PETS - Cuidados com animais ganham força no varejo e mercado deve movimentar R$ 68 bilhões este ano
Em 2023, as despesas de tutores com medicamentos veterinários devem chegar a R$12,51 bilhões.
Com quase 150 milhões de animais de estimação (149,6 milhões, segundo o censo 2021, do Instituto Pet Brasil (IPB), o Brasil já é o terceiro país em número de animais domésticos no mundo. Considerando que os 209 milhões de brasileiros (70% da população) tem um pet em casa ou conhece alguém que seja tutor.
O ator de ter um animal de estimação virou um novo segmento da economia brasileira que deve faturar este ano perto de R$ 70 milhões (R 68,4 bilhões segundo a última estimativa do IPB que considera 2023 como o ano de menor performance de crescimento do setor com uma alta de 13,6% na comparação com 2022.
Se adotar um pet custa cada vez mais gastos com cuidados, a indústria de produtos e serviços tem se revelado cada vez mais um negócio com atuação presencial na contramão do discurso de home-office das empresas.
O segmento de alimentação pet, chamado de Pet Food, naturalmente corresponde a 55,6% do faturamento total do setor, devendo faturar R$33,48 bilhões, em 2023, constituído por milhares de micro e pequenas empresas. Os pet shops pequenos e médios continuam representando praticamente metade de todo o dinheiro movimentado pelo varejo pet, com 48,9%.
O fato novo é que o crescimento do segmento de clínicas e hospitais veterinários aparecem na segunda colocação, representando 18,3% do total. Este ano as despesas de tutores com medicamentos veterinários devem chegar a R$12,51 bilhões.
O tamanho dos dois segmentos se explica porque mesmo que as grandes empresas e o e-commerce venham tendo crescimento expressivo a proximidade do cliente com o pequeno varejo e mais ainda com o veterinário sustentam o relacionamento na ponta.
Claro que o e-commerce pet mantem sua fatia do mercado em 6,7%, acompanhando o crescimento do setor, com a prospecção de chegar aos R 4,6 bilhões no final de 2023. E esse valor é mais que o triplo do que o registrado antes da pandemia, em janeiro de 2020, quando tinha R 1,44 bilhão de faturamento.
Assim, a demanda por ambientes pet friendly, amigos de pets, tem se tornado crescente, junto à necessidade de uma ampla gama de produtos, como enxovais, carrinhos para passeio e até mesmo berços e creches para os animais de estimação.
O fenômeno é observado por um número crescente de pessoas que optaram por ter animais de estimação em vez de filhos. Esse movimento, conhecido como pet parenting ou parentalidade de animais de estimação, reflete uma mudança nos padrões de vida e nas prioridades das pessoas.
O pet parenting envolve a adoção consciente e responsável de animais de estimação, como cães e gatos, e a criação de um vínculo emocional forte e duradouro com esses companheiros de quatro patas.
O sociólogo e psicanalista, Wlaumir Souza explica que o fenômeno pet parenting está se tornando cada vez mais comum, devido às condições financeiras e ao encarecimento de ter um filho, além de uma mudança no modelo familiar.
O professor Sérgio Kodato, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto chama esse fenômeno moderno de humanização de animais e desumanização de crianças. “Essa perspectiva traz à tona uma série de reflexões e questionamentos sobre a maneira como estamos moldando nossas relações com os animais de estimação e os impactos que isso pode ter no desenvolvimento das crianças.”
Pode ser. Enquanto isso, o setor só cresce. Desde 2020, a taxa de crescimento vinha acima dos 15%, marcando 15,5% em 2020, 27% em 2021 e 16,4% em 2022. A última vez que esse valor ficou abaixo foi em 2019, quando registrou apenas 3%.
O presidente do Conselho Consultivo do IPB, Nelo Marraccini, defende inclusive mudanças na tributação. Para ele, o governo federal precisa considerar o mesmo para o Pet Food.
Pouca gente sabe, mas atualmente, a tributação supera os 50% na somatória de alíquotas, ou seja, R5 a cada R10 do que um cliente gasta é apenas para pagar os impostos”
Segundo ele, o setor Pet, composto pelos pilares criação, produtos e serviços para animais de estimação.
O setor gera mais de 3 milhões de empregos e movimenta uma cadeia com mais de 150 mil empresas.
Mas os números do setor também embutem problemas graves. O Brasil possui hoje 184.960 animais abandonados ou resgatados por maus tratos, sob a tutela das ONGs e grupos de Protetores.
Dos mais de 184 mil animais tutelados, 177.562 (96%) são cães e 7.398 (4%) são gatos. Os abrigos de médio porte destacam-se por tutelar mais de 60 mil animais. Portanto, são responsáveis por mais de 40% da população de pets disponíveis para adoção.
Estes exemplos não são casos isolados no Brasil. Segundo levantamento do Instituto Pet Brasil (IPB), em 2022, quase 185 mil animais abandonados ou resgatados após maus-tratos estavam sob a tutela de ONGs e grupos de protetores.
Apesar de termos lei para coibir e punir esse tipo de crime, o Brasil ainda está longe de ser um país que zela pelo bem-estar dos animais domésticos e silvestres. “O estado brasileiro caminha devagar no sentido de proteger os direitos dos animais” , avaliam os especialistas .