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Quando as redes sociais eram plataformas ingênuas de relacionamento, Nelly Carvalho advertiu para o risco à Democracia por maus usuários

Nelly Carvalho morreu neste sabado (8) depois de uma bela careira como professora de linguagem.

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Fernando Castilho

Publicado em 08/06/2024 às 13:20 | Atualizado em 08/06/2024 às 18:53
Notícia

Em 2015, quando completei 60 anos, o Jornal do Commercio vivia um momento de transformação digital com o desenvolvimento de novos produtos e reestruturação das rotinas da redação que iam muito além da manutenção do seu site.

Eu que tinha vindo da redação com a máquina de escrever Olivetti achei que deveria me atualizar no recém setor de mídias sociais depois de ter feito várias passagens de tecnologia. Eu me formei na Unicap, em 1979 e achei que o melhor lugar para me aconselhar seria minha casa de origem.

A professora Aline Greco, chefe do Departamento de Comunicação da graduação, ouviu minha angústia e me mandou falar com a Coordenadora do Mestrado de Linguagem, Roberta Caiado que, em duas horas de conversa, me convenceu a me inscrever no curso cujas inscrições terminam dali duas semanas.

Me lembro como se fosse hoje. Amigos, familiares e colegas de profissão fizeram uma única pergunta: você tem ideia do que é fazer um mestrado trabalhado com as suas rotinas no JC? Eu disse Não, mas agora é tarde e eu vou fazer.

O que era para ser feito em dois anos levou três. Mas Roberta Caiado colocou a professora Nelly Carvalho na minha curta vida acadêmica depois que escrevi um projeto com ajuda da professora Rita Kramer que assinou com ela o artigo "A linguagem no Facebook" e que depois leria meu manuscrito.

Nelly me recebeu com um carinho enorme e disse que, assim como eu não sabia nada de redes sociais ela também não fazia ideia em estávamos nos metendo. Mas ela segurou na minha mão e depois de três anos lá estava eu na frente dos professores Antonio Carlos dos Santos Xavier e Francisco Madeiro Bernardino Junior, me tremendo de medo. O texto “O uso do WhatsApp em práticas comunicativas de jornalistas na produção de conteúdo editorial” foi aprovado e eu voltei para minha rotina de jornalista.

Na saída da apresentação, ao lado da professora Roberta Caiado, Nelly lembrou aquela conversa e disse que tinha sido uma boa experiência porque mestrando e orientadora dividiram experiências diferentes depois de anos em suas carreiras. Nunca me esqueci do beijo que ela me deu no rosto dizendo que deveria emendar um Doutorado porque iríamos passar por uma revolução digital provocada pelas plataformas para o bem e para o mal.

Ela advertiu que os mensageiros como o WhatsApp e as plataformas como Facebook e Instagram e o novíssimo Tik-Tok, em pouco tempo perderam a aura ingênua de ferramentas revolucionárias da conversação para virarem instrumentos assustadores nas mãos de maus usuários.

Em 2017, era charmoso estar no Facebook, entrar no Instagram e ter uma rede de contatos no WhatsApp que ainda era uma plataforma de serviços quase pura. A pandemia se encarregou de confirmar os piores temores da educadora.

Isso me ajuda até hoje enquanto estou trabalhando como jornalista quando vejo o estrago que as fakenews fizeram à Democracia.

Me lembrei de tudo disso nesta manhã (8) quando soube de sua passagem para o andar de cima. Eu não vou chorar porque Nelly era só sorriso e certamente não ficaria feliz. Embora seja difícil não sentir uma saudade danada dela agora como seus milhares de alunos.

Viva Nelly

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