De um problema de saúde, HR virou problema social que vai repercutir na imagem de gestão do governo do estado
Dezenas de pessoas continuam na recepção e precisam agora pagar R$3 para recarregar seus aparelhos nas lojinhas da praça de alimentação na frente do HR.

Recomenda-se aos secretários de Saúde, de Fazenda e de Comunicação uma visita ao Hospital da Restauração. De preferência à noite sem comunicação prévia à direção da unidade. É importante levar máscaras N95.
Será uma experiência transformadora - como, aliás, foi para o colunista - que visitou o HR na companhia do então secretário de saúde, Guilherme Robalinho ainda que ele desejasse mostrar melhorias que sua pasta estava começando a fazer.
Certamente, os três gestores vão se surpreender com coisas chocantes e até bizarras já recepção cujas tomadas de energia foram desligadas com o argumento de que os parentes dos pacientes não pudessem recarregar celulares e assim não permanecessem no hall.
Não funcionou porque sem ter lugar para serem abrigadas, dezenas de pessoas continuam na recepção e agora precisam agora pagar R$3 para recarregar seus aparelhos nas lojinhas da praça de alimentação na frente do HR.
Uma vez dentro da unidade, seria importante não deixar de visitar a área da emergência geral onde normalmente estão alojadas pessoas em macas do SAMU, macas servindo de camas e uma superlotação das camas hospitalares que deixa o setor superlotado.
Uma visita aos demais setores eles poderão ver que a situação dos andares não é muito diferente, à exceção da unidade de queimados e da área da pediatria que também sofrem com ocupação limite permanentes. Curiosamente, a Central de Leitos do estados que funcionou tão bem na pandemia parece não cuidar do volume de remete, via prefeituras, para o HR.

Mas é na emergência geral onde efetivamente a secretaria de saúde precisa rever todos os processos a começar pelo setor de admissão onde o que se observa é a velha prática da “ambulancioterapia” que em bom português se resume na remessa para o HR dos casos mais graves e que exigem internações para avaliação de quadros mais graves embora o estado não raro paga os custos de uma internação, por dias e até semanas, de pacientes que precisam de um exame mais complexo de radiologia.
O HR é um caso especial onde o estado mantém por dias pacientes que poderiam ser transferidos para unidades de apoio, pacientes que exigem cuidados paliativos e pacientes à espera de cirurgias eletivas que o gerenciamento mais moderno o levaria para as demais unidades. E isso acontece no mesmo prédio onde se fazem mais cirurgias de cabeça e emergência de ortopedia decorrentes de acidentes.
Uma observação mais atenta poderia fazer os secretários poderem constatar que a atitude das prefeituras de simplesmente despachar os pacientes de casos mais graves para o Recife. O problema é que após a internação, os acompanhantes ficam na recepção sem ter onde se alojarem, passando a literalmente viver como pessoas sem teto.
É importante observar que sobre qualquer olhar o HR é uma unidade diferenciada. Sozinha, ela custa, por ano, mais de R$120 milhões. E sua equipe é maior que a população de alguns municípios de Pernambuco. Isso está na avaliação de 100 dias que a vice -governadora Priscila Krause fez e tomou várias páginas. Até porque ela esteve lá.
Portanto, a questão do HR é talvez uma das mais centrais na secretaria da Saúde. Não dá para a equipe achar normal que todos os dias cenas de desrespeito aos direitos dos pacientes viralizem na Internet. E não é suficiente a remessa de notas assépticas e inodoras lembrando as ações que estariam sendo feitas quando se sabe que os serviços não estão sendo feitos.
A questão do HR é capaz de erodir a imagem da gestão da governadora Raquel Lyra como nenhum outro porque ele usou a saia crise na campanha para o governo.

No governo Eduardo Campos após identificar uma situação caótica na mesma secretaria de Saúde o governador despachou para lá o vice-governador João Lyra. Ele concluiu que seria melhor refundar a pasta e assim o fez transferindo-a para a sede atual quando passou a ter todos os processos informatizados.
Não é razoável defender que o HR precise ser “refundado” em outro endereço. Mas é bom o governo saber que em termos de imagem, a sua crise já repercute na imagem do governo nas mídias sociais na medida em que mais vídeos da emergência do HR estão sendo postados.
