Um imenso convite à leitura
Na edição histórica de 40 anos, a proposta do trio de curadores da Bienal do Livro do Rio é oferecer debates em formatos diferentes para novas conversas
Em 40 anos de história, a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro é um dos mais esperados eventos do mercado editorial brasileiro, desde que foi criada em 1983, pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros - SNEL. Onde leitores, autores, livreiros e editores se encontram, numa festa grandiosa com a duração de dez dias, que em 2023 volta a ocupar três pavilhões do Riocentro. Uma verdadeira pequena cidade para os livros. Cada estande é um ponto de convivência, além de ponto de venda. Um lugar para se perambular entre as palavras que saltam das capas e das obras folheadas pelo público de todas as idades, das crianças e adolescentes da tradicional visitação escolar, até leitores maduros que exploram a Bienal como quem desbrava um sonho de infância.
As palavras também saltam das múltiplas atividades de conteúdo, na programação oficial e na agenda dos expositores, que não perdem a oportunidade para divulgar os nomes por trás dos livros. Para a edição comemorativa de quatro décadas, que começa hoje, a organização aposta na curadoria de jovens talentos da literatura, não apenas para refletir a identidade com o público que lota o Riocentro há tantas Bienais, mas para renovar o debate cultural que extrapola o universo literário. Para essa missão, foram chamados Mateus Baldi, Stephanie Borges e Clara Alves, que não participam das curadorias para o público infantil e o audiovisual, mas foram responsáveis, desde março, pela montagem da agenda das duas principais arenas de debates.
“A Bienal está na minha formação literária. Foi na Bienal que comprei um livro pela primeira vez, aos 6 anos. Então estar dentro dela, fazendo parte da curadoria, é incrível”, diz Mateus Baldi. Poeta premiada pelo concurso nacional da Cepe, a escritora e tradutora Stephanie Borges conta a emoção do convite recebido para fazer parte do time de curadores. “Eu comecei a ir pra Bienal criança. De repente, a Bienal está fazendo 40 anos, e eu também, daqui a pouco, ano que vem”. Para ela, a afetividade envolve as gerações que passaram pelo evento, como sua mãe a levou, e ela já foi com sua afilhada. “Todo mundo que vai tem uma história com a Bienal, ela transforma vidas, ajuda a criar o gosto pela leitura, traz novos encontros, novas percepções sobre nós mesmos, sobre o Brasil”, concorda Baldi.
Como leitora apaixonada de uma autora estrangeira, ela se lembra de ter ficado quase o dia inteiro na Bienal do Rio para pegar o autógrafo da escritora. Pela primeira vez na curadoria de um evento literário, Clara Alves confessa a empolgação para ver tudo acontecer, a partir desta sexta-feira. “É uma honra, e um aprendizado enorme, integrar um coletivo curador”, afirma. Segundo ela, a diversidade está presente na representatividade literária de autores e autoras de várias partes do país. “Tem tanta história pra contar, e tanta gente pra trazer”, diz Clara Alves. “É incrível poder fazer um pouquinho por nossa literatura, é o que mais me alegra”. Clara Alves também estará na Bienal do Livro de Pernambuco, em outubro, como convidada.
Para Mateus Baldi, “essa é uma edição que celebra a vivacidade da Bienal, esse organismo vivo, pulsante, no qual tanta gente se encontra. A programação reflete isso em mesas que são grandes encontros entre escritores, filósofos, jornalistas, pensadores”. A pulsação na cidade dos livros acompanha uma renovação de público e de expositores. “É muito gostoso ver como a Bienal foi ficando mais diversa em vários termos, de público e de presença das editoras e dos autores”, aponta Stephanie Borges. E a Bienal do Rio pode ser um incentivo para que outros eventos pelo país cresçam, na visão de Clara Alves. “Assim abraçamos cada vez mais a diversidade”.
O cuidado da organização do SNEL e dos curadores com a programação indica a consagração de uma edição especial, em que a variedade do público se completa com a multiplicidade de temas e abordagens nos debates. O cruzamento de olhares e escritas é percebido na escolha dos nomes em cada mesa, desde a primeira, na abertura de hoje, reunindo autores consagrados que fazem parte da história da Bienal, como Ruy Castro, Ana Maria Machado, Thalita Rebouças, Mauricio de Sousa e a própria Clara Alvez, uma das curadoras.
“Um dos desafios era propor conversas diferentes. E aí pensamos em alguns formatos inéditos de mesas”, explica Stephanie. Um dos formatos é o que foi chamado de “Em primeira pessoa”, onde um escritor ou escritora de renome terá alguns minutos para falar sobre sua trajetória, sua relação com os livros, e depois será entrevistado por outro escritor ou escritora. Um desses encontros será de Conceição Evaristo com Eliana Alves Cruz. Outro formato é o “Entra na roda”, em que um autor internacional será entrevistado por quatro pessoas. “Temos uma programação bastante diversa, com debates que pensam o Brasil em suas múltiplas formas. O público vai ter contato com muitos autores, que seguramente irão trazer novas possibilidades de leitura”, acredita Mateus Baldi.
Com toda a grandiosidade de um evento desse porte, a Bienal é feita para que as pessoas interajam com a literatura. E uma das mais belas cenas repetidas nas bienais, como no Rio, em São Paulo ou Pernambuco, é a presença infanto-juvenil. “Para muitas crianças e adolescentes, talvez seja a primeira experiência de ir pra um lugar e descobrir que existe tudo aquilo de livro”, avalia Stephanie Borges. Para ela, a Bienal acaba atraindo os leitores apaixonados, mas também os que possuem com os livros uma relação casual, se mostrando a todos como um convite à leitura.
O convite vale para a diversidade espalhada pelos três pavilhões do Riocentro. Na programação oficial, a valorização do autor nacional é um dos focos. Escritores de fora serão entrevistados por escritores brasileiros. “Às vezes as pessoas já conhecem o estrangeiro, mas não conhecem autores nacionais que têm afinidade com os mesmos temas. São os temas desses autores que vão criando os pontos de conversa”, antecipa Stephanie Borges.
A Bienal do Livro do Rio é um imenso convite – para o mundo dos livros e para a diversificação da leitura do mundo.
Destaques na programação de hoje
Sexta 1/9
17h – 40 anos de Bienal: Uma celebração
Com Thalita Rebouças, Ana Maria Machado, Ruy Castro, Mauricio de Sousa, Clara Alves e Rosa Maria Araújo
18h – Sextou com Simas
Com Luiz Antonio Simas, Marcelo Moutinho, Bruna Beber, Alberto Mussa
19h – As muitas cores de um defeito de cor
Com Ana Maria Gonçalves, Paulo Lins, Antonio Gonzaga, André Rodrigues, Cidinha da Silva e Alexandre dos Santos
Confira a programação completa no site: www.bienaldolivro.com.br