"Escreve-se cada vez melhor"
O escritor Raimunjdo Carrero lança quadrilogia hoje, no Recife
Depois de lançar a edição especial da quadrilogia "Ceifa sangrenta em campo de batalha" pela Oia Editora em São Paulo, o escritor Raimundo Carrero, da Academia Pernambucana de Letras, faz o lançamento do box com os quatro livros esta noite, no Recife. O evento começa às 7:30 da noite, no Centro Cultural que leva o nome do escritor, na Av. João de Barros, 1.468, sala 108.
Em entrevista à Literária, Carrero reafirma seu traço armorial, fala um pouco sobre cada uma das obras da quadrilogia e elogia a produção literária contemporânea brasileira: "Os grandes nomes literários são os melhores da história", diz o autor de "As sombrias ruínas da alma", vencedor do Prêmio Jabuti em 2000, e de "A minha alma é irmã de Deus", com o qual recebeu o Prêmio São Paulo de Literatura em 2010.
JC - O que representa a reedição dessas obras em uma quadrilogia, ao mesmo tempo, hoje, num box?
Raimundo Carrero - Creio que a melhor resposta está na magnífica introdução de José Castello. Nestes quatro livros de juventude encontra-se a mente do escritor em permanente agitação, em busca dos seus caminhos e de sua voz narrativa, formulando os temas, enfrentando seus personagens. Desde minha estreia sou armorial, claro. Integro e sempre integrarei o Movimento Armorial por absoluta comunhão de ideias com Ariano Suassuna, de quem herdei a técnica e todas as ideias.
JC - O lançamento começou por São Paulo. Como foi lá? O que há de diferente entre seus leitores de Pernambuco e de fora do estado?
Raimundo Carrero - O box foi lançado em SP por decisão da editora, não há distinção entre leitores pernambucanos e paulistas, a questão é de logística, porque a crítica considera um livro lançado quando chega às livrarias, e a distribuição começa em SP. O lançamento na cidade original da editora é uma homenagem aos seus leitores, que lhe são fiéis sempre.
JC - Por que "Ceifa sangrenta em campo de batalha" para sua safra mais política?
Raimundo Carrero - A safra é da condição humana, com destaque para a política porque compreende o período da ditadura e era inevitável. Mas há um dado essencial: "Os Extremos do Arco-íris" é uma pequena história da poesia pernambucana a quem presto homenagem, desde Bento Teixeira a Alberto Cunha Melo, nosso grande poeta político.
JC - Como sintetiza "A dupla face do baralho"?
Raimundo Carrero - O ser humano é uma peça que tanto pode torturar e matar quanto pode desejar e amar. Fui em busca da compreensão deste enigma. Me fiz de entendedor e vasculhei a mente do meu personagem, que ali é intenso e tenso como de resto toda a humanidade. Encontrei um personagem perverso entre o ódio e o afeto.
JC - E "Viagem no ventre da baleia"?
Raimundo Carrero - É o meu livro mais completo, com uma visão do mundo a partir do Recife e de Pernambuco, reunindo tudo o que têm de contraditório.
JC - E o que se escuta na "Sinfonia para vagabundos"?
Raimundo Carrero - Na "Sinfonia para Vagabundos" ouve-se o grito e o gemido da multidão de desgraçados que vivem no centro do Recife e das grandes cidades do Brasil, é o retrato do mundo contemporâneo. Apesar da simplicidade é um livro que testemunha a dor de um mundo que morre agora ou vive para sempre. Este é o momento da imensa tortura da nossa civilização, se é que existe mesmo uma civilização.
JC - O Sr. é uma referência não somente de leitura, mas de formação para a nova geração de escritores. Como observa a cena literária brasileira e nordestina contemporânea?
Raimundo Carrero - O Brasil vive hoje um momento de grande agitação literária, o que parece contradição, quando as livrarias estão fechando, mas escreve-se sempre cada vez melhor. Os grandes nomes literários são os melhores da história. Marcelino Freire tem uma obra bela e contestadora. São dele alguns dos melhores contos do nosso tempo. Na poesia temos o que mais notável se escreve, como é o caso de Micheliny Verunschk.