Renovação nas Academias de Letras

Discurso de posse de Peron Rios como novo membro da APL reforça a importância da literatura como meio de integração social

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Fábio Lucas

Publicado em 25/05/2024 às 20:42
Notícia

Foi destacado aqui, em coluna anterior, o ingresso de Ailton Krenak na Academia Brasileira de Letras (ABL), bem como foi feito o registro da posse de Conceição Evaristo na Academia Mineira de Letras (AML), da qual Krenak já fazia parte, aliás, antes de ser eleito para a ABL. A mesma instituição que teve entre seus fundadores Machado de Assis, trouxe para ocupar uma cadeira, este ano, a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz. A valorização da participação feminina nas academias literárias é crescente, e se traduz, por exemplo, na eleição de Taylane Cruz para a Academia de Letras de Aracaju, em 2021, e de Cibele Laurentino, Mirtes Suplino e Iêda Lima para a Academia de Letras de Campina Grande (ALCG), em 2022. Ou a posse de Fides Angélica como primeira presidente da Academia Piauiense de Letras, em 2023, após mais de um século de existência. No mesmo ano, Flávia Suassuna foi eleita para a Academia Pernambucana de Letras (APL). A diversidade na representação se alia a ao reconhecimento de vozes expressivas em seus campos de atuação, como é o caso de Fernanda Montenegro, consagrada atriz, levada para a ABL em 2021.
Na última segunda-feira, foi a vez de Peron Rios dar início a mais um capítulo da renovação que ressalta o legado indispensável, mas também busca ampliar a integração social das academias. Em sua posse na APL, o professor, crítico literário e poeta resgatou traços dos antecessores na cadeira que passa a ocupar, bem como chamou atenção para o papel das academias e da própria literatura em nossa época. A fim de registrar e contribuir para ecoar suas palavras, alguns trechos do discurso estão em destaque, a seguir.

 

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Novo integrante da APL, Peron Rios - Divulgação


Lição da humildade

“Enquanto não assimilarmos a lição da humildade, segundo a qual somos instrumentos de algo maior, para que o saber se propague e a virtude prospere, sempre haverá distinções que serão muros. Atrás desses muros é que a barbárie se oculta, onívora, sombria. E uma tal atitude não faria sentido numa Casa cujo lema trilha na contramão disso: ad Lucem; ou seja, rumo à luz. (...) Uma Academia de Letras, como esta, deve guardar o que de culturalmente valioso produziu a humanidade em geral e, em particular, um determinado núcleo social. A sociedade pernambucana pode-se ver bem representada no legado maciço que, notavelmente, esta Academia aglutina e oferece”.


Como Antonio Cícero

Peron Rios evoca o conceito de “guardar” para Antonio Cícero, que escreveu: “Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado”. E daí continua o novo integrante da APL: “A primeira função de uma instituição como a Academia Pernambucana de Letras, por conseguinte, é dispor o entusiasmo inteligente e o que o espírito pôde reunir; não é agregar alguns notáveis intelectuais, a serem evocados sempre com destaque, de preferência com o acréscimo do fetiche nacional pelo vocábulo “doutor”. Rigorosamente, um tal despropósito resultaria em ofensa involuntária: a quem tem um olhar mais atento, isto mais desqualificaria do que daria credibilidade ou prestígio aos seus componentes”.


Fé no feitiço da linguagem

“Enquanto professor de línguas e literaturas, me encontro na linhagem do patrono: mais do que apenas difundir conhecimentos, almejo transmitir a febre, a paixão pela palavra. (...) A esta Academia, trarei a minha fé no feitiço da linguagem. Porque já lembrava Osman Lins, em Avalovara: “A palavra sagra os reis, exorciza os possessos, efetiva os encantamentos. Capaz de muitos usos, também é a bala dos desarmados e o bicho que descobre as carcaças podres”. