A leitura faz o futuro
Recordações de um casal inspirador que transformou a vida dos filhos e das gerações posteriores pela busca incansável da educação
Nos últimos dias de um ano qualquer, imaginamos olhar nos olhos do tempo, no fascínio do limiar entre o que passou e o que será – entre o definitivo e o desconhecido, como a mirar um espelho em que a nossa própria imagem brilha e esmaece. Como a memória acendendo e apagando para nos contar quem somos. Na transição prolongada de ontem ao amanhã, nem sempre a recordação primordial é imediata: para que a mudança aconteça, e o sonho se realize, uma força propulsora persistente e irresistível atua. Um futuro só desponta, de outros possíveis, porque a transformação do passado floresce. Dos ancestrais que trazemos na pele, no sangue, na lembrança, vem a faísca que converte o futuro em presente.
Ao lado de seu Joaquim, sem escolaridade mas leitor contumaz e grande orador, companheiro de objetivos que renderam sacrifícios e conquistas por gerações, Dona Iluminata tirou do solo do Sertão paraibano a coragem, a sabedoria e a visão para erguer um futuro diferente para os filhos. Mãe de doze rebentos, abraçou o destino nas vestes de “heroína incansável, destemida e resoluta” para libertar os descendentes dos “grilhões da estratificação social onde estávamos aprisionados, não pensando em sua libertação”, lembra um dos filhos, Salatiel, no prefácio do livro escrito pelo irmão Eliezer sobre a saga dos pais em “Iluminata e Joaquim Inácio – Exemplos de resistência sertaneja”.
Eliezer Menezes conta, em verso e prosa, uma história emocionante de obstinação, superações e fé nos estudos. A história de Iluminata e Joaquim relata o percurso de “um casal humilde, de origem paupérrima, que transformou em realidade, após longa e difícil trajetória, o sonho inacreditável de promover a educação de todos os filhos”. Graças à leitura de mundo que fizeram, puderam mudar o futuro, oferecendo aos filhos o maior de todos os presentes – a potência do conhecimento, acumulado durante séculos pela humanidade, para que cada indivíduo desperte a plenitude de sua capacidade de ser. Eis o sentido da famosa sentença do filósofo Francis Bacon, traduzida para o português como “conhecimento é poder”.
Na época em que a BR-232 nem asfalto tinha, D. Iluminata pegava um caminhão, no final de semana, levando o filho mais velho para ajudar, e ia vender tecidos e bijuterias em Cachoeirinha, saindo de Arcoverde. Como o caminhão não ia até lá, mãe e filho completavam a trilha a pé – por 18 quilômetros – aproveitando as casas no caminho para ofertar as mercadorias. Na família que não parava de crescer, faltava comida, e a fome deixou lições de vida. Mas a prioridade do casal era a escola dos filhos, e os três mais velhos foram para o colégio XV de Novembro, em Garanhuns, cursar o antigo ginasial, como bolsistas que trabalhavam na escola. Os demais ficaram em Arcoverde, onde também estudaram. O passo seguinte foi a universidade, no Recife. A família inteira se mudou para a capital em 1968, sempre com o propósito de ver todos estudando e trabalhando.
Nos versos de Eliezer: “E o mundo foi girando/ Muita coisa acontecendo/ A família aparecendo/ E no trabalho suando/ O futuro emoldurando/ Cada um no seu destino/ O sonho desde menino/ Por ele estabelecido/ Alcançando o merecido/ Na vida de peregrino”. A roda que alterna horizontes e chegadas não cessa. A inspiração de Joaquim Inácio e Iluminata é uma mostra do suor que custa o futuro, na projeção de quem mira e persegue o objetivo traçado. E da poesia emanada na luz de quem lê o tempo que habita feito obra escrita pelos atos, envolta no amor de viver.
Ramon e Nina
Laura Mocelin revela seu primeiro livro infantil, escrito e ilustrado por ela. “Ramon e Nina” nasce de uma experiência pessoal, expandida para a literatura. “Escrever um livro é descobrir um novo mundo. Trabalho como ilustradora desde 2019, mas nunca pensei em criar minha própria história. Isso aconteceu de forma natural, quando um afilhado me mostrou o tanto de sentimento que cabe dentro de um coração. Essa história é para ele e para todas as crianças que precisam sentir, assim como eu precisava. Demonstrar afeto, sentir e sermos nós mesmos são as coisas mais genuínas que o ser humano é capaz”, diz a autora, em depoimento para a coluna. Siga no Instagram: @lauramocelinart.
Poente
Com idealização e direção do jornalista Flávio Pinheiro, a WMF Martins Fontes está lançando o selo Poente, focado na publicação de ficção de autores estrangeiros contemporâneos. Os dois primeiros títulos, já disponíveis, são “O coração do dano”, da argentina Maria Negroni, e “Fim de poema”, do espanhol Juan Tallón. Acompanhe as novidades da editora e do novo selo em @editorawmfmartinsfontes no Instagram.
