro Global, Marcos Jank, há uma migração da carne bovina para a carne de frango e carne suína. Enquanto o consumo de proteína bovina caiu de 35kg para 24kg por habitantes/ano, a carne de frango só cresceu na mesa do brasileiro, atingindo 45kg habitantes/ano e a carne suína aumentou para 18kg a habitantes/ano.

"Um dado bastante relevante é que, quando somamos todas as carnes, temos um consumo de 100kg de carne habitantes/ano, o que demonstra que, apesar de termos desigualdade social, vemos um consumo equivalente a países mais ricos, comprovando que o Brasil disponibiliza estas proteínas com preços acessíveis", diz o analista.

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