De primeira blogueira à destaque no empreendedorismo nacional

A recifense Camila Coutinho revolucionou o mundo dos blogs e agora atua à frente de três marcas: ela própria, o portal GE e GE Beauty

Publicado em 24/09/2024 às 21:50

Blogueira, influencer ou empresária, uma coisa é certa: Camila Coutinho é um fenômeno. A recifense mudou o rumo na criação de conteúdo na internet desde muito antes de todo boom das redes sociais. Além disso, ela também se tornou referência no marketing das suas marcas. 

Camila, atualmente com 36 anos, se tornou um nome de destaque nacional, e até internacional, como a primeira blogueira de moda do Brasil, através do seu site "Garotas Estúpidas", criado em 2006 e eleito o quarto blog de moda mais influente do mundo em 2013. Muitos não sabem, mas Camila é formada em designer de moda em uma faculdade do Recife e foi como um hobby que se tornou pioneira no ramo de blogs, criando o primeiro de moda do Brasil. Para reunir toda sua trajetória, Camila escreveu o livro “Estúpida, eu?” para contar como começou sua história com o blog Garotas Estúpidas.

O seu blog nasceu em uma madrugada de insônia de 4 de julho de 2006, para facilitar e reunir todas as notícias do mundo de moda e celebridades, que ela comentava nos encontros com as amigas, em um só lugar. Em um ano de uso do blog, ela já tinha mais de 2 mil visitantes diários e, na época que lançou o livro, tinha 1 milhão de visualizações por mês. “R$450. Foi exatamente esse o meu primeiro investimento no GE, que foi a compra do domínio, o layout e a marca que usei por oito anos, até 2014”, afirma Camila.

Em entrevista ao JC e à coluna João Alberto, Camila conta um pouco sobre a sensação de crescer em um meio desconhecido. “Era muito diferente a percepção das coisas na época do que hoje, que a pessoa bomba na internet e tem esse feedback rápido. Na época era tudo muito novo, ninguém sabia muito o que estava acontecendo. Então eu comecei a ser reconhecida na rua, muito de pouquinho em pouquinho, comecei a receber uns presentinhos, o shopping day que eu fiz no Nez Bistrô e contei no livro. Era um retorno bem físico, de ‘meu deus, as pessoas estão aqui’”, explica Camila.

Além dos encontros pessoais com os seguidores da página, Camila reforça que o reconhecimento pelos anunciantes ou pessoas usando roupa parecida reafirmaram a sensação de que ela estava seguindo o caminho certo. A recifense ainda reforça que no início do blog, ela era a única pessoa à frente, não tinha uma equipe, fazendo com que ela aprendesse diversas áreas. “Eu tinha um contato muito próximo, não só com a audiência que eu ainda tenho, mas também ia fazer reunião, tinha contato direto, apresentava minhas iniciativas, ideias, prospectava, decidia se fechava ou não. Foi bem rico, pois era uma época que estava tudo sendo construído ainda e eu acompanhei essa evolução”, afirma a empresária.

Atualmente, o GE tem mais 1,3 milhão de seguidores no Instagram, Camila Coutinho mais de 3,4 milhões e o GE Beauty 108 mil seguidores.

Do Garotas Estúpidas à Camila Coutinho

Após o sucesso do blog e a evolução do Instagram, a própria Camila Coutinho se tornou uma marca, pois era o seu rosto que divulgava o GE e sua presença que marcava os eventos. Foi-se assim criando mais um investimento, além do Garotas Estúpidas.

Em entrevista ao JC, Camila reforçou que sempre se considerou empreendedora. “O blog é um produto digital, e muitas vezes as pessoas só te reconhecem como empreendedora quando tem um produto físico, mas é só olhar para 19 anos atrás o que era o mercado de blog e o que é hoje, muito mais profissional, muito mais estruturado. O produto ‘Camila’ surgiu do Garotas Estúpidas, né? Então, como eu comecei antes do Instagram, não tinha meu nome era a marca GE, eu não achava que as pessoas iam querer saber quem eu era e fui descobrindo que eu aparecendo as pessoas gostavam mais. Então, quando surgiu o Instagram eu pensei, se eu não fizer essa separação agora pode ser que o GE morra e eu tenho dois produtos aqui que podem sobreviver independente, editorialmente falando, que era a minha prioridade naquele momento”, explica a recifense.

Foi com o surgimento do Instagram que Camila ficou à frente de dois perfis: o portal Garotas Estúpidas, para falar sobre moda, beleza e notícias de celebridades; e o perfil de Camila Coutinho, como influenciadora digital, mostrando seu lifestyle.

“Foi assim que o produto Camila começou a ganhar mais força, era tudo na primeira pessoa, o público se interessa pela sua vida, você faz diversas viagens por ano, eventos de moda, Fashion Week. Mas, depois de um tempo, eu já morava em São Paulo, não era mais casada e comecei a perceber que eu estava sentindo muita falta de ter laços, algo que eu valorizo muito na minha vida e percebi que era a hora de reorganizar minha vida”, afirma a influenciadora.

