O futuro da energia: a urgência de discutir convergência energética
No contexto de mudanças climáticas e seus impactos, evento em Lisboa vai reunir pesquisadores e lideranças para discutir o futuro da energia no mundo
De acordo com o Balanço Energético Nacional divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética referente ao ano base de 2023, a repartição da Oferta Interna de Energia (OIE) no Brasil ainda está ancorada em fontes não renováveis - petróleo, gás natural e carvão mineral, sobretudo -, correspondendo a 50,9% do total.
Ainda segundo o relatório, houve um aumento de 4,0% do uso de energia em 2023 em relação a 2022, sendo o setor de transportes o que apresentou a maior participação e se tornou, novamente, o líder no País em termos de consumo de energia.
No contexto global, o cenário é ainda mais preocupante. Prova disso é que a recente COP28 em Dubai destacou a urgência de mudanças ao firmar um acordo explícito para acabar com o uso de combustíveis fósseis.
No entanto, a falta de metas precisas para eliminar gradualmente as fontes de energia não renováveis e a admissão de que os países ainda não estão no caminho certo para cumprir a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C ressaltam a necessidade de ações mais concretas e imediatas.
É nessa conjuntura que se discute a chamada convergência energética, um conceito que envolve a integração de diversas fontes e tecnologias de energia para criar um sistema mais eficiente, sustentável e resiliente.
Esta integração é fundamental para a transição energética, cujo objetivo é reduzir a dependência de combustíveis fósseis, diminuir as emissões de gases de efeito estufa e promover o uso de fontes renováveis.
O que é convergência energética?
A convergência energética reúne energias renováveis como solar, eólica, hidráulica, biomassa e geotérmica, tecnologias de armazenamento de energia como baterias de íon-lítio, baterias de fluxo e armazenamento hidrelétrico por bombeamento, além de sistemas de rede inteligente que utilizam tecnologia digital para gerir e distribuir a eletricidade de forma eficiente, mobilidade elétrica com veículos elétricos e infraestrutura de carregamento.
Dentre os benefícios que oferecem estão inclusos a melhoria da eficiência, já que a integração de múltiplas fontes de energia permite uma melhor gestão da demanda e oferta, reduzindo desperdícios.
Também aumenta a resiliência do sistema, tornando-o mais resistente a falhas e interrupções, e contribui para a redução de emissões ao substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis, o que diminui significativamente as emissões de carbono. Além disso, a longo prazo, a convergência energética pode levar à redução dos custos de energia para os consumidores.
“Para se obter a segurança energética durante a transição, é fundamental o aproveitamento de todas as fontes de geração, com a utilização de combustíveis fósseis e de energias renováveis, diversificadas e limpas, além de armazenamento de energia, investimento em flexibilidade e nas múltiplas opções da cadeia de suprimento energético, que garantem a segurança energética imprescindível para a obtenção do crescimento do País”, destaca Reive Barros, diretor da Acropolis Energia e consultor do FICTOR.
Impacto no consumidor final
Para o consumidor final, a convergência energética traz implicações significativas. Uma das mais evidentes é a potencial redução de custos. Com a integração de fontes renováveis e o aumento da eficiência energética, os custos operacionais das empresas de energia diminuem, o que pode resultar em contas de energia mais baixas para os consumidores.
Tecnologias como sistemas de energia solar doméstica e baterias de armazenamento permitem que os consumidores gerem e armazenem sua própria energia, reduzindo ainda mais a dependência da rede elétrica tradicional.
Um exemplo notável é a fonte solar, que recentemente ultrapassou a marca de 45 gigawatts (GW) de potência instalada, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (ABSolar). Este setor atraiu mais de R$211,7 bilhões em novos investimentos e gerou mais de 1,4 milhão de empregos verdes no Brasil, representando atualmente 19% da matriz elétrica brasileira.
Além disso, de acordo com dados da ANEEL, foram outorgadas até julho de 2023, 348,6 GW de usinas com fontes renováveis que buscam obter o benefício de desconto de 50% nas tarifas de distribuição e transmissão.
“Desse modo, resta direcionar todo esse potencial disponível para o mercado externo, através da exportação de energia renovável com a produção de hidrogênio e amônia para os demais países, notadamente, para o continente europeu. É mais uma oportunidade para a Região Nordeste, que já vêm desenvolvendo projetos com esse objetivo, com destaque para os estados do Ceará, Piauí, Bahia e Pernambuco”, considera Barros.
Fora a redução de custos, é também possível que os consumidores tornem-se participantes ativos no mercado de energia. Com a tecnologia de rede inteligente e a disponibilidade de dados em tempo real, os consumidores podem monitorar e gerir seu consumo de energia de forma mais eficiente.
A convergência energética também promove a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental. A redução das emissões de gases de efeito estufa contribui para a melhoria da qualidade do ar e a mitigação das mudanças climáticas.
Muitos consumidores valorizam a sustentabilidade e estão dispostos a investir em tecnologias que reduzem seu impacto ambiental, como painéis solares e veículos elétricos. A expansão significativa do setor fotovoltaico no Brasil é um exemplo claro dessa tendência, trazendo não apenas benefícios ambientais, mas também econômicos e sociais.
Outro ponto positivo é a inovação e a criação de novos serviços e produtos no mercado de energia. Startups e empresas tradicionais estão desenvolvendo soluções inovadoras, como aplicativos de gestão de energia, plataformas de trading de energia peer-to-peer e serviços de consultoria energética.
Essas inovações oferecem aos consumidores uma gama mais ampla de opções e ferramentas para gerir seu consumo energético de forma mais eficiente e econômica.
Mesmo com os inúmeros benefícios, algumas questões travam o avanço desta convergência. O custo inicial de tecnologias como painéis solares, baterias de armazenamento e veículos elétricos pode ser elevado, por exemplo.
“É importante que haja investimentos para as alternativas de mitigação, através do desenvolvimento do mercado crédito de carbono e de reflorestamento. Para tanto, será necessário estruturar o fundo verde para financiamento da transição energética, a exemplo dos “bônus verdes”, que se propõem a financiar projetos que contribuam para o desenvolvimento sustentável”, avalia Reive Barros.
O futuro da energia
Com a necessidade cada vez maior de discutir o futuro da energia, a Conferência Ibero-Brasileira de Energia (CONIBEN) chega à sua terceira edição, fortalecendo o propósito de unir as principais lideranças do setor energético ibero-brasileiro, compartilhando saber técnico e estratégico para ajudar a acelerar as inovações e transformações que o mundo tanto necessita.
O evento, que é 100% presencial e pioneiro na articulação do Brasil com a Península Ibérica na temática da energia, acontece em Lisboa, Portugal, nos dias 14 e 15 de novembro.
O foco do evento é reunir diferentes perspectivas e múltiplas abordagens na reflexão sobre temas emergentes, como descarbonização, transição energética e busca por modelos de produção e consumo mais sustentáveis.
Além disso, é uma oportunidade ímpar de interagir com especialistas, autoridades, pesquisadores, grandes empresários e dirigentes de negócios do Brasil, de Portugal e da Espanha.
As inscrições estão disponíveis no site do evento e podem ser feitas através deste link.