Vozes potentes antirracistas

Flávia Suassuna, Djamila Ribeiro, Fabiana Moraes, Lázaro Ramos, Pedro Lins e Chico César estiveram no Festival RioMar de Literatura

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JC

Publicado em 18/05/2024 às 20:48
Notícia

Um evento literário dedicado à arte negra trouxe ao Recife nomes consagrados da cultura nacional, que dialogaram com expressões da cultura local, pondo à mostra pontes necessárias, resgatando a importância das vozes conhecidas do público para o combate ao racismo – como a qualquer intolerância e estreiteza de pensamento e atitude. Com a literatura no centro, mas sem se restringir aos livros, a curadoria de Carmen Peixoto fez a diferença mais uma vez, na décima edição do Festival RioMar de Literatura, com a reunião de escritores, jornalistas e artistas movidos pela liberdade, na direção de mais liberdade para todos.
O evento corroborou a necessidade do contato direto entre quem produz e quem usufrui da arte. No caso da arte feita por pessoas negras, a potência de cada voz amplifica o efeito da escrita, da música, do cinema. Em especial, os leitores se transformam em espectadores encantados, e os não leitores podem ser atraídos para o mundo transformador dos livros. A escolha de Flávia Suassuna, Lázaro Ramos, Djamila Ribeiro e Chico César, com as mediações de Pedro Lins e Fabiana Moraes, iluminou o palco do teatro para uma plateia que curtiu a maratona cultural com atenção e deleite. Plateia formada também por dezenas de adolescentes atendidos pelo Instituto JCPM de Responsabilidade Social, que puderam fazer perguntas para os convidados, conectando-se a eles no inesquecível encontro propiciado pelo evento – que por sua vez só foi possível graças ao trabalho de artistas insistentes, como precisa ser a arte, até depois do reconhecimento de seu brilho. Como a palavra que não se apaga, uma vez inscrita na folha de um livro.


Djamila e os fantasmas do Brasil

Em breve entrevista para a Literária, antes de subir ao palco do Teatro RioMar, a filósofa antirracista e feminista Djamila Ribeiro afirmou: “Uma história do Brasil que é contada sem a literatura negra, sem a produção intelectual das pessoas negras, é uma história incompleta. Assim como a gente precisa aprender sobre a história dos povos indígenas. A literatura é importante para a formação de uma sociedade cidadã, e fundamental para que a gente conte a história do Brasil levando em conta todos os seus protagonistas”. Sobre o atual momento de confrontos radicais no país, Djamila Ribeiro lembrou de Grada Kilomba, segundo a qual o Brasil tem vários fantasmas. “A gente não lidou com esses fantasmas: o colonialismo, o racismo. O Brasil negou a existência do racismo durante muito tempo. Os fantasmas vão sempre voltando e nos assombrando. A gente sempre viveu momentos muito difíceis, quando se fala na questão racial”. Mas ela acredita que a oposição atual ocorre porque o movimento cresceu, ganhou visibilidade. “Temos que encontrar pontes, quebrar muros, infiltrar diálogos para conseguir pensar o país sem tanto ódio, sem a legitimação das diferenças que determinados grupos querem manter. A gente não pode cair nesse jogo”.

 

Redes reguladas

A respeito do espaço de comunicação proporcionado pelas redes virtuais, Djamila mais uma vez reforçou sua preocupação. “Se por um lado a gente consegue divulgar o nosso trabalho, e os de autores independentes, se não houver uma regulação, a internet vai atender aos grandes grupos que não têm interesse com a sociedade. Sou muito a favor da regulação, porque há empresas bilionárias lucrando em cima de fake news, sem serem responsabilizadas por isso. Acho que é dever do Estado pensar maneiras e fazer com que as big techs sejam responsabilizadas. Se eu for na internet e gravar um vídeo dizendo que o Holocauso não existiu, consigo publicar. E quem se responsabiliza por isso?”, questiona. Veja o vídeo completo da entrevista no Instagram @livronewsnoinsta.


