Um endereço de livros e leitores
Livraria da Tarde faz quatro anos com festa, encontro de leitores e autores, neste sábado
São apenas quatro anos, com uma pandemia que parecia interminável no meio. Mas a Livraria da Tarde já conta com a frequência habitual de muitos leitores em São Paulo, que se sentem em casa no estabelecimento da rua Cônego Eugênio Leite, em Pinheiros. Fruto de uma mudança de vida da proprietária, Monica Carvalho, a Livraria da Tarde faz festa de aniversário, neste sábado. A agenda de celebrações se estende das 10h às 18h, com “autografaço” de vários escritores e escritoras, sorteios de livros, sorvete e bolo. Para a livreira, a experiência dos leitores é marcante: “Diariamente vejo pessoas abraçando um livro, falando apaixonadamente sobre histórias que leram, narrativas que a encantaram ou poemas que a emocionaram”, conta, nesta entrevista para a Literária.
JC - Como surgiu a vontade de abrir uma livraria?
Monica Carvalho - A Livraria da Tarde surgiu de um sonho meu de viver entre os livros, de trabalhar com cultura, de contribuir para a formação de novos leitores. Depois de 18 anos trabalhando no mundo corporativo, decidi fazer uma transição de carreira e a escolha foi por realizar esse sonho.
JC - O que foi essencial para abrir o negócio?
Monica Carvalho - Planejamento, suporte e conhecimento do mercado. Antes de abrir a livraria pesquisei muito o mercado interno e externo, conversei com muita gente experiente e tive o apoio da Quincas Consultoria que foi essencial para a abertura da livraria.
JC - Quais os focos da Livraria da Tarde? Houve mudanças de 4 anos pra cá?
Monica Carvalho - O foco sempre foi literatura, seja ela nacional ou estrangeira, nosso acervo é muito rico em ficção (prosa, poesia) seja para adultos, jovens e crianças. Com o tempo, percebemos que havia interesse por livros de Psicanálise. Como sou da área, faço uma boa curadoria e isto acaba atraindo bastante o público de psicanalistas e interessados.
JC - No meio do caminho tinha uma pandemia. Como foi essa travessia?
Monica Carvalho - Foi dura. Mas estávamos todos passando por isso, então recebemos muito apoio de amigos, clientes, admiradores. O fato é que superamos, sem grandes danos.
JC - O mercado editorial recebeu grande impacto com a pandemia? E depois, o que você observa no cenário para as livrarias?
Monica Carvalho - Não acredito que o “mercado editorial” como um todo tenha tido tanto impacto. Muitas editoras por exemplo, tinham os canais online de vendas, como as grandes magazines e marketplaces (que por sinal cresceram absurdamente), e também seus sites de vendas diretas. As livrarias que não tinham esse canal é que sofreram e sofrem até hoje, porque o mundo mudou depois da pandemia. As pessoas aprenderam e gostaram de fazer compras sem sair de casa e ainda conseguir bons descontos. Com o fim da pandemia, as lojas físicas (o comércio em geral) ainda não voltaram ao patamar de vendas que tinham antes. Estamos vivendo um novo processo, nos adaptando a essa realidade, aprendendo como atrair os leitores para a livraria, a conscientizar as pessoas de apoiar as livrarias de rua, já que elas não apenas comercializam livros, mas também oferecem clubes de leitura, saraus, lançamentos de livros, contação de histórias para crianças, entre outras ações que fomentam a formação de leitores.
JC - Como livreira, qual sua avaliação do mercado, em São Paulo? E no país?
Monica Carvalho - São Paulo vive um momento muito positivo para as livrarias de rua/bairro. A cada ano têm surgido muitas livrarias novas, em diferentes bairros da capital. Infelizmente não acho que esta seja uma realidade do Brasil. Recebo muitas mensagens pelas redes sociais de pessoas dizendo que gostariam de ter uma Livraria da Tarde na sua cidade que não tem nenhuma livraria. Sou otimista, vejo isso como uma oportunidade. Mas precisamos de políticas públicas que apoiem a abertura e permanência de livrarias. Penso que a Lei Cortês já seria um ganho muito importante para nós.
JC - O que é uma livraria pra você, Monica?
Monica Carvalho - A livraria primeiramente é um lugar de encontro do leitor com os livros, autores e livreiros que amam os livros. Mas também é um lugar de descobertas, de aprendizagem, de formação de leitores. É lindo acompanhar as crianças se tornando leitoras, se apropriando dos livros, das histórias, ganhando repertório de linguagem. É também um lugar de afeto, acolhimento, troca de saberes, compartilhamento de paixões. Diariamente vejo pessoas abraçando um livro, falando apaixonadamente sobre histórias que leram, narrativas que a encantaram ou poemas que a emocionaram. O livro e a literatura são muito potentes, e as livrarias se tornam especiais por serem a casa deles.