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Porto Digital vê chegada da B3 com Neurotech como "megapitch" do ecossistema no mercado financeiro

A Neurotech, fundada há 20 anos por engenheiros que vieram do projeto de TI que criou o Hipercard, do então Grupo Bompreço, viu uma oportunidade no negócio de segurança de crédito

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Fernando Castilho

Publicado em 20/06/2023 às 17:10 | Atualizado em 20/06/2023 às 23:57
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No setor de tecnologia da informação, o pitch é uma espécie de teste de fogo de uma startup que busca investidores para receber dinheiro para ampliar sua pesquisa, mirando escalar no mercado e, num horizonte infinito, virar um unicórnio como são classificadas as empresas que, de tão promissoras, poder valer até R$ 1 bilhão.

Para o Porto Digital, iniciativa pernambucana que se transformou num ecossistema de empresas que juntas faturaram, ano passado, R$ 4,75 bilhões e geraram emprego mais de 17 mil profissionais, alguns movimentos de fusões e aquisições se destacam pelo que podem agregar de valor conjunto de empresas ali instaladas e acabam atraindo as atenções de grandes companhias e líderes de segmentos. O caso da aquisição pela B3 (Bolsa da Valores de São Paulo) da Neurotech é um desses negócios que faz o bairro se agitar.

A B3 comprou a Neurotech, uma companhia de desenvolvimento de sistemas e soluções de inteligência artificial para avaliação de crédito, riscos e seguros, pagando R$ 500 milhões com promessa de pagar mais R$ 500 milhões mirando um faturamento de R$ 3 bilhões em cinco anos. Mas o que interessou aos empresários e profissionais do setor é o que ela pode abrir em termos de portas para outras startups e empresas com potencial de reproduzir o fenômeno Neurotech.

A Neurotech, fundada há 20 anos por engenheiros que vieram do projeto de TI que criou o Hipercard, do então Grupo Bompreço, viu uma oportunidade no negócio de segurança de crédito se processasse dados de milhões de clientes armazenados em diversos bancos de dados das empresas-clientes e, a seguir, disponíveis em nuvem, que a tornou diferenciada por entregar soluções que permitiram a dezenas de empresas atuar com mais segurança de pagamento.

Ela já desenvolveu mais de 1.000 sistemas usando o conceito de inteligência artificial quando o termo nem existia. E nos últimos, começou a se destacar em segmentos como financeiras, bancos, seguradoras e agora empresas de planos de saúde interessadas em o que pode mfazer com as informações de seus clientes primeiro para receber o que vendem e depois pelo que eles podem gerar de novas oportunidades dentro da companhia.

Foi isso que a B3, conhecida como a Bolsa de Valores do Brasil, viu. Na verdade, a B3 é uma das principais empresas de infraestrutura de mercado financeiro no mundo, com atuação em ambiente de bolsa e de balcão. Ano passado, ela obteve um lucro líquido de R$ 1 bilhão sobre uma receita líquida de R$ 2,3 bilhões, o que a transforma num negócio de enormes possibilidades no próprio setor de companhias abertas que ela administra.

O que pouca gente sabe é que a B3 é dona de uma conjuntos de empresas que inclui além das operações de pregão de ações um banco, operações em outras bolsas de outros países e diversas empresas de gestão de dados com a Neowsy de Floranópolis (SC) e, ano passado, a Neurotech do Recife (PE) mirando nos serviços que presta, entre eles, o de redutor de risco de crédito.

Para o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, ter a B3 dentro do bairro do Recife, e com um parceiro como a Neroutech é uma enorme oportunidade de, primeiro acessar possíveis parceiros que já estão na B3, e em segundo, mostrar à B3 gente possa vir a ser um novo negócio padrão Neurotech.

Erika Guerra

Gestor de startups Pague Bem Brasil no pitch com a B3 - Erika Guerra

Ele já levou nesta terça-feira (20) à presença das diretorias de governança da B3 e sua VP de Novos Negócios, ao menos, seis empresas abrigadas no Porto Digital (Pague Bem Brasil, Grupo de Pesquisa de Finanças, Fast Soluções, FBR Digital, Kalea e Pitang) para se apresentarem numa bateria de pitch que nenhuma delas teria diante de um potencial investidor.

A B3 despachou para Recife ninguém menos que sua nova VP de Novos Negócios, Ana Clara Abraão, para uma espécie de intensivo de Porto Digital de modo a identificar possíveis oportunidades, o que, no caso da Neurotech, levou dois anos, tempo em que ela virou uma grande fornecedora de serviços.

Erika Guerra

Luiz Falbo da Kalea no pitch da B3 - Erika Guerra

Clara Abraão revelou-se impressionada com o que encontrou, não só na Neurotech, mas no ecossistema que existe no bairro do Recife e o tipo de negócio que se faz ali hoje. E disse que a B3 deseja uma aproximação entendendo o outro lado.

O presidente da Neurotech, Domingos Monteiro, que fechou a venda da companhia com a proposta de que ela transforme-se num centro de desenvolvimento de produtos e de novos negócios, disse que a diferença da B3 de outros interessados com quem conversou é que ela quer que sua companhia ajude a sua estratégia de ser uma usina de geração de dados, certamente o ativo mais importante depois que o conceito inteligência artificial virou moda e que a Neurotech conhece melhor que a maioria do mercado.

O que conversas futuras com possíveis investidores - tendo a B3 como cartão de visitas - podem ajudar muito ao Porto Digital não perder posição num mercado onde cada vez mais estados querem um ecossistema de TI para chamar de seu.

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