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PAIXÃO PELO VINHO - As priscas que Zeferino cultiva na região do Verde de Portugal

Amanhã, na última reportagem da série, Maria Izabel a vinícola que JCPM comprou no icônico Douro.

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JC

Publicado em 20/01/2024 às 8:04 | Atualizado em 22/01/2024 às 7:06
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O português Zeferino Ferreira da Costa é conhecido no mercado imobiliário pelo padrão arrojado de seus investimentos focados na classe A, onde a colocação de preços tem mais a ver com o que o prédio oferece inovação do que com a capacidade de pagamento de seus potenciais clientes.

De fato, a Vale do Ave ao lado da concorrente familiar Rio Ave e dos projetos mais celebrados no Reserva do Paiva, o icônico bairro planejado que a família Brennand constrói no Cabo de Santo Agostinho, a disputa de mercado de sua empresa é mais pelo que apresentam de luxo e conforto do que pelo preço do metro quadrado.

Até porque o Recife - pelo seu território e curtíssima faixa de beira mar - é naturalmente um os mais caros do Nordeste. Nos últimos anos, Zeferino, seu irmão Alberto, filhos e sobrinhos vêm elevando o nível da régua no setor.

 

Zeferino Ferreira da Costa, produtor de vinho na região do Verde - Fernando Castilho

 

Mas o velho português - que certo dia pegou um comboio na sua querida Porto em Portugal para tentar a sorte no Brasil - tem um forte motivo para, ao menos, seis vezes por ano voltar a sua quinta Vinhas de Priscos, localizada em Famalicão na Região dos Vinhos Verdes próxima ao Porto: Cuidar de suas vinhas de uvas branca de onde uma vez por ano colhe uvas maduras que produzem, em média, 20 mil garrafas do seu Priscas.

Ferreira da Costa é um apaixonado pelo vinho. Cuida pessoalmente de cada linha de castas plantadas no seu parreiral e, não raro, denomina os caminhos entre elas. No próximo ano, está programando uma melhoria numa dessas vias com o nome de sua mulher Maria do Carmo, com quem está caso há mais de 50 anos e companheira de décadas nas viagens às propriedades da família.

O Priscas é um vinho verde com mais de 30 anos no mercado português e brasileiro onde é distribuído pela distribuidora Épice, da família de Eduarda Dias da qual foi era amigo do fundador, Licínio, que o revendia em centenas de pontos no Brasil. Em Portugal, ele está no cardápio dezenas de restaurantes, entre eles, o conhecido Pinóquio, no centro de Lisboa.

Ele, como todo vinho denominado Verde é uma mistura de três castas (São Lourenço, Trajadura e Loureiro) que são colhidas maduras e tem a particularidade de serem plantadas juntas de modo que o blend se dê no próprio parreiral onde a variedade Loureiro tem 60% das plantas distribuídas no campo. Zeferino introduziu nessa mistura a casta Alvarinho (10%) também de origem portuguesa e plantada na Espanha.

Segundo ele, essa mistura de quatro castas colhidas juntas deu ao Priscas uma personalidade própria. Um vinho branco, leve e suave agradável de beber especialmente nas refeições do meio-dia embora seja também consumido no jantar e nas celebrações vespertinas.

Ele também esclarece um certo equívoco dos brasileiros em relação ao que se convencionou chamar de Vinho Verde de Portugal. “É verdade que vinho verde só existe em Portugal. Mas não é porque seja verde. O vinho é um branco clássico e aromático. Mas ele é produzido apenas na região do Verde de Portugal e com essa característica de mistura no campo das três castas”.

 

Marco da Quinta São Tome que tem registros de 1.400 - Fernando Castilho

 

Então, o correto é se dizer que é o ‘vinho da região do Verde’. “Aliás, a que fica mais tempo do ano verde pelas condições climáticas dentro de Portugal. E, portanto, como só existe uma região Verde em Portugal, os brasileiros acabaram relacionado a região à cor do vinho” esclarece o produtor português.

A chamada região do Verde, distante 130 quilômetros de Lisboa, é a maior área portuguesa demarcada e uma das maiores da Europa. Representa 15% da área vitícola nacional no Norte de Portugal próxima à cidade do Porto.

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Ela é conhecida por usar um conjunto de castas das mais antigas que o mercado tem conhecimento havendo registos de que começou a ser plantada entre os séculos X e XII. Elas viraram uma referência dos brancos suaves com maior teor de açúcar. A Alvarinho é um ícone pelas notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e paladar mineral.

Os negócios da Vinhas de Priscos começaram quando ele adquiriu em 1960 a propriedade Quinta de São Tomé cujos registros datam de 1400, no século XIV, portanto, há mais de 600 anos. E já existia um conjunto de instalações para produção de vinho da maneira tradicional, inclusive tanques para a pisa das uvas e todo um conjunto de equipamentos que o empresário faz questão de preservar quando reconstruiu a vinícola e a casa de morada da quinta seguindo as rigorosa legislação portuguesa que obriga a preservação de todas as fachadas no restauro do edifício.

 

A Quinta São Tomé que tem registros de cultivo de vinhas desde 1.400 - Fernando Castilho

 

A casa por dentro é do século XX, mas toda original no exterior. O mesmo conceito se aplica à vinícola onde Ferreira da Costa “gastou alguns euros” para torná-la uma das mais modernas do segmento.

Tanques de fermentação de alumínio, barris de carvalho francês e uma prensa industrial considerada a melhor do mercado vinícola internacional cuja característica é fazer a uva explodir no interior da pisa permitindo a captação do sumo naturalmente sem esmagamento das sementes entregando um melhor processamento da colheita do campo.

Esse equipamento de pisa da vinícola é frequentemente usado por outros produtores amigos de Ferreira da Costa que se beneficiam da tecnologia embarcada na prensa pneumática Bucher Vaslin que apenas produtores capitalizados como Zeferino Ferreira da Costa podem se dar ao luxo de comprar para esmagar pequenas quantidades de uvas.

Da prensa, sai a matéria prima que ele entrega a um amigo produtor de aguardente de cana (a chamada de bagaceira) de altíssimo teor alcoólico que ele também comercializa e presenteia aos amigos.

Mas está satisfeito com o investimento. Recentemente, começou a testar um tinto com as variedades Quinta Roriz, Touriga Nacional, Vinhão e Merlot, também colhidas maduras de modo a ter menos acidez para o vinho que ele deseja produzir em breve.

“Estamos observando e vendo como ele se comporta. Eu, particularmente, gostei do sabor e acredito que em breve poderemos pensar num outro produto”, admite o empresário que está degustando o novo vinho com os amigos enquanto cuida da fazer sua tradicional remessa de 6.000 caixas para o Brasil onde é distribuído.

 

Marco da Quinta São Tome de Zeferino Ferreira da Costa. - Fernando Castilho

 

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