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Petróleo se aproxima do US$ 100 e Petrobras terá que decidir se nova política de preços aguenta preços

Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis - Abicom - apontou nesta segunda-feira que existe uma defasagem média de -13% no Óleo Diesel e de -9% para a gasolina

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Fernando Castilho

Publicado em 18/09/2023 às 15:10 | Atualizado em 18/09/2023 às 19:45
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Na última sexta-feira (15), os preços do barril do petróleo praticado pelos países da Opep chegaram aos US$ 96,97. Comparado aos preços do primeiro dia de Governo Lula (US$ 81,62), significa uma elevação de US$ 15,35. Ou US$ 21,48 em relação ao mês de junho, quando a Petrobras anunciou a mudança da política de Paridade aos Preços Internacionais, instituída no Governo Michel Temer, depois do escândalo do petrolão.

Pela nova política anunciada pela Petrobras, os preços seriam defendidos de modo a considerar a participação da Petrobras e o preço competitivo em cada mercado e região, a otimização dos nossos ativos de refino e a rentabilidade de maneira sustentável.

PRAZO DOS REAJUSTES

Em junho, os preços do petróleo chegaram ao seu menor valor no ano, o que permitiu a companhia surfar na onda de preços baixos fazendo reduções - chegando a passar 87 dias sem praticar nenhum reajuste, depois de baixar os preços em 12,8% no dia 17 de maio de 2023.

Os problemas começaram em julho quando a OPEP simplesmente decidiu reduzir a produção de seus países membros, cujos efeitos começam a ser sentidos efetivamente agora com a consolidação da tendência de aumento de preços, que a cada semana se aproxima dos US$100 o barril.

Segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis  - Abicom, nesta segunda-feira, existe uma defasagem média de -13% no Óleo Diesel e de -9% para a Gasolina.

 

GUGA MATOS/JC IMAGEM
Gasolina no bairro de Afogados por menos de R$ 5 reais - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Isso quer dizer o seguinte: comparado ao dia 16 de agosto e tomando-se por base um barril de petróleo a US$ 94,00, o preço da gasolina no Brasil está R$ 0,30 mais barato que o preço praticado no mercado internacional o litro; enquanto o preço do diesel está R$ 0,60 por litro.

PREÇOS NO BRASIL

Os preços no Brasil não sobem pela tabela da Petrobras há 34 dias, quando a empresa deu um aumento linear médio de 25,8% na gasolina e de 16,2% nos preços do diesel. Mas no próximo dia 1º de outubro, com a volta da cobrança de PIS Cofins, os preços deverão ser reajustados apenas para essa tributação.

Pela nova política de preços da Petrobras, a empresa vai se adequar à uma precificação competitiva mantendo também um patamar de preço que garante a realização de investimentos previstos no Planejamento Estratégico.

O problema é que, como desde o último reajuste existe uma defasagem de preços, as empresas privadas deixaram de importar tanto dos fornecedores tradicionais como até da Rússia, através de companhia sediada em países que não se submetem aos embargos impostos ao país pela União Européia e Estados Unidos. Na prática, a Petrobras ficou sozinha com a missão de importar os dois produtos já que não consegue refinar tudo aquilo que o mercado demanda.

Em agosto, as unidades de Refino da Petrobras atingiram o patamar de 97,3% do chamado Fator de Utilização Total (FUT), chegando ao melhor resultado desde dezembro de 2014. A produção de diesel total no mês foi de 3,78 bilhões de litros, a maior em 2023. A produção de diesel S10, produto mais moderno, sustentável e com baixo teor de enxofre, atingiu 2,37 bilhões de litros no mesmo período.

As refinarias da Petrobras vêm atingindo recordes sucessivos no FUT desde maio deste ano. Seria muito bom se a companhia não precisasse importar o restante que o mercado exige.

GUGA MATOS/JC IMAGEM
Gasolina no bairro de Afogados por menos de R$ 5 reais - GUGA MATOS/JC IMAGEM

No primeiro semestre de 2023, a importação de gasolina pelo Brasil subiu 112% versus o mesmo período de 2022, para 2,45 bilhões de litros. Ela foi impulsionada por uma vantagem competitiva do combustível fóssil frente ao etanol hidratado nos postos. E essas importações sinalizam que a estatal Petrobras e a Acelen (antiga Refinaria Mataripe BA - privatizada em 2022) não estão conseguindo suprir todo o crescimento da demanda, mesmo num momento em que o combustível fóssil está mais competitivo que o etanol hidratado.

SEM POLÍTICA DE PREÇOS

A Petrobras deixou de falar em política de preços desde que lançou a nova abordagem e especialmente depois que precisou praticar seu primeiro reajuste de preços.

Mas com os preços do barril chegando a US$ 100, vai ficar muito difícil a estatal não fazer reajustes na sua tabela de preços, porque está ficando insustentável a despeito de todo o discurso de descarbonização e investimentos em novas fontes energéticas embora quatro de cada cinco reais que a empresa programa gastar nos próximos quatro anos seja em petróleo.

E parece que a Petrobras está procurando petróleo onde estiver mais barato mesmo. O Brasil acelerou para níveis recordes as compras de combustível da Rússia, que se consolida como principal fornecedor do país à medida que Moscou estabelece novos mercados após o veto da União Européia (UE).

As importações brasileiras de derivados de petróleo da Rússia devem saltar 25% em agosto comparada a julho, para cerca de 235.000 barris por dia. Embora a empresa não comente se está se abastecendo naquele mercado através de operações triangulares. Na pratica, os preços do combustível russo importado pelo Brasil em US$ 10 a US$ 15 o barril.

Embora no campo diplomático, o Brasil tente assumir posição neutra sobre quem é o culpado pela guerra, desde junho, a Rússia também começou a fornecer gasolina ao Brasil. Faz sentido, o Brasil é o maior mercado latino-americano, então as refinarias russas estão focadas no fornecimento para o país. O Brasil se tornou o segundo maior comprador de diesel russo no mundo, atrás apenas da Turquia, de acordo com um estudo da consultoria Kpler especializada em petróleo e gás.

No final da tarde a Petrobras enviou uma nota onde nega que tenha importado combustivéis da Russia o que seria, tecnicamente, uma violação das sanções determinadas pelas comunidade internacional.

Segundo a companhia, o mercado brasileiro de diesel em 2023 tem apresentado crescimento quando comparado ao ano anterior. "Este crescimento da demanda nacional vem sendo atendido tanto pela Petrobras quanto pelos demais produtores e importadores diretos de diesel que atuam no mercado brasileiro".

A nota afirma que "Conforme monitorado e relatado na imprensa especializada, o diesel de origem russa tem sido uma das fontes de produto importado para o Brasil. A Petrobras não tem importado diesel nem gasolina russos."

 

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Posto de gasolina no Espinheiro. - GUGA MATOS/JC IMAGEM

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