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Analógico, governo Lula perde para fake news no embate das vacinas contra Dengue e Covid 19

A dificuldade de Nísia Trindade ficou mais evidente por ocasião da eclosão da dengue nos estados do Sul e Sudeste quando não soube comunicar que o melhor remédio ainda é perseguir o mosquito

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JC

Publicado em 23/04/2024 às 11:20 | Atualizado em 23/04/2024 às 12:23
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Num governo em que a maioria dos ministro sequer leu algo mais consistente sobre trend, engajamento de impulsionamento de notícias nas redes sociais, a produção de fake news sobre a distribuição de vacinas ganha de 10 com a ministra da Saúde catatônica sem saber como dizer a população que vacina salva vidas.

Nísia Trindade é reconhecida como uma das melhores profissionais na área de saúde, especialmente pela sua atuação na produção de vacinas, mas com certeza não recebeu treinamento adequado para sua comunicação no Ministério da Saúde.

Ela está pagando caro por isso. E foi abandonada pelo próprio presidente Lula quando não usa seu prestígio para fortalecer as campanhas de vacinação e é vítima do pouco caráter de boa parte dos deputados os senadores que se aproveitam disso para torpedear seu trabalho.

Essa dificuldade de Nísia Trindade ficou mais evidente por ocasião da eclosão da dengue nos estados do Sul e Sudeste quando não soube comunicar que o melhor remédio ainda é perseguir o mosquito uma vez que a primeira vacina produzida ainda está em fase final de avaliação embora já tenha sido incorporada à lista de vacinas oferecidas pelo ministério da Saúde.

Foto: Ricardo Stuckert
Lula da Silva, recebeu a dose bivalente da vacina contra o coronavírus no lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação. - Foto: Ricardo Stuckert

E se tornou mais séria quando, pela primeira vez em cinco anos, o ministério da Saúde precisou ver encerrada uma disputa entre a Pfizer e a Moderna por um novo lote de vacinas para a Covid 19.

A bem da verdade, a questão da vacina da Dengue faltou ao ministério da Saúde dizer de forma bem simples que a vacina além de ser um tratamento preventivo que exige duas doses não está disponível no mundo para toda a população.

Também faltou dizer que ainda que exista vacina para o público alvo inicial (pela falta de doses produzidas) não estamos tendo uma procura razoável pelos pais e mães de crianças que já podem receber.

Na ponta isso quer dizer que 98% das pessoas não estão livres do mosquito da dengue e que o melhor caminho ainda é cuidar de não acumular água limpa em lugares abertos e estimular seus vizinhos a fazerem o mesmo.

Como o ministério da Saúde não disse isso de forma clara, o Brasil começou a se queixar do governo porque não tinha vacinas ainda que pouca gente estivesse disposta a dar o braço se o imunizante fosse oferecido.

E é aí que o governo analógico de Lula se perdeu de vez. A dengue está no Brasil há décadas e seu novo surto começou em novembro. Pois bem, até hoje o Ministério da Saúde não produziu uma campanha estimulando a proteção contra o mosquito. Não foi a imprensa que o quadro estaria pior pois comunicação oficial só tem quando a ministra dá entrevistas.

No mundo conflagrado como o atual isso virou um mar aberto a todo tipo de fake news e declarações de deputados cobrando ações que simplesmente não estão relacionadas às vacinas que simplesmente não estão disponíveis pela indústria. E que se estivessem não asseguram que uma pessoa picada pelo aedes egiptys não tenha a virose. Sobraram os porta-vozes do ministério da Saúde quando procurados.

Mas tudo que está ruim pode piorar, a disputa de preços de dois fabricantes de vacinas (o que é bom para o contribuinte) virou foco de críticas a Nísia Trindade sem ajuda do governo.

A ministra e sua equipe precisam dizer que não está faltando vacina contra a covid 19. Está faltando braço para receberem as que já existem e estão nas redes de postos.

Adilson Oliveira
Vacinação contra a degue Paulista Pernambuco - Adilson Oliveira

O Brasil que deu um exemplo global de vacinação literalmente esquece o compromisso de se vacinar e mais de 50% da população não está em dia com o calendário de vacinação.

Então, importa pouco se a Pfizer ou a Moderna atrasaram o processo. Existe vacina ficando vencida porque as pessoas deixaram de se vacinar. Mas isso o governo não consegue dizer e estimular o comparecimento aos locais de vacinação.

Claro que isso é uma oportunidade extraordinária para as facenews e propagação das teses anti-vacina. E isso está sendo feito pela internet nas mídias sociais enquanto o governo não sabe o que fazer.

Talvez o maior desafio do governo Lula na área de saúde não seja ter dinheiro para comprar e distribuir vacinas (lembrando que a Dengue não está disponível para a população em geral) mas de fazer as pessoas procurarem os postos novamente.

E isso terá que ser feito com novas mídias e nova abordagem de comunicação digital. Vai precisar de ter campanha com linguagem para mídias sociais que vão ancorar a publicidade nas mídias tradicionais de rádio, TV e jornais digitais cujas informações vão validar a necessidade de ao menos quanto a covid 19 ainda é preciso se proteger.

Mas isso só será possível se o presidente e seus ministros usarem sua força de comunicação oficial para validar campanhas digitais. E isso inclui a convocação de influenciadores, artistas e personalidades para devolver essa credibilidade.

Nem vai ser a Nísia Trindade sozinha. Vai ter que juntar mais gente. Mas do jeito que Lula e seus ministros veem esse problema há pouca chance de se mudar o quadro.

E não será surpresa se aparecerem os ministros (analógicos ) do governo Lula defendendo sua saída. Aí a ministra já era. Embora a dengue continue e covid 19 continue matando todos os dias mais de 300 pessoas que a mídia tradicional deixou de se interessar.

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