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Futuro terminal da Maersk abre perspectiva de Suape deixar de ser porto mais caro do Brasil na movimentação de contêineres

A Maersk é a maior companhia de transporte marítimo do planeta atuando verticalmente em todo o segmento da cadeia de logística desde a fabricação de navios até o serviço de transporte por contêineres.

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Fernando Castilho

Publicado em 16/10/2023 às 16:00
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A gigante Maersk anunciou formalmente nesta segunda-feira o seu compromisso de instalação de um novo terminal de contêineres no Complexo Industrial Portuário de Suape através de sua empresa APM Terminals, subsidiária da A.P Moller-Maersk, com investimento de aproximadamente R$1,6 bilhão.

O projeto tem previsão de iniciar as operações em 2026 e deve movimentar inicialmente 400 mil TEUs (medida-padrão utilizada para calcular o volume de um contêiner), por ano podendo ultrapassar a marca de 1,3 milhão de TEUs anuais quando estiver em pleno funcionamento.

Se confirmado essa operação na fase inicial o novo equipamento já se aproxima da movimentação média do atual Tecon Suape iniciando um movimento de competição não apenas no porto pernambucano, mas com impacto regional podendo transformar Suape efetivamente num hub de recepção de classe mundial.

A Maersk é a maior companhia de transporte marítimo do planeta atuando verticalmente em todo o segmento da cadeia de logística desde a fabricação de navios até o serviço de transporte por contêineres.

Miva Filho/ Secom
Governadora Raquel Lyra anunciou a instalação de um novo terminal de contêineres no Complexo Industrial Portuário de Suape. - Miva Filho/ Secom

A solenidade de assinatura do contrato teve a presença da a governadora Raquel Lyra como representante da gestora do Complexo Industrial e Portuário e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho que assinaram juntos a autorização para viabilização do empreendimento e do diretor-presidente da APM Terminals Suape, Aristides Russi Junior.

A previsão é de que no período da obra, serão gerados 500 empregos diretos e 2 mil indiretos. Quando estiver em operação, o terminal vai gerar 350 postos de trabalho diretos e 1,4 mil indiretos.

Segundo Russi Junior os estudos da APM Terminals, indicam que até 2030, Suape tenha aproximadamente 5% do share de movimentações no Brasil, um dado bastante relevante que reforça o potencial do atracadouro.

Atualmente o porto é o 6º em movimentação de carga do País e conta com localização estratégica, o que favorece a criação de rotas de longo curso (com origem nos estados e nos países da União Europeia) e o incremento no transporte de cabotagem, sobretudo entre os portos da região Norte.

"revocacionamento”

O novo terminal é resultado do que o Governo de Pernambuco chamou de "revocacionamento” dos estaleiros do cluster naval de Suape, após a venda de parte da área pertencente ao Estaleiro Atlântico Sul (EAS).

Divulgação
Área do futuro terminal da Maersk em Suape. - Divulgação


O diferencial do futuro equipamento em relação ao Tecon Suape operado pelo grupo filipino ICSI é que ele é um Terminal de Uso Privativo (TUP) operado diretamente pela controladora do equipamento pagando ao Porto de Suape apenas as taxas aduaneiras.

O Tecon Suape é concessionário do outro terminal, mas tem obrigações de pagamento de todas as taxas de remuneração do espaço, o que o transformou no maior gerador de receitas para o porto. Em 2022, o atracadouro movimentou 492.194,00 TEUs no Terminal de Contêineres do Porto de Suape.

No ano passado, ocorreu dentro do processo de Recuperação Judicial do EAS realizado em julho de 2022, a venda para a Maersk no valor de R$ 455 milhões de uma parte do sítio onde está localizado o estaleiro cujo diferencial é a existência de um cais que pode acomodar ao menos dois super navios porta contêineres.

Homologação

O resultado foi homologado pela Justiça Federal para o pagamento de parte do passivo aos credores do EAS que é controlado pelos grupos Queiroz Galvão e Camargo Correia.

Conforme perspectiva apresentada pela empresa no evento o modelo conceitual do novo terminal deve usar a faixa de cais que pertenceu ao EAS e que será seccionada dando acesso ao terreno já terraplanado onde a Maersk fará seu pátio de armazenamento de contêineres.

A separação do que no processo judicial se chamou de UPI-B Cais Sul e pelo qual foi pago o valor total de R$455 milhões permitirá a manutenção de todas as principais instalações do estaleiro que poderá operar normalmente, inclusive nos serviços de reparos navais, atividade que sem se concentrando.

Segundo o diretor-presidente da APM Terminals Suape, Aristides Russi Junior, o TUP Suape será o primeiro terminal 100% eletrificado na América Latina. Todos os equipamentos serão elétricos, com tecnologia e processos de ponta, como um sistema completo de gestão ambiental, gestão de resíduos, tratamento de águas residuais e modelagem de fluxo de águas subterrâneas para controle de poluição.

Na solenidade a Governadora Raquel Lyra disse acreditar que o investimento vai garantir maior competitividade para o Porto de Suape. E que a ampliação da oferta de serviços permitirá que Pernambuco se reposicione do ponto de vista logístico tanto para o Brasil quanto para o mundo.

A chegada do TUP da Maersk atende a uma velha reclamação dos empresários pernambucanos que usam serviços de portos com contêineres e que são obrigados a pagar a maior taxa de operação do país devido ao modelo de cobrança de serviços do Tecon Suape.

Operador sobre forma de concessão, o Tecon Suape remunera o Governo de Pernambuco pelo uso da área e pelo direito de exploração. O nível de cobrança chegou ao absurdo de ano passado o próprio governo de Pernambuco aceitou receber menos pela operação do Tecon de modo a não excluir o terminal do mercado de movimentação de cargas conteinerizadas.

A expectativa é que com o TUP o Tecon Suape inicie uma renegociação com o Suape para reequilibrar o contrato de modo a competir com a operação da Maersk.

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