Capacitismo de Lula ignora realidade de um Brasil que tem 17 milhões de pessoas com deficiência
Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) mostra que apenas 1% dos profissionais contratados em regime CLT.

O presidente Lula da Silva disse ao se referir ao período pós-operatório de cirurgia que se submeterá nesta sexta-feira que vocês não vão me ver de andador, de muleta, vão me ver sempre bonito, como se eu não tivesse sequer operado".
O presidente expõe o que pensa sobre as diversidades humanas que levam pessoas a terem diferenças físicas e não se pode dizer que foi um derrapada, algo dito "sem pensar", ou uma licença poética, e desconhecimento. Ou uma brincadeira questionável de humor de baixa qualidade. O presidente se revela capacitista.
E esquece que o Brasil é um país que tem problemas sérios no tratamento da questão das Pessoas com Deficiência (PDC) e que segundo pesquisa do IBGE divulgada em julho afirma que temos 17,5 milhões de pessoas nessa condição.
E que cerca de 18,6 milhões de pessoas de 2 anos ou mais de idade do país (ou 8,9% desse grupo etário) tinham algum tipo de deficiência.
Em 2022, segundo os dados são do módulo Pessoas com deficiência, da Pnad Contínua, ao menos 47,2% das pessoas com deficiência tinham 60 anos ou mais de idade. Entre as pessoas sem deficiência, apenas 12,5% estavam nesse grupo etário.

Nesse segmento, a taxa de analfabetismo para as pessoas com deficiência foi de 19,5%, enquanto entre as pessoas sem deficiência essa taxa foi de 4,1%.
E mais: apenas 25,6% das pessoas com deficiência tinham concluído pelo menos o Ensino Médio, enquanto 57,3% das pessoas sem deficiência tinham esse nível de instrução.
Finalmente, a taxa de participação na força de trabalho das pessoas sem deficiência foi de 66,4%, enquanto entre as pessoas com deficiência essa taxa era de apenas 29,2%.
Na verdade, o mercado de trabalho para PCD tem muito ainda a evoluir no Brasil. Os dados mais recentes da Isso significa que elas são apenas 486 mil entre 46,63 milhões de pessoas com carteira assinada.
A desigualdade, portanto, persiste mesmo entre as pessoas com nível superior: nesse caso, a taxa de participação foi de 54,7% para pessoas com deficiência e 84,2% para as sem deficiência.
E o nível de ocupação das pessoas com deficiência foi de 26,6%, menos da metade do percentual encontrado para as pessoas sem deficiência (60,7%).
Segundo a Pnad Contínua 2022, cerca de 55,0% das pessoas com deficiência que trabalhavam estavam na informalidade, enquanto para as pessoas ocupadas sem deficiência esse percentual foi de 38,7%.
E finalmente está constatado que o rendimento médio real habitualmente recebido pelas pessoas ocupadas com deficiência foi de R$1.860, enquanto o rendimento das pessoas ocupadas sem deficiência era de R$2.690.
Segundo a analista da pesquisa Maíra Bonna Lenzi, a pesquisa mostrou que o percentual de pessoas com deficiência cresce com a idade.

Ainda segundo a PNAD Continua, 47,2% das pessoas com deficiência tinham 60 anos ou mais. Entre as pessoas sem deficiência, o grupo etário representou 12,5%. Esse padrão se repete em todas as Grandes Regiões, destacando as Regiões Sul e Sudeste, onde mais da metade das pessoas com deficiência eram idosos.
Entre 60 a 69 anos de idade, a maior prevalência foi da dificuldade para andar ou subir degraus (8,1%) que, por sua vez, teve o percentual ainda mais relevante para o grupo de 80 anos ou mais (33,5%).
Outro dado que o presidente ignora é que 5,1 milhões de pessoas com deficiência estavam na força de trabalho, mas 12 milhões estavam fora da força de trabalho no Brasil. E que a taxa de participação da força de trabalho entre as pessoas sem deficiência foi de 66,4%.
Segundo o Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no Brasil, há 768.723 vagas reservadas para PCDs. Delas, 712.829 estão em empresas privadas, 35.551 em empresas de economia mista e 20.343 na administração pública.
Entretanto, apenas 50.62% do total de vagas estavam ocupadas. E veja a discrepância entre o setor privado e o público. Isso quer dizer que enquanto o primeiro ocupa 52% das vagas, que já é uma fatia pequena, o segundo ocupa apenas 11,21%.
O comentário do presidente foi preconceituoso porque apesar das ações que o estado brasileiro vem fazendo, ainda temos um longo caminho pela frente para promover ambientes de trabalho mais igualitários e inclusivos.