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Certa de que terá incentivos fiscais, chinesa BYD assume fábrica da Ford na Bahia querendo liderar elétrico no Brasil

Mesmo sendo uma importadora e tendo apenas 30 concessionárias, ela vendeu 2.137 veículos, 603 carros deles num único dia.

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Fernando Castilho

Publicado em 04/10/2023 às 16:40 | Atualizado em 06/10/2023 às 15:02
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Se é verdade que a vida é feita de ciclos, a Bahia é um bom exemplo de como depois de uma perda industrial que, em fevereiro de 2021, fez sua produção ter uma queda de 20,9% - comparada a 2019 (quando a Ford encerrou suas atividades naquele estado), pode conseguir dar a volta por cima na economia.

Nesta quarta-feira (4), a Ford e o governo da Bahia formalizaram o contrato de transação para a entrega da fábrica de Camaçari para o Estado, liberando oficialmente as instalações para a chinesa BYD, que deseja ocupar o imóvel.

Foi o final de um processo que começou logo depois da crise do fechamento da planta da Ford, em Camaçari, em 2019, e que só se resolveu quando, este ano, o Governo do Estado simplesmente decidiu comprar as instalações da montadora como uma operação ponte para a chegada de outra montadora, desta vez focada apenas em carro elétrico.

NOVA PLANTA NO BRASIL

A unidade da BYD não será como foi a planta baiana para a Ford: apenas mais uma unidade. Será a porta de entrada no Brasil de uma das mais agressivas companhias automotivas da atualidade, e que no mês passado conseguiu a liderança na soma de todos os veículos eletrificados emplacados no País. Mesmo sendo uma importadora e tendo apenas 30 concessionárias, ela vendeu 2.137 veículos, 603 carros deles num único dia.

As concorrentes da BYD no segmento greentech, como Toyota - que vendeu 1.741 unidades - e a outra chinesa - GWM, com 1.307 – assim como as montadoras de veículos a combustão, já sabem que o Brasil será um novo palco da briga pelos modelos eletrificados, que em setembro venderam 6.488 veículos com preços médios de R$ 200 mil.

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Caoa Chery em Anapolis também quer produzir elçetricos hoje importados. - Divulgação


E mesmo tendo conseguido uma vitória no primeiro turno da reforma tributária na Câmara quando impediram a aprovação de um destaque que jogava para 2023 a isenção de veículos produzidos no Nordeste e Centro Oeste, as montadoras já instaladas no Brasil sabem que no Senado o texto será reincorporado ao projeto.

E desse modo não só a Jeep de Goiana que fabrica os modelos Renegade, Compass, Commander e pickup Touro vão continuar com benefícios fiscais. Como os modelos elétricos da BYD também serão produzidos pagando menos impostos. E isso é um desafio.

É que a BYD se tornou líder absoluta do mercado mundial e já vende mais carros que os modelos da Tesla, de Elon Musk, cujos carros custam bem mais caros que seus modelos. Mas ao contrário de Musk que, essencialmente, foca suas estratégias de vendas nos Estado Unidos e Europa, os chineses da BTG querem dominar o resto do mercado global.

O CARISMÁTICO WANG CHUANFU


Enquanto na Bahia o presidente global e fundador do grupo, Wang Chuanfu, a presidente para as Américas, Stella Li, e o presidente no Brasil, Tyler Li comemoravam a aquisição anunciando que vai produzir na Bahia modelos híbridos flex e elétricos, além de ônibus e até baterias de lítio, em Belo Horizonte (MG) a mesma empresa anunciava que prevê chegar a 200 concessionárias de sua marca no país até o fim de 2024 com expectativa é chegar a 100 lojas até dezembro próximo.

A diferença entre Wang Chuanfu e os demais presidentes de montadoras é que, a exemplo Musk, ele decide pessoalmente onde vai fazer suas apostas. E enquanto companhia como a Starlantis (que tem uma performance extraordinária nos carros que fabrica em Pernambuco) discute que o Brasil vai percorrer um caminho através do híbrido a etanol e elétrico, a BYD vai apostar na eletrificação pura com uma agressiva campanha de vendas.

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Fabrica Jeep Goana PE tem incentivos fiscais ate 2025. - Divulgação

A planta da BYD junto com a planta da Stellantis, em Goiana(PE) e as plantas da Caoa Chery, em Anápolis (GO), devem liderar o setor nos próximos anos com os chineses baianos assumindo posições no mercado nacional de automóveis de carros mais tecnológicos.

É nesse aspecto que a Bahia parece ter conseguido superar o trauma do fechamento de uma montadora em 2021 quando os americanos simplesmente fecharam a fábrica e foram embora do Brasil deixando um rastro de desemprego e frustração que o então governador Rui Costa (hoje ministro da Casa Civil) precisou administrar.

O novo jogo da indústria automotiva brasileira a partir desta quarta-feira ficou mais pesado e pode mudar se os chineses ampliarem as vendas de elétricos em lugar dos modelos a gasolina.

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