Camila também contou que para isso, durante o momento de desvincular o seu nome ao do Garotas Estúpidas, ela construiu uma base de audiência, uma comunidade forte e independente. “O que acontece no GE não tem nada a ver com o que está acontecendo comigo. São coisas completamente independentes, sendo o meu papel no GE algo estratégico e macro. Nossa missão como um grupo e todas as marcas envolvidas estão alinhadas para formar pensamento crítico nas nossas seguidoras para que elas formem a opinião própria com o que está acontecendo no mundo.”, reforça. Para o futuro, Camila afirmou que “em breve o GE vai virar uma coisa além de um portal de notícias”.

De Camila ao GE Beauty

Depois de ter consolidado o seu nome mundialmente, ter agregado valor à marca Camila Coutinho e sua grande autoridade de influenciadora digital, Camila sentiu que era o momento de organizar o fluxo de trabalho e voltar às raízes. “Tudo começou com um boato de plágio, que resultou em uma ideia maravilhosa que era criar a minha própria marca. Fazer algo da maneira que eu acredito e trocar toda essa minha vida de avião por uma vida no escritório, com mais rotina, que é o que eu quero, sem deixar de trabalhar nessa área”, relatou na entrevista com o JC.

No início Camila estava em dúvida se seguia no ramo de cabelo ou de maquiagem para criar uma marca. No entanto, como ela estava interessada em cabelos naturais, começou a pesquisar os conceitos e achou que contribuiria mais com o mercado se seguisse na área capilar. “Eu acho que eu poderia contribuir muito mais em cabelo, que é a paixão da brasileira. É uma loucura, se você puxa os números, a brasileira ela consome muito cabelo mesmo ganhando muito menos que a europeia. O Brasil também tem a maior diversidade capilar do mundo”, reforça.

Reprodução/Instagram
Camila está à frente do seu perfil como influenciadora, do portal Garotas Estúpidas e da GE Beauty - Reprodução/Instagram

Depois de alguns estudos, surgiu em 2020 a primeira unidade da GE Beauty, no Shopping Recife, que, atualmente, já tem mais três unidades, sendo uma no RioMar Recife, uma em Fortaleza e outra em São Paulo. A marca propõe transformar a relação das pessoas com seus cabelos, criando um momento de autocuidado e respeitando a forma natural deles.

A valorização das raízes

Durante a entrevista, Camila reforçou a importância do Nordeste e de Pernambuco para ela e também o orgulho de levar o estado para todo Brasil e para outros lugares do mundo. “É uma riqueza, você saber o que é o Brasil. Você não consegue criar produtos ou criar serviços se você não sabe pra quem você está criando. Então se você conhece as várias culturas que tem dentro do seu país, é algo super positivo”, afirma a empresária. “Eu trago uma bagagem comigo, mas também aprendo todos os dias mais sobre minha própria cultura e isso me dá muito repertório e faz toda a diferença no meu conhecimento, na minha originalidade. Quanto mais eu me aproprio de ser pernambucana, mais a minha autoestima se fortalece’, completa. A recifense reforça a importância de sempre falar sobre os ícones pernambucanos com orgulho, usar, vestir, postar e espalhar a cultura do estado.

Reprodução/Instagram
Valorizando os artistas locais, Camila se encontrou em junho com o artista J. Borges que faleceu recentemente, para conhecer seu ateliê - Reprodução/Instagram

Camila relatou que não foi um desafio ser nordestina e se adaptar à São Paulo, mas que, ainda sentiu uma boa resistência por ser mulher e influenciadora. “Era desafiador dar minha opinião em uma sala profissional, que geralmente só tem homens, e colocar um limite ou dando um feedback negativo. As pessoas se assustam ainda com ver uma mulher tendo esse tipo de posicionamento”, afirma.

Para as mulheres que estão começando a empreender Camila reitera que “empreender para a mulher é diferente de empreender para o homem. Não estou falando das dificuldades em si, mas do significado. Para uma mulher empreender, muito mais do que ganhar o dinheiro é ter independência. É você poder escolher como você quer viver a sua vida. Isso é muito forte. Então, assim, às vezes, no Brasil, sendo o Brasil como é, é a única maneira da mulher ter a independência dela”, reflete.

“Se eu pudesse dar uma dica, eu diria para as mulheres sempre irem em busca da independência delas nas escolhas. Qualquer que sejam essas escolhas. Com quem, com o que elas vão trabalhar, se elas vão casar, se elas não vão, se elas vão ter filhos, se elas não vão.. Que a gente busque sempre se colocar em situações que a gente possa entrar e sair quando der na telha. É mais difícil na prática do que falando, mas por isso a gente se engaja tanto em iniciativas como GE Formando Líderes, porque a gente sente que pode contribuir para isso.

Perguntada sobre um possível segundo livro, Camila respondeu que sim, pretende escrever outro livro, mas que outros projetos tomaram seu tempo. “Para escrever o primeiro, eu tinha uma síndrome do impostor. Então eu sempre olhava os textos e falava, ‘tá muito internet, tá muito informal, não vai servir pra nada esse texto’. Depois percebi que é um texto mais leve e acho que eu tenho muito mais repertório hoje em dia pra escrever de uma outra maneira”, relata.

Completando a maioridade no empreendedorismo, uma coisa é certa: "De estúpida", Camila não tem nada. 

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