Recife abre centro para aprimorar formação médica acesso à prática cirúrgica e estudo de anatomia

A proposta do Instituto de Treinamento em Cadáveres Frescos (ITC) é melhorar procedimentos a partir de especializações mais realistas.

Publicado em 02/07/2024 às 16:10 | Atualizado em 02/07/2024 às 16:11

Com investimentos de R$ 3,5 milhões reunidos por um grupo de médicos, chega ao Recife, a partir do dia 11 de julho, a primeira unidade do Instituto de Treinamento em Cadáveres Frescos (ITC), instituição que já existe no sul e sudeste do Brasil voltada para proporcionar experiência no acesso à prática cirúrgica, estudo de anatomia e desenvolvimento de habilidades aos profissionais da área da saúde.

A atuação de instituições como o ITC no Brasil se deve à dificuldade que o país enfrenta na formação de profissionais na medicina e na odontologia, em função da legislação nacional que só permite a manipulação de cadáveres não reivindicados por familiares junto aos Institutos de Medicina Legal após um prazo de 20 anos, o que praticamente torna impossível o seu uso para os profissionais de saúde. O Brasil, porém, não é o único país a ter essa legislação.

Para substituir esse procedimento, se desenvolveu no mundo uma indústria de biomodelos sintéticos fabricados com resina plástica, que ajudam aos profissionais em formação, especialmente em faculdades de medicina privada, de modo que o formando só tem contato efetivo com um cadáver humano quando formado.

A proposta do ITC é melhorar esse procedimento, já que não existem cadáveres disponíveis no Brasil, com profissionais focados nas áreas da medicina, biomedicina, odontologia, enfermagem e perícia criminal, e entre outros setores da saúde.

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O ITC no Brasil atua devido à dificuldade que o país enfrenta na formação de profissionais na medicina e na odontologia. - Divulgação

Segundo o cirurgião Gustavo Campos, um dos nomes à frente da unidade no Recife, a grande dificuldade de manipulação de um cadáver após 20 anos é ter que atuar nos procedimentos com um corpo formalizado. Ou seja, com um cadáver que passou duas décadas congelado sob efeito do formol. Isso, segundo ele, prejudica o aprendizado porque a coloração dos órgãos muda, uma vez que eles acabam sendo escurecidos, além da própria textura dos órgãos com o descongelamento.

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Na verdade, por se tratar de peças “frescas”, não formalizadas, as estruturas permanecem íntegras. A sensação tátil, mais próxima da realidade, torna o aprendizado mais abrangente e seguro, antes de realizar a técnica em pacientes vivos.

O ITC substitui esses cadáveres com a importação de corpos ou partes de corpos de países que permitem esse procedimento e que vêm exportando para dezenas de centros médicos ao redor do mundo, melhorando a formação de profissionais na medicina e na odontologia.

No caso do Brasil, o ITC importa o cadáver para que ele seja usado na formação e na especialização de profissionais em ambiente controlado e como material para cursos específicos que vão desde a área dermatológica como à odontologia. A vantagem desse procedimento é que é possível importar partes fracionadas, de modo a que o curso a ser desenvolvido no Brasil tenha material de qualidade.

Gustavo Campos esclarece que para uma organização como o ITC fazer a importação de cadáveres frescos é preciso seguir todo um procedimento burocrático que começa com a autorização de importação do material humano até o descarte com sua cremação e comunicação do procedimento às autoridades.

“As vantagens de usos de cadáveres frescos é que eles podem ser usados para vários treinamentos podendo ser manipulados por profissionais de várias áreas. Normalmente eles são usados pelos médicos da área de dermatologia seguindo-se à manipulação por profissionais de outras áreas, de modo a otimizar o uso do cadáver como material didático”, explica o cirurgião.

O projeto do Recife visa formar profissionais das regiões Norte e Nordeste em todas as áreas. O ITC Recife vai funcionar na Rua Desembargador Gois Cavalcante, número 374, no Parnamirim. O conjunto de salas que poderão ser usadas em cursos para áreas como quadril, joelho, cabeça e para melhoria de procedimentos de rejuvenescimento facial, é voltado ainda para um público bem restrito na área de pós-graduação, o que exige manipulação com peças previamente definidas pelo monitor de modo a que o ITC faça a importação do material.

No caso do ITC, os corpos são importados dos Estados Unidos e Europa e o processo pode levar de média quatro meses. Uma das áreas de maior uso desse tipo de material humano é a odontologia, cujo profissionais sempre estão interessados em novas técnicas de intervenção.

Dovulgação
A partir do dia 11 de julho, a primeira unidade do Instituto de Treinamento em Cadáveres Frescos (ITC) - Dovulgação

Embora a ideia de manipulação de corpos seja focada na formação profissional com maior proximidade do mundo real, a possibilidade de oferta de cadáveres ou partes de cadáveres serve também a indústria de material médico especialmente na produção e desenvolvimento de instrumentos.

Normalmente, segundo Gustavo Campos, as próprias indústrias se utilizam desse material humano para apresentar aos profissionais novas ferramentas de processos cirúrgicos de modo que os alunos possam testá-los em situação real. Além das aulas, o espaço do ITC está disponível para locação de eventos, workshops e cursos com utilização de auditório independente de uso de cadáver.

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