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Imagine o SantaCruzbet? Nova legislação do "mercado de bets" pode ser a salvação do "Mais Querido"

Eliminação do Santa Cruz na Série D mostra que marcas fortes resistem ao tempo, mas não a administrações de baixa qualidade.

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Fernando Castilho

Publicado em 25/07/2023 às 14:16 | Atualizado em 25/07/2023 às 21:35
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Se alguém perguntar a qualquer gestor de marcas do Brasil, vai ouvir que a do Santa Cruz Futebol Clube é uma das melhores do Norte e Nordeste. Talvez perca para o Sport, o Fortaleza e o Bahia. Mas com certeza está entre as cinco da Região.

Isso acontece porque a marca Santa Cruz tem mercado. Pode-se dizer que é C, D e E. Mas, exatamente, por isso é que ela tem valor como ícone publicitário e de mercado no futebol.

Apesar de todo esse potencial, o dono dela, o Santa Cruz Futebol Clube foi eliminado da série D e corre o risco de além dos cinco meses que tem pela frente sem jogar, iniciar 2024 com um reduzidíssimo número de jogos. O histórico do clube começou em 2017 quando saiu da Série A até chegar em 2023 ao que pode-se chamar o alçapão do fundo do poço.

Mas porque o Santa Cruz em apenas sete anos saiu da elite do futebol brasileiro e entrou para o grupo de clubes SAF (Sem Atividades Futebolísticas) como está sendo agora classificado "O mais querido de Pernambuco?"

Essencialmente por má gestão. Ou, pelo que alguns analistas chamam, da mistura do CNPJ do clube com o dos dirigentes. Isso acontece quando um empresário mal sucedido e, em dificuldades na sua empresa, decide disputar a eleição do clube de modo que pela condição de diretor do clube acessar autoridades. Às vezes isso ajuda muito. E é bem diferente de um empresário que bem sucedido alavanca ainda mais seu negócio pela mesma exposição. Mais ainda se associar sua imagem ao clube nas vitórias.

Lei da SAF

Mas no Brasil, que cada vez mais discute o possível mercado das Sociedade Anônima do Futebol (SAF), tipo específico de empresa instituído pela Lei no 14.193, de 6 de agosto de 2021 tem também o instrumento da Recuperação Judicial quando o clube tem a possibilidade não pagar suas dívidas com a proteção da Justiça.

É uma situação bem cômoda porque o presidente não é afastado e pode continuar no comando como administrador judicial. Ou seja, pode chamar os credores e tentar resolver as pendências com a proteção da lei. Talvez o futebol brasileiro precise também de uma lei que regularize as especificidades de uma RJ de clube de futebol.

O caso do Santa Cruz é bem ilustrativo. Ele é dono de uma marca espetacular, mas a sucessão de maus gestores foram empurrando o clube de categorias abaixo. Até que caiu da série D. Isso tem a ver como o clube é gerido.

Ou como não cuidou de valorar sua marca e como ao longo do tempo. Os seus associados foram deixando essas pessoas se aproveitarem do clube. Inclusive, alavancando a carreira política de alguns deles. Em todos os casos, essas pessoas eram empresários ruins no seu ofício ou eram políticos medíocres sem empressão.

Isso explica porque o Santa Cruz foi sendo "tocado" fazendo contratações de jogadores sem proteção do clube, abriu espaços para empresários se aproveitarem na contratação de atletas que miravam questões trabalhistas enquanto a marca estava se deteriorando. O clube perdeu valor de mercado essencialmente por má gestão. E essa má gestão destruiu o potencial de negócio do Santa Cruz e de gerar receitas.

É uma ironia como por tantos anos o clube foi perdendo um pouco a cada ano. E como atrair maus empresários e dirigentes. Até porque os de sucesso (apesar de bancarem as contas) jamais aceitaram tocar o negócio Santa Cruz. Alguém duvida do potencial que a marca pode agregar para centenas de produtos?

Ações da Bolsa

A crise do clube do Arruda é uma coisa ruim porque, neste momento, o futebol brasileiro ruma ao IPO. Ou seja, existe um modelo de negócio tão promissor que consultorias internacionais como a KPMG desenham modelos de oferta pública de ações (IPO) o que significa acessar inúmeros benefícios, financiar planejamento estratégico, endereçar questões societárias e melhorar padrões de governança. Pouca gente sabe, mas no mundo aos menos 22 clubes funcionam com capital aberto em bolsa.

Calma. Ninguém acha que o Santa Cruz pode pensar num IPO. Imagina o "Mais Querido" poder vender somente uma fração do negócio, sem perder o controle da gestão? Imagina a distância que sua gestão tem em relação aos principais requerimentos, aspectos de governança corporativa, segmentos de listagem da B3?

Mas é bom lembrar. Em 2005, o Colo-Colo, do Chile, tornou-se o primeiro time de futebol da América do Sul a abrir capital, levantando US$31,7 milhões de dólares com a oferta inicial de parte das suas ações na Bolsa de Santiago. E somente sete anos depois, o Manchester United-ING foi além, ao se transformar no primeiro clube a negociar suas ações no exterior.

Isso prova que no Brasil, o potencial é enorme. Torcedores podem se converter em investidores. Cada um dos clubes da Série A tem faturamento superior a pelo menos 100 empresas listadas na B3, que tem mais de 6 milhões de pessoas físicas num mercado de quase R$3 trilhões de recursos de investidores em bolsa.

Excluindo-se os cinco grandes de maior torcida, nenhum tem a mesma força da marca do Santa Cruz junto a sua torcida. O que significa dizer que, independentemente da classificação nos quatro campeonatos nacionais, o clube tem potencial de mercado.

Então, como ajudar o Santa Cruz a sair do piso do alçapão depois do fundo do poço? Talvez seja necessário começar chamando gente com capacidade de gestão e de gerenciamento de marca para tomar conta do principal ativo do clube: a marca Santa Cruz.

Lei das bets

Sem jogar, sem ter como investir, sem ter, sequer, dinheiro para pagar suas dívidas, o Santa Cruz só tem o caminho de vender sua marca ao seus torcedores enquanto busca uma gestão profissional. E, quem sabe, aproveitar a nova legislação da Medida Provisória (MP) nº 1.182/2023 para regulamentar as apostas de quota fixa, conhecidas como “mercado de bets” para se reorganizar.

Imagina o SantaCruzbet? Alguém tem dúvidas de que sua torcida não iria preferir suas apostas apenas para erguer o clube? Até porque o Barcelona e o Real Madrid mantêm parcerias publicitárias com duas empresas do segmento, tendo alcance mundial.

Portanto, senhores tricolores. Façam suas apostas

 

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