O racismo e o racista

Em conversa emocionante e sincera com Pedro Lins, o escritor, ator e diretor de cinema Lázaro Ramos disse não estar até hoje pronto para o racismo. “Eu não sei enfrentar o racismo. Porque não acho que o racismo é uma coisa que a gente tenha que enfrentar. Quem tem que enfrentar o racismo é o racista. Não é um problema nosso. Uma expressão de discriminação ainda hoje me entristece. Quando acontece com pessoas próximas de mim, eu sofro imensamente, não estou pronto. Estou mais pronto para receber amor. O que tento fazer para amenizar é me informar sobre as leis, ler livros que falem sobre o tema, conversar, não silenciar sobre o assunto. Às vezes, peço um abraço. É pra receber amor que a gente tem que estar pronto”.


Machado de Assis em nosso tempo

Na abertura do Festival RioMar de Literatura, a professora e escritora da Academia Pernambucana de Letras brindou a plateia com preciosa aula sobre Machado de Assis, um dos maiores escritores brasileiros, homenageado no evento. “Machado precisa ser ouvido neste tempo de fake news, de escaladas sociais desonestas e ostentatórias, de prisões em expressões, ideias e comportamentos “americanalhados” (como diria Alberto da Cunha Melo). De comunicação sem conteúdo, de tretas e cancelamentos nas redes sociais, de falta de criticidade, de preguiça mental panfletária e de simplificação”, afirmou, em palestra sobre algumas das obras do autor. “Ele é pessimista, cético e, às vezes, mesmo niilista, é verdade. Mas nos deixou um exemplo de fama consequente de um esforço, de pensamento autônomo e de respeito à complexidade humana”.


Movimento na APL

A Academia Pernambucana de Letras (APL) recebe três eventos esta semana. Na segunda, 20, será a posse do novo integrante da Academia, Perón Rios, a partir das 7 da noite. Na quarta, 22, no mesmo horário, o lançamento de “Pernambuco em perspectiva histórica: Um olhar coletivo em doze textos”, organizado por George Cabral e publicado pela Cepe. E no sábado, 25, a partir das 14h30, mais uma edição do “Sempre aos sábados”, com oficina de roteiro de ficção, com Valdir Oliveira, e o lançamento do novo livro de Roberto Beltrão, “A geografia dos sítios insanos”. Antes da sessão de autógrafos, Beltrão conversa com André de Sena e Rúbia Lóssio sobre “Literatura insólita e cultura nordestina”.


Live Livronews

Na terça, 21, a escritora premiada Vanessa Passos é a convidada para um bate-papo no Instagram, sobre “Literatura brasileira em turnê internacional”. A autora de “A filha primitiva”, publicada pela José Olympio, acaba de voltar de viagem de divulgação e palestras em Portugal, e já anunciou novas turnês, ainda este ano, na Argentina e na França. Siga a escritora em @vanessapassos.voz no Instagram. A transmissão da live será pelo @livronewsnoinsta.

 

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Suzana Vargas, do IEL - Divulgação


Estação das Letras

O Instituto Estação das Letras (IEL) celebra 29 anos com quatro aulas online grátis sobre “Leitura: uma aprendizagem de prazer”. As aulas serão ministradas pela fundadora, Suzana Vargas, nas terças-feiras, 21 e 28 de maio, e 4 e 11 de junho, das 19h às 20h30. Inscrições no site www.sympla.com.br/iel. Desde 1995, passaram pelo IEL 30 mil alunos, e 4 mil professores foram capacitados.

 

Isabel de Santis
Luciana Barbosa estará na Livraria da Vila - Isabel de Santis


O que você quer?

Ex-atleta, a empresária, psicóloga e palestrante Luciana Barbosa lança “O que você quer de verdade? Aprenda a escolher o caminho do não sofrimento e construa uma jornada próspera, significativa e feliz”, pela Paraquedas, na terça, 21, na Livraria da Vila da Alameda Lorena, em São Paulo, a partir das 7 da noite.


