O futuro da energia: a urgência de discutir convergência energética

No contexto de mudanças climáticas e seus impactos, evento em Lisboa vai reunir pesquisadores e lideranças para discutir o futuro da energia no mundo

Publicado em 07/08/2024 às 14:42

De acordo com o Balanço Energético Nacional divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética referente ao ano base de 2023, a repartição da Oferta Interna de Energia (OIE) no Brasil ainda está ancorada em fontes não renováveis - petróleo, gás natural e carvão mineral, sobretudo -, correspondendo a 50,9% do total.

Ainda segundo o relatório, houve um aumento de 4,0% do uso de energia em 2023 em relação a 2022, sendo o setor de transportes o que apresentou a maior participação e se tornou, novamente, o líder no País em termos de consumo de energia.

No contexto global, o cenário é ainda mais preocupante. Prova disso é que a recente COP28 em Dubai destacou a urgência de mudanças ao firmar um acordo explícito para acabar com o uso de combustíveis fósseis.

No entanto, a falta de metas precisas para eliminar gradualmente as fontes de energia não renováveis e a admissão de que os países ainda não estão no caminho certo para cumprir a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C ressaltam a necessidade de ações mais concretas e imediatas.

É nessa conjuntura que se discute a chamada convergência energética, um conceito que envolve a integração de diversas fontes e tecnologias de energia para criar um sistema mais eficiente, sustentável e resiliente.

Esta integração é fundamental para a transição energética, cujo objetivo é reduzir a dependência de combustíveis fósseis, diminuir as emissões de gases de efeito estufa e promover o uso de fontes renováveis.

Reprodução/Empresa de Pesquisa Energética
Repartição da Oferta Interna de Energia (OIE) 2023 divulgada no Balanço Energético Nacional da Empresa de Pesquisa Energética - Reprodução/Empresa de Pesquisa Energética

O que é convergência energética?

A convergência energética reúne energias renováveis como solar, eólica, hidráulica, biomassa e geotérmica, tecnologias de armazenamento de energia como baterias de íon-lítio, baterias de fluxo e armazenamento hidrelétrico por bombeamento, além de sistemas de rede inteligente que utilizam tecnologia digital para gerir e distribuir a eletricidade de forma eficiente, mobilidade elétrica com veículos elétricos e infraestrutura de carregamento.

Dentre os benefícios que oferecem estão inclusos a melhoria da eficiência, já que a integração de múltiplas fontes de energia permite uma melhor gestão da demanda e oferta, reduzindo desperdícios.

Também aumenta a resiliência do sistema, tornando-o mais resistente a falhas e interrupções, e contribui para a redução de emissões ao substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis, o que diminui significativamente as emissões de carbono. Além disso, a longo prazo, a convergência energética pode levar à redução dos custos de energia para os consumidores.

“Para se obter a segurança energética durante a transição, é fundamental o aproveitamento de todas as fontes de geração, com a utilização de combustíveis fósseis e de energias renováveis, diversificadas e limpas, além de armazenamento de energia, investimento em flexibilidade e nas múltiplas opções da cadeia de suprimento energético, que garantem a segurança energética imprescindível para a obtenção do crescimento do País”, destaca Reive Barros, diretor da Acropolis Energia e consultor do FICTOR.

Impacto no consumidor final

Para o consumidor final, a convergência energética traz implicações significativas. Uma das mais evidentes é a potencial redução de custos. Com a integração de fontes renováveis e o aumento da eficiência energética, os custos operacionais das empresas de energia diminuem, o que pode resultar em contas de energia mais baixas para os consumidores.

Tecnologias como sistemas de energia solar doméstica e baterias de armazenamento permitem que os consumidores gerem e armazenem sua própria energia, reduzindo ainda mais a dependência da rede elétrica tradicional.

Um exemplo notável é a fonte solar, que recentemente ultrapassou a marca de 45 gigawatts (GW) de potência instalada, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (ABSolar). Este setor atraiu mais de R$211,7 bilhões em novos investimentos e gerou mais de 1,4 milhão de empregos verdes no Brasil, representando atualmente 19% da matriz elétrica brasileira.

Além disso, de acordo com dados da ANEEL, foram outorgadas até julho de 2023, 348,6 GW de usinas com fontes renováveis que buscam obter o benefício de desconto de 50% nas tarifas de distribuição e transmissão.

“Desse modo, resta direcionar todo esse potencial disponível para o mercado externo, através da exportação de energia renovável com a produção de hidrogênio e amônia para os demais países, notadamente, para o continente europeu. É mais uma oportunidade para a Região Nordeste, que já vêm desenvolvendo projetos com esse objetivo, com destaque para os estados do Ceará, Piauí, Bahia e Pernambuco”, considera Barros.

Fora a redução de custos, é também possível que os consumidores tornem-se participantes ativos no mercado de energia. Com a tecnologia de rede inteligente e a disponibilidade de dados em tempo real, os consumidores podem monitorar e gerir seu consumo de energia de forma mais eficiente.

A convergência energética também promove a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental. A redução das emissões de gases de efeito estufa contribui para a melhoria da qualidade do ar e a mitigação das mudanças climáticas.

Muitos consumidores valorizam a sustentabilidade e estão dispostos a investir em tecnologias que reduzem seu impacto ambiental, como painéis solares e veículos elétricos. A expansão significativa do setor fotovoltaico no Brasil é um exemplo claro dessa tendência, trazendo não apenas benefícios ambientais, mas também econômicos e sociais.

Outro ponto positivo é a inovação e a criação de novos serviços e produtos no mercado de energia. Startups e empresas tradicionais estão desenvolvendo soluções inovadoras, como aplicativos de gestão de energia, plataformas de trading de energia peer-to-peer e serviços de consultoria energética.

Essas inovações oferecem aos consumidores uma gama mais ampla de opções e ferramentas para gerir seu consumo energético de forma mais eficiente e econômica.

Mesmo com os inúmeros benefícios, algumas questões travam o avanço desta convergência. O custo inicial de tecnologias como painéis solares, baterias de armazenamento e veículos elétricos pode ser elevado, por exemplo.

“É importante que haja investimentos para as alternativas de mitigação, através do desenvolvimento do mercado crédito de carbono e de reflorestamento. Para tanto, será necessário estruturar o fundo verde para financiamento da transição energética, a exemplo dos “bônus verdes”, que se propõem a financiar projetos que contribuam para o desenvolvimento sustentável”, avalia Reive Barros.

O futuro da energia

Divulgação/Coniben
Coniben 2024 vai contar com 10 painéis com questões técnicas, regulatórias, ambientais, políticas e econômicas sobre energia - Divulgação/Coniben

Com a necessidade cada vez maior de discutir o futuro da energia, a Conferência Ibero-Brasileira de Energia (CONIBEN) chega à sua terceira edição, fortalecendo o propósito de unir as principais lideranças do setor energético ibero-brasileiro, compartilhando saber técnico e estratégico para ajudar a acelerar as inovações e transformações que o mundo tanto necessita.

O evento, que é 100% presencial e pioneiro na articulação do Brasil com a Península Ibérica na temática da energia, acontece em Lisboa, Portugal, nos dias 14 e 15 de novembro.

O foco do evento é reunir diferentes perspectivas e múltiplas abordagens na reflexão sobre temas emergentes, como descarbonização, transição energética e busca por modelos de produção e consumo mais sustentáveis.

Além disso, é uma oportunidade ímpar de interagir com especialistas, autoridades, pesquisadores, grandes empresários e dirigentes de negócios do Brasil, de Portugal e da Espanha.

As inscrições estão disponíveis no site do evento e podem ser feitas através deste link.

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