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Lula repete Arraes e avisa que o desempenho do PT vai continuar sendo ruim mesmo ele sendo o presidente.

Agora, é Lula confessando que o PT agora não faz uma manifestação sem ajuda de líderes comunitários.

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Fernando Castilho

Publicado em 11/12/2023 às 7:20 | Atualizado em 11/12/2023 às 11:14
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Miguel Arraes era governador de Pernambuco, em 1998, e disputava a reeleição em condições muito desfavoráveis diante de um Jarbas Vasconcelos com sangue nos olhos e liderando uma aliança que juntou Mendonça Filho e o ex-ministro das minas e energia no governo FH, José Jorge.

O velho líder não descuidou da campanha e a máquina estava trabalhando a todo vapor para ajudar o então incumbente. Arraes continuava desmanchando feira no interior, mas o discurso tinha um tom de alerta.

Arraes cobrava ação do governo federal para atender ao que o povo queria e o que estava dizendo. E advertia que, na ânsia de querer fazer o que achava mais importante para o governo, os deputados e políticos da Frente Popular (inclusive do PSB) já não ouviam o que o povo tinha a dizer.

Araras, como se sabe, perdeu feio (Jarbas obteve 1.809.792, contra 744.280 do socialista) e saiu do Palácio do Governo pela porta que não entrou. Mas quem ouviu os discursos durante a campanha soube que ele estava dizendo que iria perder por uma nojeira de votos.

Neste final de semana, gente que ouviu ou leu as degravações lembrou de Arraes ao ouvir o discurso de Lula para o PT e também percebeu que ele está dizendo que o PT não tem como recuperar-se da desgraça de 2020 quando não elegeu nenhum prefeito da capital.

Não é o efeito Mano Brown que na semana da eleição que elegeu Bolsonaro advertiu o partido nessa mesma direção. Agora, é Lula confessando que o PT agora não faz uma manifestação sem ajuda de líderes comunitários que exigem ônibus, lanche e não raro um cargo.

O líder máximo do PT está colocando o dedo numa das maiores feridas do partido que já foi de massa e virou um mastodonte à procura de cargos no governo federal agora que voltou ao poder. E basta olhar a plateia da assembleia do partido para ver que a maioria já está na folha do INSS.

E o que Lula está dizendo é que não têm jovens cuidando da legenda. Lula reconheceu a dificuldade de o PT não falar aos evangélicos. O partido nunca teve conexão com esse segmento, especialmente pela sua pauta de costumes. Mas o problema não são os 38% de crentes.

O desafio do PT é com os 28% católicos que não mais confiam no PT. Alguém lembra que foi nas igrejas católicas que a maioria dos líderes do partido se formou?

O presidente também se queixou de que quem ganha cinco salários-mínimos não vota mais no PT.

Essa é outra constatação importante. Lula ajudou a colocar milhões de pobres nas universidades e isso tem a ver com melhoria de renda da família do bacharel. Entretanto, mesmo quem pagou o FIES não faz relação com a política de acesso a uma faculdade. Para eles a melhoria de vida com o diploma é mérito seu.

Por uma dessas ironias, essa a melhoria de vida pela escolaridade dele veio acompanhado do escândalo do petrolão. E, como se viu até hoje, de nenhum gesto de autocrítica.

O que Lula e o PT talvez não tenham percebido e que todos as vezes que um dirigente do PT é livrado de uma sentença pelo STF ou outra corte, fica mais claro para essa população que ralou para se formar que no Brasil ser corrupto partidário da certo.

Isso pode ser aceitável para os velhos dirigentes. Mas o jovem, naturalmente, não aceita corrupção. Embora às vezes se beneficie dela em algum momento por necessidade. E não se pode esquecer que quanto mais gente se forma mais resistente a ideia da corrupção ele é.

Lula acordou o seu partido para o que vem por aí. Mas o PT e seus sindicalistas precisam voltar às bases e será preciso fazer isso de forma moderna. Hoje, quando se observa o perfil das Centrais Sindicais, a CUT virou um braço do sindicalismo do setor público. No Brasil 36,8% dos sindicalizados são do setor público.

E precisa entender que foram os jovens que votaram pela primeira vez (mais de 2 milhões segundo o TSE) que deram uma das mais importantes contribuições à história de Lula. No ano passado, o comparecimento médio de jovens de 16 e 17 anos aumentou 52,3% entre 2018 e 2022. E dos mais de 2,1 milhões de eleitores e eleitores nessa faixa etária 1,7 milhão foram às urnas. O PT fala com eles?

O Partido dos Trabalhadores, de fato, precisa voltar às ruas para ganhar prefeituras e sair do conforto digital a que se acostumou. E deve começar pela eliminação da ideia de terceirizar os piquetes nas portas das empresas.

Talvez ainda dê tempo.

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