Coluna JC Negócios

Clientes de alta renda dizem ter conhecimento em finanças, mas revelam fazer pouco planejamento

Eles dizem se consideram especialistas em finanças, mas 41% ainda mantém investimento na boa e velha caderneta de poupança.

Imagem do autor
Cadastrado por

Fernando Castilho

Publicado em 04/04/2024 às 16:00
Notícia
X

Se você construiu uma carreira de sucesso, tem uma renda de ao menos R$10 e tem menos de 40 anos. O que você pensa sobre seus objetivos financeiros de médio e longo prazo e o que, efetivamente, você está fazendo para conquistar esses objetivos no futuro.


Uma pesquisa feita para o Itaú Personnalité, área do Banco Itaú voltada para alta renda, realizada pelo Instituto Locomotiva, nacionalmente, no último trimestre de 2023 descobriu que a maioria dos brasileiros de alta renda (89%) acredita que está se preparando adequadamente para o futuro e 93% afirmam ter objetivos financeiros de curto, médio e longo prazos (para a realização de viagens, construção de patrimônio e de reserva financeira para a aposentadoria e emergências, entre outras prioridades).

Dinheiro na poupança

Legal, não? Mas o que o estudo constatou é que poucos se organizam efetivamente para isso. Na verdade, apenas um em cada cinco (20%) podem ser colocados no patamar de alto planejamento financeiro. E que, entre os que declaram ter conhecimento avançado e até se consideram especialistas em finanças, 41% ainda mantém investimento na velha e conhecida caderneta de poupança.

A pesquisa Itaú Personnalité: Brasileiros e a alta renda ouviu mais de mil pessoas com renda individual mensal a partir de R$10 mil. Foram entrevistadas 1.216 pessoas com mais de 18 anos e renda pessoal mensal de R$10 mil ou mais. A margem de erro da pesquisa é de 2,8 pontos percentuais. O objetivo foi tentar compreender a relação desse público - cobiçado pelos bancos - com o dinheiro.

E saber quais são as suas principais preocupações quanto ao bem-estar financeiro, investimentos e planejamento para o futuro. Esse segmento, segundos dados do próprio banco representa 3% da população adulta com renda no país e responsável por movimentar cerca de R$ 970 bilhões em renda própria anualmente.

De olha no alta renda

Os bancos chamam ele de Alta Renda brasileira. Esses clientes tem contas cuidas com gerentes e até aconselhamento para investimentos. Mas curiosamente se constatou que ele vive alguns paradoxos em relação ao dinheiro. Por exemplo: 80% se dizem otimistas com a própria situação financeira.

Esse percentual é maior entre os jovens (94%) do que entre os trabalhadores na faixa dos 50+ (70%). Mas o medo de perder renda e/ou patrimônio está na cabeça dessas. Especialmente quando pensam sobre crises econômicas (68%), golpes na internet (71%) ou por que pode lhe acontecer com investimentos equivocados (59%).

O problema é que dos 77% que afirmam ter conhecimento suficiente (médio ou avançado) sobre seu futuro financeiro consideram a caderneta de poupança uma alternativa expressiva. E olha que dos que aplicam nela 27% se consideram investidores arrojados.

Como se sabe, os bancos vivem alertando que aplicar na caderneta de poupança não é um investimento adequado para períodos mais longos. E que existem dezenas de opções mais rentáveis que a velha e boa caderneta que certamente era a opção dos pais deles.

Vida longa planejada 

Na verdade, a pesquisa revelou uma lacuna entre conhecimento e prática. “As pessoas estão mais interessadas na gestão e planejamento de suas vidas financeiras, mas ainda não conseguem organizar todas as informações que recebem para transformá-las em decisões", comenta Adriana dos Santos, diretora do Itaú Personnalité.

Para ela, isso explica o fato de no Brasil existir uma participação da poupança relevante nas opções de investimento, mesmo entre os que se descrevem como arrojados. Embora esclareça que nas carteiras do Itaú Personnalité, essa proporção é significativamente menor.

Adriana dos Santos avalia que isso na sua instituição é reflexo do trabalho de consultoria dos nossos especialistas em investimentos, que consideram ”um planejamento financeiro eficaz, considerando histórico, perfis, momento de vida e prioridades para o futuro de cada cliente.”

Mulheres conservadoras

Quando o recorte é feito por gênero, as mulheres demonstram maior interesse em aprender mais sobre finanças e investimentos: 43% versus 34% do público masculino. O comportamento dos dois gêneros coincide em um aspecto: metade das pessoas admite que conversar sobre dinheiro com companheiros ou familiares ainda gera desconforto e estresse.

Isso gera um grande desafio para bancos que focam nesse segmento. “Falar sobre finanças ainda é tabu. Por isso, é preciso simplificar a linguagem e trazer o tema para o dia a dia. Planejamento de vida e de futuro não precisa ser solitário, ao contrário, a construção em conjunto, dentro das famílias, levará a um retorno mais sustentável para todos”, esclarece Adriana.

Para ela, o papel do banco na vida das pessoas mudou. “Aqui no Itaú Personnalité, ao longo dos anos, nos especializamos em desempenhar uma posição de consultoria financeira, planejamento e apoio.

Mas ela reconhece que isso vai exigir uma relação de longo prazo, mais próxima, humanizada e que entende que o nosso sucesso depende da prosperidade do nosso cliente.

Metas de longo prazo

“Temos buscado ir além da consultoria, mas também proporcionado eventos de experiência em nossos Investment Centers, com intuito de apoiarmos em temas para grupos e interesses específicos. E temos atuado junto deles no sentido de estabelecer metas de longo prazo e esforçar-se para alcançá-las, controlar ganhos e despesas, formar reserva para emergências e aposentadoria e não estar inadimplente.” destaca a executiva.

Para o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, o que se observou é que apenas 20% das pessoas ouvidas declararam ter toda essa disciplina na prática. Isso pode ter a ver com o histórico de baixo índice de educação financeira ao qual o brasileiro foi exposto ao longo da vida. “Os resultados mostram interesse crescente no tema, busca ativa por informações na internet e nas redes sociais, mas clara insegurança em relação à tomada de decisão” avalia.

Também existe o medo de errar nos investimentos. E por isso a prática financeira se evidencia também em escolhas mais conservadoras, O que pode ser explicado com o fato de que entre investidores, 51% preferem renda fixa enquanto 39% declaram ter dinheiro em poupança.

A pesquisa teve uma “fase quali” quando os entrevistadores aprofundam a conversa com os entrevistados abordando o tema ‘qualidade de vida pós-pandemia’. Ele surgiu de forma espontânea e recorrente entre os participantes e dominou boa parte das conversas de investigação com os grupos.

Vida depois da covid-19

Sobre o tema, 65% dos brasileiros de alta renda afirmam ter passado a valorizar muito mais a qualidade de vida após a Covid-19, sendo que 66% dizem dar mais valor à família e 70% escolheriam ter mais tempo em vez de uma renda maior. Faz sentido.

Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva revela que o levantamento aponta como esse público está em busca de viver melhor, reconfigurando a sua relação com o trabalho, tempo e dinheiro.”

O que para Adriana, o paradoxo deve ser visto como oportunidade. “Precisamos aprender e escolher formas de fazer o dinheiro trabalhar por nós. Um bom planejamento financeiro, que compreende visão de futuro, sonhos, expectativa de gastos, investimentos, aposentadoria, por exemplo, pode ajudar a ter mais tempo de qualidade, sem comprometer a renda”.

DIVULGAÇÃO
Pesquisa feita para o Itaú Personnalité voltada para alta renda. - DIVULGAÇÃO


Tags

Autor