Informação e convivência literária

Em debate na Rádio Jornal, Merval Pereira e José Paulo Cavalcanti falaram do papel de aprofundamento que une jornalismo e literatura

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JC

Publicado em 23/04/2024 às 20:13
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A alegria de conversar sobre literatura com o presidente da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, e com o multiacadêmico José Paulo Cavalcanti – da ABL, e também das Academias Pernambucana e Portuguesa de Letras – marcou o aniversário de um ano da coluna Literária do JC, na terça, no debate da Super Manhã na Rádio Jornal, com a mediação sempre caprichada de Natalia Ribeiro. O desafio de trazer de volta às páginas do jornal uma coluna de literatura, que já ocupa até três páginas inteiras numa mesma edição, tem se revelado gratificante para o colunista e o veículo, chegando de maneira regular a quem faz e quem lê livros no Brasil. Com abrangência nacional, as notícias distribuídas em breves notas, resenhas e entrevistas alcançam um público diferenciado, apaixonado não apenas por literatura, mas pela troca de ideias e a variedade de pontos de vista. O desafio aceito pelo JC, agora, é ampliado pela boa resposta do espaço de conteúdo dedicado à atividade literária e ao mercado editorial.
Natalia Ribeiro foi certeira ao falar da necessidade de aproximação, em um país marcado pelo distanciamento entre visões diferentes que, ao invés de dialogar, se excluem ou se atacam. Se a literatura é uma ponte, uma coluna Literária se atreve a criar uma rede de pontes para a travessia das ideias e perspectivas. “Uma das funções do jornal é espalhar conhecimento, distribuir informações”, disse Merval Pereira, criador do saudoso caderno Prosa & Verso, no jornal O Globo. “E aprofundar discussões que os meios digitais não tratam”, pela velocidade com que são postadas e lidas as notícias. “Uma parte do jornal dedicada à literatura tem essa função”, acredita, pois “o espírito da internet é muito raso, superficial”.

“Ser o melhor que pode ser”

Depois de apresentar um desfile de personalidades artísticas com suas esquisitices e manias, José Paulo Cavalcanti confessou o perfeccionismo na construção dos textos. “O som da frase tem que ser bonito”, afirmou. “Um escritor não pode pretender ser o melhor. Mas não há desculpa para você não ser o melhor que pode ser”. No caso do jornalismo diário, a experiência vai melhorando a escrita, diz Merval Pereira, colunista político há mais de duas décadas. “Passo o dia lendo, conversando e pensando na coluna”, relata, sobre sua rotina criativa. “Começo a escrever às 6 da tarde, mas antes disso já escrevi na minha cabeça”.
Para ser a melhor coluna possível, a coluna Literária pode almejar uma maior variedade informativa, chegar a mais lugares, reunir notícias de diversos locais do país e até de fora do Brasil, sem deixar de privilegiar o público pernambucano e nordestino do que acontece no estado e na região. E ser o espelho do lado social da literatura, não apenas nos eventos literários de grande porte, mas igualmente nos encontros menores, que se multiplicam presencial ou virtualmente, como no caso dos clubes de leitura.

 

Divulgação
José Paulo Cavalcanti, Natália Ribeiro e Fábio Lucas - Divulgação

 

Pernambuco na literatura brasileira

A Academia Brasileira de Letras teve, entre seus fundadores, Joaquim Nabuco. Para Merval Pereira, Pernambuco é um dos principais produtores de literatura do país, historicamente. “Temos a preocupação de ter a representatividade regional da cultura brasileira nos nossos quadros”, declarou, lembrando que, na atual composição, há três pernambucanos na ABL: além de José Paulo Cavalcanti, estão lá Marcos Vinicios Vilaça e Geraldo Holanda, sem contar Joaquim Falcão, que passou parte da vida no estado.
José Paulo Cavalcanti ressaltou que a Academia de Letras tem grande importância no imaginário coletivo, ao contar a recepção calorosa no Recife, por parte das pessoas na rua ou na igreja, logo após tomar posse na ABL. De fato, o imaginário remete aos livros e a quem os faz uma aura de grandiosidade que não está somente nas Academias, mas se associa à literatura em geral. Uma coluna Literária reflete, de certa maneira, a importância da literatura, mesmo para quem não possui o hábito de ler diariamente. E para quem escreve, lê, edita, publica, produz e vende os livros, o valor de enxergar o próprio trabalho, o propósito da vida, em poucas linhas de jornal, é notável, porque identificado ao símbolo presente e profundo no imaginário da sociedade, relacionado à atividade e à vida literária.
Na linha da tradição pernambucana, e focada no cumprimento dos potenciais da cultura do livro, a coluna Literária se renova, em seu primeiro ano, em largo e plural abraço de gratidão, ao Jornal do Commercio e a todos que nos deram o privilégio da palavra, neste espaço de jornalismo e reflexão.

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