A exposição
Com tradução de Letícia Mei, chega ao Brasil pela DBA “A exposição”, da arquivista e escritora francesa Nathalie Léger. “Misto de ensaio, romance, biografia, autoficção e crítica”, segundo a divulgação, a obra que apresenta a história de Virginia Oldoïni, a condessa de Castiglione, além de uma investigação sobre a beleza, a vaidade e a obsessão pela própria imagem, “reflete sobre a representação das mulheres e o protagonismo feminino nas artes”. Visite o site www.dbaeditora.com.br e saiba mais.
Livro sem nome
O primeiro romance de Paulo Henrique Passos será lançado nesta quinta, 4, na Biblioteca Pública Estadual do Ceará – BECE, em Fortaleza. A publicação é da Patuá. O autor do “Livro sem nome” conversa com Moacir Fio e Julie Oliveira, e recebe os leitores para sessão de autógrafos a partir das 18h. Siga @paulohenrique.passos no Instagram.
Escrita Criativa
Estão abertas as inscrições para a nova turma de pós-graduação em Escrita Criativa na UniFafire, no Recife. As aulas serão aos sábados, de março de 2024 a maio de 2025. Antes, de 15 a 19 de janeiro, serão oferecidos dois cursos de verão: Introdução à escrita afetiva – como nasce a escrita de cada um, com Ana Dourado e Briza Mulatinho, e Literatura infanto-juvenil em diversas linguagens, com Ana Dourado. Acesse www.fafire.br para mais informações.
O riso & o gozo
Oficina de escrita com Bruna Kalil Othero “mergulha na rica tradição do escárnio e do riso da literatura brasileira, encarando o humor como método e ferramenta estética”, segundo a divulgação do Astrolabio, que promove a oficina. Serão quatro encontros virtuais, às quintas, a partir de 18 de janeiro, das 19h às 21h. Mais informações e inscrições no site www.oastrolabio.com.br.
Lavínia Rocha
Ela publicou o primeiro livro aos 13 anos de idade. Aos 26, já tem 13 livros lançados, e uma legião de leitores no país inteiro. Além de escritora, a mineira Lavínia Rocha é professora de história, ganhando destaque como finalista do Prêmio Professor Porvir, cujo resultado será divulgado em 2024, com o projeto “África: um continente diverso”. Em 2023, promoveu curso de educação antirracista para professores, e lançou “Entre, corra e pule: aventuras (nada) virtuais pela África”, pelo Leiturinha, para o público infantil. No ano que vem, sai o volume final da trilogia “Entre 3 mundos”. Saiba mais e acompanhe a escritora e professora no site www.laviniarocha.com.br.
Brasileiros no exterior
Através do Programa de Apoio à Tradução e Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, a Fundação Biblioteca Nacional (FBN) selecionou os livros "O Cantico Voraz do Precipicio", de Bruno Gaudencio, e "Dicionario de pequenas solidoes", de Ronaldo Cagiano. As obras serão publicadas pelo portal Catalogus, de Moçambique, no primeiro semestre de 2024. Saiba mais no Instagram @catalogus.autores.
Mulheres fortes
O selo Auroras da Penalux abriu a pré-venda de “Mulheres fortes não ganham flores”, contos de Tatiana Pastorello. Para a autora, “publicar um livro é assumir a chave da nossa palavra. A chave que arreganha ao vento o que por séculos não dissemos”. Siga no Instagram: @seloauroras e @tatiana.pastorello.
Todas as eras de Hobsbawn
A Paz & Terra relança o box “As eras” com a trilogia de Eric Hobsbawn sobre a formação do mundo moderno. A caixa contém “A Era das Revoluções”, “A Era do Capital” e “A Era dos Impérios”, que chegam às livrarias com capas e edições revistas. O design de Leonardo Iaccarino visa atrair as gerações mais novas para a leitura da obra do historiador, falecido em 2012.
Bourdieu sobre Manet
A vida e a obra de Édouard Manet são abordadas em lançamento da Edusp. “Manet: Uma revolução simbólica”, de Pierre Bourdieu, com tradução de Rosa Freire d’Aguiar. O prefácio é do sociólogo Sergio Miceli. A edição traz imagens de obras de Manet, textos do historiador Christophe Charle e da crítica literária Pascale Casanova.
Entre dois silêncios
É da editora Ouro Sobre Azul o livro de poemas de Pedro Paulo Salles Cristofaro, “Entre dois silêncios”. Com ilustrações de Carlos di Celio e projeto gráfico de Ana Luisa Escorel, a obra tem apresentação de Geraldo Carneiro e Eros Grau. Mais informações no site www.ourosobreazul.com.br.
Dalgo Silva
A Cepe publicou a obra vencedora do VII Prêmio Cepe Nacional de Literatura, realizado em 2022, na categoria poesia: “Meu amor é político” marca a estreia do cearense Dalgo Silva. Segundo o texto da orelha, em seus poemas “o autor concilia o que há de mais importante na reflexão da identidade com o exercício formal do texto poético que brinca com a oralidade e inventa uma política dos afetos”. Siga a @cepeeditora no Instagram.
Editora Elefante
Em carta aberta aos leitores, o editor Tadeu Breda deixou mensagem de esperança para 2024: “Para nós, na Elefante, os livros são uma militância — que sabemos insuficiente diante de tantos e tão graves desafios, mas que é o que sabemos e queremos fazer, na esperança de que um dia, de alguma forma, em algum lugar, esses livros frutifiquem mundos melhores”.