Acumulação primitiva

A Elefante lança, na próxima sexta, em São Paulo, o “Discurso filosófico da acumulação primitiva: estudo sobre as origens do pensamento moderno”, de Pedro Rocha de Oliveira. A obra revisita conceitos de Francis Bacon, Thomas More e Thomas Smith, para questionar “métodos de estudo da própria filosofia e ciências humanas, fazendo uma linha direta entre os ideais que fundaram o capitalismo no século XVI e a realidade política do Brasil no século XXI”, segundo a divulgação. No bate-papo de lançamento, o autor conversa com o filósofo Paulo Arantes, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), a partir das 7 da noite.


Carla Guerson na Ria

A Ria Livraria recebe a sessão de autógrafos do novo romance de Carla Guerson, no sábado, 25, em São Paulo, a partir das 18h. Publicação da Reformatório, “Todo mundo tem mãe, Catarina” conta com texto da orelha por Marcela Dantés, e quarta capa por Débora Ferraz. No evento, haverá conversa da autora com Jana Viscardi (@janaisa), e participação de Marcela Alves, Thaís Campolina, Marina Grandolpho, Martha Colvara Bachilli e Isabella de Andrade. Siga a autora no Instagram @carlaguerson.

 

50 mil livros doados

A Fundação Educar promoveu, no último dia 14, a doação de 50 mil livros infantis para escolas públicas na cidade de Campinas (SP), com o objetivo de estimular a cidadania através da leitura. “Um livro, para a criança, é a única forma de fazê-la sonhar. Agora, na era digital, o livro é mais importante ainda. A Fundação Educar já produziu mais de 50 milhões de livros e quer chegar a 100 milhões de livros, principalmente para crianças e adolescentes. Trata-se de um tema que não tem como discutir: ou o Brasil educa as crianças com livros, ou teremos crianças despreparadas para enfrentar os desafios”, afirmou Luis Norberto Pascoal, presidente da Fundação.


Haruki Murakami

Com a tradução de Jefferson José Teixeira, a Alfaguara traz para os leitores de um dos mais populares escritores japoneses contemporâneos, uma obra premiada, mas inédita por aqui: “O Fim do Mundo e o impiedoso País das Maravilhas”, de Haruki Murakami, foi originalmente publicado no Japão em 1985. O romance combina duas narrativas paralelas de mistério e ficção científica. Nas livrarias no final de maio.

 

Morgana Narjara
O olhar no movimento das mãos - Morgana Narjara


Cecita Rodrigues

A literatura está em suas mãos, na voz, no ar que respira. Autora de “E Deus não acudiu ninguém”, pela Patuá, Conceição Rodrigues, professora apaixonada pelos livros, confiante no poder de transformação da palavra escrita, se declara para o seu propósito de caminhada: “Vivo para servir à Literatura. Quanto a isto, sou inexorável. Não importam os fracassos (tenho uma lista deles que não cabe em meu corpo). Não importam as críticas. Se forem boas, agradeço e analiso; se forem ruins, analiso e prossigo. Quando Ela é paraíso, regozijo. Se for inferno, serei voluntária. Servirei com constância, esforço, perseverança e humildade. Enquanto respirar. Compromisso com minha alma”.

 

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Livro do editor da Nature chega ao Brasil - Divulgação


A vida na Terra

A Fósforo publica no Brasil o livro do editor da revista Nature, Henry Gee: “Uma história (muito) curta da vida na Terra”, com tradução de Gilberto Stam. A capa e a ilustração são de Carol Grespan e Daniel Bueno. “Se hoje o aquecimento global é uma realidade que, não sem razão, causa pânico, dada a iminência da catástrofe, faz-se necessário olhar para o passado de constante transformação e resiliência para entender quais são as possibilidades e perspectivas de futuro”, chama atenção a divulgação da obra, de relevância inconteste em nossa época.

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