Avião do Recife para Natal fica mais caro que para São Paulo e turista elege João Pessoa como novo destino
Fenômeno de chegada do turista, que do Recife vai para Porto de Galinhas, agora se dá para João Pessoa, que está recebendo milhares de visitantes
Nos últimos meses, um fenômeno bem interessante tem ocorrido no desembarque do Aeroporto Internacional do Recife, que se orgulha de ser um dos mais bem avaliados pelos passageiros, a conexão por terra com a cidade de João Pessoa.
A busca por um turismo de lazer cada vez mais crescente já faz com que os hotéis da orla (Tambaú, Cabo Branco e Manaíra), onde estão ao menos 30 operações com vista para o mar na faixa de três e quatro estrelas, tenham elevados seus preços, que neste verão passaram a ser mais caros que os do Recife e Natal.
É uma movimentação ainda não dimensionada, mas que já faz a festa de centenas de motoristas de aplicativos, que se aproveitam do interesse dos turistas - especialmente de famílias com até quatro pessoas, que podem ser acomodadas num veículo de melhor qualidade.
Tradicionalmente, existe um fenômeno de chegada do turista que desce no Recife e vai para Porto de Galinhas, o que é motivo de uma velha queixa da falta de atrativos e de uma programação que o faça ficar ao menos dois dias na capital pernambucana. Mas o fenômeno JPO é novo e crescente desde o segundo semestre de 2023.
Do ponto de vista da movimentação de passageiros, o Aeroporto do Recife, desde 2022, superou a movimentação antes de 2019. Este ano, por exemplo, a alta foi de 4,8%, com um total de 934,6 mil passageiros. Foi a maior movimentação de passageiros já registrada em um mês de janeiro no Aeroporto do Recife.
Em 2023, o Aeroporto Internacional do Recife Guararapes – Gilberto Freyre ganhou pela segunda vez o Prêmio Aviação Mais Brasil, do Ministério de Portos e Aeroportos, como o mais pontual do País na categoria entre 5 e 10 milhões de passageiros por ano.
O número é muito bom, mas agora embute o destino como ponto de transbordo, especialmente pelos preços das passagens do Recife para João Pessoa e Natal, um destino que era feito de avião e que agora é feito por terra devido aos preços das passagens aéreas.
Se um turista desejar sair do Recife para Natal neste final de semana pela Azul, única companhia que faz o trecho, vai pagar pelo menos R$ 1.239,00 por trecho, ou seja, R$ 2.478,00 (ida e volta). Se for para São Paulo (Congonhas), pagará R$ 3.056,00, também para ir e voltar.
A rota Recife-Natal é feita apenas pela Azul, que opera 21 voos por semana. O que torna a opção aérea impossível para grupos familiares. Este ano, o presidente-executivo da Azul, John Rodgerson, em entrevista ao Jornal do Commercio, prometeu ampliar as rotas do Recife para Natal, com a chegada de novos aviões maiores da Embraer, com capacidade para 15 passageiros. Hoje, ela é feita por aviões ATR 600
Isso provocou um crescimento da opção João Pessoa e ajudou na redução do número de passageiros que usam o Aeroporto de São Gonçalo, que segundo Relatório Comparativo de Tráfego Aéreo, faz parte de um conjunto de produtos do Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea do DCEA teve queda na movimentação em maio e junho, e que comparado a 2019, registrou um crescimento de apenas +36,4%, com movimentação de 1,667 milhão de pessoas (partidas e decolagens) em junho último.
De fato, vir de São Paulo para o Recife e ir para João Pessoa virou uma rota familiar; primeiro pela oferta de hotéis na orla, depois pelas opções de lazer da cidade, e, mais recentemente, pelo crescimento do número de restaurantes. Este ano, João Pessoa iniciou a operação do BA'RA Hotel, na Avenida Cabo Branco, com diárias a partir de R$ 1.394,90, com lotação assegurada de novembro a dezembro.
João Pessoa, assim como Fortaleza, decidiu apostar numa renovação da sua orla, que agora conecta o Cabo Branco a Manaíra em termos de hotéis e restaurantes. Como a capital da Paraíba tem uma movimentação bem menor que o Recife, o turista que vem com a família acaba preferindo pegar a estrada para JPO sem ao menos conhecer o Recife, que acaba sendo apenas uma estação de transbordo pelo número de conexões de outras cidades menores para as suas vizinhas.
O movimento também se dá pela dificuldade de cidades como Recife e Natal de atraírem mais turistas para lazer. Primeiro pela falta de atrações, como o caso da capital pernambucana, que já perdeu turistas para Porto de Galinhas - cuja rede hoteleira tem uma política própria de atração de turistas internacionais, especialmente da Argentina, que é seu maior emissor.
E acontece pelo esgotamento de Natal, que já foi o maior destino de turistas depois do Ceará e que sofre com a localização de seu aeroporto (São Gonçalo do Amarante), a 60 quilômetros da capital e que acaba sendo um custo para os turistas dos estados do Ceará, Paraíba e Pernambuco, que sempre iam para Natal de avião.
No caso de João Pessoa, o movimento é mais forte porque a rota virou uma alternativa a Porto de Galinhas e Natal por terra. Na prática, ficou muito mais barato descer no Recife, locar um carro ou contratar um motorista de aplicativo do que comprar um trecho para as duas cidades de avião.
O preocupante desse fenômeno é que acaba aumentando o interesse do turista de outras cidades em ir direto para João Pessoa, cujo aeroporto teve alta de 16,10%, com um total de 172,2 mil passageiros.
Isso já existe em relação a Porto de Galinhas em relação ao turista internacional. Agora está acontecendo com o turista nacional, que incluiu João Pessoa com o mesmo procedimento. Chegar ao Aeroporto do Recife e procurar a capital da Paraíba. Com o agravante para Natal, que está perdendo turistas pelo custo absurdo das passagens aéreas partindo do Recife.