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Prates não entendeu que no governo Lula só quem brilha é ele e pronto

Uma proposta desse tipo, primeiro, teria que ser desenhada, avaliada pelo governo, conversada com possíveis interessados e finalmente anunciada não por Prates, mas pelo próprio Lula.

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Fernando Castilho

Publicado em 04/12/2023 às 9:00
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O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates teve mais uma ideia. Imaginou uma subsidiária da empresa no Oriente Médio voltada para atuar de maneira integrada com países da região na área de insumos para fertilizantes.

Como não combinou com ninguém e muito menos com Lula, levou um corretivo do presidente ainda em Dubai onde participou da COP-28, que sorrindo disse que a cabeça de Prates “é muito fértil”.

E que não sabe dizer qual seria o interesse da estatal petrolífera brasileira em ter uma filial no Golfo Arábico. Detalhe: ao lado de Lula estava o seu chefe hierárquico, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira que não fala bem de Prates em lugar nenhum.
Constrangido tentou se explicar dizendo que a ideia (certamente dele) é fazer "investimentos cruzados" entre o Brasil e o país que eventualmente vier a abrigar a Petrobras Arábia.

Conversa. Uma proposta desse tipo, primeiro, teria que ser desenhada, avaliada pelo governo, conversada com possíveis interessados e finalmente anunciada não por Prates, mas pelo próprio Lula.

Jean Paul Prates se junta à galeria de integrantes do governo desautorizados no dia seguinte exatamente por não terem avaliado as repercussões e muito menos sem receber a aprovação do presidente. No começo de março, numa reunião da equipe deu uma “ordem unida” dizendo que no seu governo é proibido ter “ideias geniais”.

O problema de Prates é que ele sempre foi um vendedor de ideias. Desde que chegou no Rio Grande do Norte no governo Garibaldi Filho que ele vende ideias. Na época ele falou do potencial da energia eólica no estado que viria a ser o maior produtor brasileiro nessa matriz e o governador gentilmente disse que iria pensar sem nunca mais voltará a recebê-lo.

Persistente, ele conseguiu no Governo Wilma de Faria vender a ideia e virou secretário, tendo de fato conseguido os primeiros contratos de parques iniciando uma carreira de sucesso no setor. Ele encantou o PT e virou suplente da então senadora, Fátima Bezerra que virou governador do estado e Prates virou senador por quatro anos. Sempre com muitas ideias.

Divulgação Petrobras
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Sergio Leite, na COP 28. - Divulgação Petrobras

O combate ao Governo Bolsonaro na área de energia no Senado lhe rendeu prestígio no PT de modo que dá direção a Federação Única dos Petroleiros todos queriam o Prates comandando a Petrobras. Lula o “nomeou” ao partido antes mesmo de confirmar Alexandre Silveira, nas Minas e Energia.

Silveira virou desafeto e abriu uma guerra pública com ele, que está sempre se defendendo do fogo amigo muito maior que o inimigo. Até porque Prates não chegou na Petrobras fazendo na primeira semana o que Lula deseja.

Numa solenidade no Teatro Municipal, do Rio de Janeiro em março, as homenagens à Petrobras e a ele ofuscaram até a presença de Lula, que não gostou dos elogios a ele e a participação da cultura. E aí começaram seus problemas.

Silveira percebeu que uma fragilidade de Prates era sua extrema vaidade pessoal e que naturalmente uma estatal com o nível governança não poderia nunca em três, seis, nove e um ano mudar seu comportamento. Mas ele pressiona e, ao contrário de Prates, viaja com o presidente.

Em Dubai. Prates deu entrevistas, falou de suas proposta de transformar a Petrobras na empresa líder de exploração de eólicas offshore, que está em curso um megaprojeto de descarbonização da atividade de exploração de petróleo e que a Petrobras será no futuro uma empresas que não depender tanto do petróleo como hoje. E foi aí que saiu a ideia de uma Petrobras da Arabia.

Do ponto de vista de negócio ter uma empresa que produziria fertilizantes derivados de petróleo na meca da exploração em terra faz sentido. Lá queimar petróleo é o modelo de negócio. Ruim seria fazer isso no Brasil que ao menos no discurso se apresenta como líder global contra o crescimento das emissões de carbono.

Mas quem disse que o Prates desperdiçaria uma oportunidade de lançar uma ideia genial depois que Lula esteve na Arabia Saudita e nos Emirados Árabes? Deu erro.
E isso não fará o Jean Paul Prates deixar de vender seu discurso verde numa empresa que em cinco anos quer estar entre as cinco maiores exportadoras de petróleo. Pelo menos enquanto estiver no comando da estatal e sob o fogo de Alexandre Silveira.

 

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