Promessa de compra de 25 navios da Transpetro faz setor naval sonhar com encomendas dos governos do PT
Com o programa TP 25, a Transpetro prevê a contratação de pelo menos 25 embarcações para cabotagem
Principal patrocinadora da maior feira de negócios da indústria marítima da América Latina (Navalshore), que acontece no Expo Mag, no Rio de Janeiro, esta semana, a apresentação do presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, já na abertura do encontro, era a mais aguardada por ser a primeira manifestação ao setor do Governo Lula e, certamente, uma das primeiras em que a estatal de transporte se dirigia ao setor após os problema em que esteve envolvida no escalá-lo da Petrobras.
E Bacci não decepcionou. Disse que a companhia pretende lançar em janeiro de 2024 o edital para contratação de 25 navios que serão construídos no Brasil para ampliar sua frota própria.
Ele não disse qual o volume de recursos que a empresa vai alocar para a compra, mas disse que “para tornar a indústria mais forte, é necessária uma política de estado de longo prazo, que inclui linhas de créditos acessíveis, regras adequadas de conteúdo local e encomendas públicas e privadas perenes.
“Estamos desenvolvendo, em conjunto com a Petrobras, o programa TP 25, que prevê a contratação de pelo menos 25 embarcações para cabotagem, apoiando dessa forma a geração de encomendas de médio e longo prazo no Brasil” , disse o executivo.
Embora a afirmação remete para decisões da própria Petrobras no seu plano de investimento 2024-2027, a notícia dele não poderia ser melhor para o setor, que festejou a perspectiva de o Governo Lula voltar a fazer encomendas, embora evite falar dos problemas gerados em 2010, quando a mesma Transpetro, sob a liderança de Sérgio Machado, lançou um pacote de encomendas de navios com o desafio de tecnologia nacional - que de tão grande exigiu a construção de ao menos três plantas novas (Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco).
Sérgio Machado ficou conhecido por entregar o primeiro petroleiro construído no Estaleiro Atlântico Sul em Suape ao lado da presidente Dilma Rousseff e do próprio presidente Lula, e de devolver nada menos de R$ 25 milhões que confessou ter recebido de empreiteiras ligadas ao setor naval. Ele foi chamado de “delator-bomba” da Operação Lava Jato, por ter devolvido 6 milhões de libras.
O montante foi acertado no acordo de delação premiada fechado pelo executivo com o Ministério Público. Pelo acordo, ele cumprirá uma pena máxima de 20 anos quando for condenado, mas cumprirá apenas 3 anos em prisão domiciliar.
No dia 25 de maio, Sérgio Machado, ao lado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, os presidentes da Petrobras, Graça Foster, lançou o João Cândido, o primeiro navio construído no Nordeste para o programa de modernização e expansão da frota da Transpetro.
Mas na Navalshore 2023, o passado do setor naval nos governos do PT está esquecido. Na verdade, dos antigos participantes da mesma feira no boom do setor no segundo governo Lula e no primeiro de Dilma, apenas o Estaleiro Atlântico Sul e o Estaleiro Mauá estão presentes na feira.
O Atlântico Sul atualmente na condição de Recuperação Judicial espera entrar na disputa das encomendas dos 25 navios, que o seu principal cliente no passado lhe encomendou e que entregou até 2014.
Na feira e no seu discurso, Bassi revelou que o governo federal criou a Comissão Interministerial de Inovações e Aquisições, e a companhia levará sugestões que atendam ao setor naval e offshore. E que a companhia buscará a viabilização de linhas de crédito, a requalificação da mão-de-obra para atender às encomendas que chegarão aos estaleiros e a compreensão de como se dará a transição energética são os alicerces necessários para essa tão esperada retomada.
Ele também afirmou e enfatizou no evento que a companhia pode ser um ator importante para apoiar países que estão se desenvolvendo na questão logística. “Vamos buscar novos clientes no Brasil ou no exterior. Estamos conversando com representantes da Argentina e da Guiana, entre outros países. E admitiu que a estatal já tem clientes privados para operações Ship to Ship e Barge to Ship.”
A companhia negocia atualmente a assinatura do primeiro memorando de intenções internacional com a Suriname's National Energy, Oil and Gas Company (Staatsolie), estatal do Suriname que poderia ser, entre outras coisas, transportadora do petróleo explorado na Margem Equatorial, embora não tenha sido feita essa associação.
O presidente da Transpetro sabe que todas as vezes que fala de contratação de novas embarcações, a primeira lembrança que o público faz é dos problemas da estatal no Petrolão. Hoje a companhia opera 49 terminais (28 aquaviários e 21 terrestres), cerca de 8,5 mil quilômetros de dutos e 36 navios. A empresa é a maior companhia de logística multimodal de petróleo, derivados e biocombustíveis da América Latina.
Ela presta serviços a distribuidoras, à indústria petroquímica e demais empresas do setor de óleo e gás. A carteira da maior subsidiária da Petrobras conta com mais de 170 clientes.
O anúncio da volta das contratações pela Transpetro vem animando o setor naval desde junho, quando as diretorias do Sinaval (Sindicato Nacional da Indústria da Construção Naval) e da Petrobrás.
Na ocasião, foi apresentada a capacidade de construção de sondas, navios e plataformas pelos estaleiros brasileiros, bem como a possibilidade de eles fazerem a manutenção dessas embarcações.
Um dos temas que vai estar presente é a adoção de motores mais modernos das embarcações da Transpetro que usem por exemplo combustível marítimo com 24% em volume de conteúdo renovável – o chamado bunker com conteúdo renovável – ao abastecer navio afretado pela companhia, posicionado no Terminal do Rio Grande (RS), da Transpetro.
Em uma análise preliminar, o percentual estimado de redução de emissões de gases de efeito estufa é de cerca de 17% em volume, em comparação ao bunker 100% mineral, considerando o ciclo de vida completo do produto.