Onde está o sentimento do mundo?
Expressão do olhar poético de Drummond é o mote para espiar a realidade trágica de nossa época
Somos cidadãos globalizados num planeta que se apequena, mas não deixamos de ser obra e rastro de algum lugar. Como Carlos Drummond de Andrade, de Itabira, com o “sentimento do mundo” a se remoer em palavras que nunca bastam. Ou judeus que se espalham por diferentes nações, unidos por tradições e laços de fé. E palestinos aprisionados num quintal à beira do mar, esperando portões abrirem para a salvação momentânea, enquanto não continua a caça aos terroristas entre nós.
Somos reféns famintos, doentes, perdidos, longe de casa sem o que fazer para voltar. Sabemos que temos sorte, diante da morte tão próxima feito o ar poeirento, o olhar do algoz, o tempo suspenso de sentido no cotidiano bombardeado. Alguma linha fina e forte nos prende à realidade sequestrada, paralela ao horror de onde ninguém sai.
“É difícil sofrer tudo isso”, como escreveu o poeta. “Amontoar tudo isso” em imagens estalando a retina, ao vivo, a cada agora uma expectativa pior que a outra, no encadeamento de instantes transmitidos para os reféns de notícias que também somos nós. Como sair da agonia de uma espera inclemente pela tragédia em que todos estamos, náufragos do mundo de sentimentos afogados?
Queremos criar a vida futura – mas não permitimos crianças livres, que possam ser crianças para o futuro nascer. Somos reféns da história, da sombra e do medo de passados distantes, mas presentes. O que resta da humanidade em escombros de fúria e sangue? Onde está o sentimento do mundo, no silêncio da poesia?
Brasil em Frankfurt
A escritora e editora Paula Valéria Andrade (na foto com a poeta Luiza Romão) é uma das brasileiras participantes da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha. Selecionada no Creative SP, do governo de São Paulo, como editora da SPVI Books, ela integra o grupo no estande Brazilian Publishers, iniciativa para internacionalização da literatura e do mercado editorial, que tem o apoio da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Dez empresas paulistas foram escolhidas para ir ao evento, que se encerra hoje.
Jaraguá do Sul
Teve início na última quinta e vai até o próximo domingo, 29, a Bienal Internacional do Livro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. Na programação de hoje, o psicanalista Christian Dunker fala sobre “O luto e a experiência humana da perda”. Na terça, 24, destaque para a presença da autora de “Pixel”, a húngara Krisztina Tóth. Na quinta, 26, Natália Timerman fala sobre “Narrar, perder, amar”. Confira a agenda completa em www.bienaljaragua.com.
Live Livronews
Tem Live Livronews neste domingo com Ingrid Fagundez, sobre “A literatura a partir do sonho”, tema de curso online que ela ministra pela Escrevedeira, começando na terça, 24. E na segunda, a live é com a escritora Marta Barbosa Stephens, que está lançando “As viúvas passam bem” pela Folhas de Relva. Assista pelo Instagram @livronewsnoinsta.
Festa no Paraná
A Biblioteca Pública do Paraná realiza a sétima edição de sua Festa Literária (Flibi), a partir desta segunda, 23. Com o tema “Mil vezes literatura”, o evento tem entrada gratuita e segue até o sábado com oficinas e debates, além de música, grafite, cinema e teatro. Participam, entre outros, Ana Martins Marques, Giane Lessa, Guilherme Gontijo Flores, Luci Collin, Ricardo Corona, Simone Brantes, Veronica Stigger e Vitor Paiva.
Sarau da Boa Vista
Na quinta, 26, o Sarau da Boa Vista presta homenagem a Si Cabral, artista, cordelista e livreira. Participam do evento como artistas convidados: Valmir Jordão, Evandro Nego Bento, Ana Rosa Wanderley e Tamires Driely, entre outros. A organização é de Aldo Lins, curador do sarau. No Largo da Santa Cruz, a partir das 7 da noite.
Cartas a uma negra
No próximo sábado, 28, o Astrolabio oferece em atividade online o Clube de Leitura Narrativas Plurais, com “Cartas a uma negra” de Françoise Ega, “um dos documentos literários mais significativos e tocantes sobre a exploração feminina e o racismo no século XX”. A mediação será por Dayane Teixeira, das 10h30 ao meio-dia. Inscrições em www.sympla.com.br/oastrolabio.
Na Escrevedeira em novembro
Divulgada a agenda do próximo mês na Escrevedeira. Entre as opções presenciais em São Paulo e online, há cursos sobre literatura e psicanálise, as personagens de Clarice Lispector, as artes do texto, Italo Calvino e Edgar Allan Poe. E mais, oficinas com Veronica Stigger sobre “Construção, destruição, reconstrução do texto”, com Marília Librandi sobre “Jogo de cartas e de escrita” e com Luana Chnaiderman de redação para o vestibular. Nos clubes de leitura, “A metamorfose” de Kafka e “Violeta” de Alberto Martins. Para mais informações, acesse www.escrevedeira.com.br.
Um sábado qualquer
Carlos Ruas traz “O melhor de um sábado qualquer”, coletânea das tirinhas que reúnem 2,7 milhões de seguidores no Facebook e 756 mil no Instagram. “Com muito humor, os quadrinhos falam sobre espiritualidade, religião, filosofia e comportamento humano, personificando conceitos abstratos e refletindo sobre fé, moralidade, existência e a complexidade da vida cotidiana”, diz a divulgação. O autor possui nove livros publicados, e ganhou em 2012 o troféu HQMix na categoria Webtiras.
Pernambuco no Prêmio Off Flip
O Selo Off Flip divulgou o resultado da premiação Nordestes - Poesia. Foram 192 inscritos e o poeta recifense Túlio Velho Barreto, atualmente diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), ficou em terceiro lugar. O poema foi “Para Clarice”, que se refere à escritora Clarice Lispector. Segundo o autor, “não deixa de ser uma denúncia poética à situação de abandono em que se encontra o sobrado onde ela morou na juventude no Recife”. O livro Nordeste - Poesia será lançado em 24 de novembro, durante a Flip 2023, em Paraty, no Rio de Janeiro. Vale recordar que o autor também figurou entre os finalistas do Prêmio Off Flip de Literatura 2023, na categoria Poesia, com o “Poema de Areia”, em coletânea que será lançada no evento.
As mãos da minha mãe
A Instante publica no Brasil o primeiro romance de Karmele Jaio, do País Basco. Em tradução de Fabiane Secches, “As mãos da minha mãe” aborda temas como a doença de Alzheimer, a emigração e a conciliação da vida familiar com o trabalho para as mulheres. A obra foi adaptada para o cinema em 2013, e a tradução do livro para o inglês recebeu o English Pen Award em 2018.
Drummond e Ziraldo
Chegou às livrarias a 19ª edição de “História de dois amores”, de Carlos Drummond de Andrade, com ilustrações de Ziraldo. A obra, publicada pela primeira vez em 1985, narra a amizade entre um elefante e uma pulga. A nova edição vem com esboços das ilustrações e a foto de Drummond e Ziraldo, no circo, junto a um elefante. O texto da orelha é de Ana Maria Machado, da Academia Brasileira de Letras. Publicação da Record.
Manet no Rio
Em bela edição de luxo da Ercolano, “Manet no Rio” brinda o leitor com imagens de obras do artista Édouard Manet, além de croquis originais, produzidos no Rio de Janeiro. O livro reúne cartas do jovem Manet em viagem à cidade, no século XIX. Com tradução e notas de Régis Mikail, prefácio de Alecsandra Matias e posfácio de Felipe Martinez.