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Criador de parques eólicos, Prates não percebeu que Lula queria novos negócios da Petrobras com petróleo

o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, não tinha de Prates qualquer atenção iniciando-se uma disputa pelas grandes notícias da Petrobras.

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Fernando Castilho

Publicado em 14/05/2024 às 23:00 | Atualizado em 14/05/2024 às 23:18
Notícia

Jean Paul Prates, que foi demitido por Lula nesta terça-feira  pode ser tudo menos uma pessoa modesta. E esse excesso de confiança sobre sua importância no Governo Lula - no fundo - foi a real causa de sua demissão do cargo depois que o presidente precisou articular uma volta na Lei das Estatais com ajuda do então ministro do STF, Ricardo Lewandowski para que ele (mesmo sem ter cumprido a norma de 36 meses num cargo público), chegasse à presidência da estatal.

Pode-se dizer que Lula mudou a Lei das Estatais para que Prates fosse para a Petrobras. Paulo Câmara, que hoje preside o BNB, acabou sendo beneficiado por isso até porque, ao contrário de Prates, Lula gosta do ex-governador de Pernambuco.

O problema de Prates é que ele tem uma enorme vaidade de seu conhecimento como profissional na área de energia eólica - um setor em que, de fato, ajudou a estruturar o conceito no Brasil quando convenceu a então governadora do Rio Grande do Norte, Wilma de Faria, a nomeá-lo para o cargo de secretário de energia.

Construtor de eólicas

E justiça se faça, foi na sua gestão que se implantou uma proposta de desenvolvimento para o setor energético, com fontes renováveis. Durante sua gestão, o Rio Grande do Norte alcançou autossuficiência energética, chegando a exportar energia eólica e combustíveis para toda a região Nordeste.

Curiosamente, Prates poderia ter feito isso antes ainda no governo Garibaldi Filho (que antecedeu Wilma de Faria) quando desembarcou do Rio de Janeiro se oferecendo para ser secretário de energia numa atividade que o experiente governador nunca tinha ouvido falar.

Educadamente, Garibaldi Filho disse que o procuraria e esqueceu o seu plano de tornar o RN o primeiro estado a ser produtor de energia eólica. O que de fato aconteceu no governo de Faria.

Mas Prates sempre foi um cultor de sua personalidade e mesmo quando a então candidata ao senado pelo PT Fátima Bezerra o escolheu para primeiro suplente isso se deu pelo envolvimento de Prates em exibir sua capacidade. Bezerra se elegeu governadora, e Prates - que nunca tinha sido candidato a nada - virou senador.

E na Casa ele se posicionou contrário à privatização da empresa e se aproximou mais ainda do PT. Ele foi relator de dois projetos de lei com o objetivo de intervir no preço dos combustíveis e que altera a tributação do setor.

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Lula apresenta Prates como presideete da Petrobras . - Divulgação

Articulado no PT

Mas ele aproveitou muito bem essa sua capacidade de se vender junto ao PT de modo que quando Lula foi eleito, o partido quase inteiro defendeu seu nome. E Lula, que sequer o conhecia, acabou aceitando a indicação. Não antes de mudar a Lei das Estatais

Mas o problema é que Prates é vaidoso demais para qualquer cargo que ocupa. Essa é uma marca que carrega desde o tempo em era secretário de energia no RN. E talvez sem perceber ele tenha cometido um erro já na partida como presidente da estatal no governo Lula.

No dia 23 de março, quando a Petrobras foi homenageada pela longa parceria com o Theatro Municipal, Prates recebeu todos os salamaleques dos artistas, o que irritou o cerimonial da Presidência da República, uma vez que o presidente Lula se deslocara para o Rio de Janeiro para o lançamento do novo decreto do fomento cultural.

A notícia produzida pela área institucional da Petrobras deu forte destaque à homenagem com fotos dele recebendo a comenda quando disse que a companhia fortalecerá as iniciativas de patrocínio cultural da Petrobras. No ano de 2022, a empresa investiu R$28 milhões no segmento. Lula e Janja quase ficam em segundo plano.

Não foi fato isolado. Nos meses seguintes, a Agência Petrobras produziu notícias que vão desde sua primeira passagem pela Bahia como presidente da Petrobras, onde garantiu que a companhia ficaria no Estado e ainda vai reforçar os investimentos locais.

Ciumes de Alexandre Silveira

Isso acabou irritando o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, a quem Prates não dispensava qualquer atenção iniciando-se uma disputa onde as grandes notícias da estatal, como a mudança da política de preços, deixava Silveira mais uma vez em segundo plano.

Prates aproveitou muita a condição de presidente e esteve nos principais fóruns do setor energético tentando vender um discurso de que o petróleo financiaria a transição da estatal ao mercado de uma economia verde. Embora 96% do investimento da estatal ainda seja em produzir e refinar petróleo.

Mas ele não percebeu que o presidente, apesar do respeito à ministra Marina Silva, queria obras na estatal e oportunidades para fazer a empresa voltar a ter protagonismo na atuação em setores próximo ao petróleo. E à medida em que o tempo foi passando essa capacidade de anunciar obras da Petrobras se concentrou em melhoria de processos e não de novos investimentos em áreas que pudessem gerar visibilidade a Lula.

Com essa performance ficou fácil para Silveira junto com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, começarem a organizar sua demissão. E ela quase aconteceu no episódio dos dividendos explorado por Silveira que ao saber da resistência do presidente a entregar dinheiro aos acionistas ( embora o governo seja quem mais recebe) radicalizou defendendo a ideia de dividendo extraordinário zero.

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Jean Paul Prates com Raquel Lyra e lUla na Refinaria Abreu e Lima. - Divulgação

Contra os dividendos

Prates defendia a proposta da diretoria de distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram no caixa após o pagamento dos dividendos regulares - R$43,9 bilhões. E Lula precisou arbitrar a disputa determinando que os seis conselheiros indicados pela União votassem contra o pagamento.

O presidente teve que pagar o desgaste político sem que Prates lhe desse uma só oportunidade de anunciar um novo projeto da estatal que gerasse emprego novo. E ainda foi acusado de, num único dia, fazer a Petrobras se desvalorizar R$55 bilhões.

Para completar ele ainda se desentendeu com o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, a respeito de um pedido de autorização dos técnicos da corte contábil para investigar a possibilidade de fraude no contrato da Petrobras com a fábrica de fertilizantes Unigel. Esqueceu que Lula tem uma atenção especial por Dantas, um dos nomes que chegou a analisar para a vaga que hoje é ocupada por Flávio Dino.

Uma mulher, Magda Chambriard

Todo esse conjunto da obra tornou sua posição na empresa fragilizada, de modo que nesta terça-feira depois de ter definida a troca pela ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Magda Chambriard durante o governo de Dilma Rousseff, Lula fez questão de demiti-lo.

Depois da quarentena a que deve ficar submetido, é possível que Prates volte ao mercado de consultoria onde fez sua carreira como desenvolvedor de projeto de energia eólica. Agora com um currículo ainda mais lustrado.

Até porque no setor de petróleo e gás, ser ex-presidente da Petrobras e ter sido demitido num embate com personagens como Alexandre Silveira e Rui Costa é quase um passaporte para bons clientes na área de consultoria.

 

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Jean Paul Prates anuncia o fim da paratidadc e de preços internacionais da Petrobras. - Divulgação9

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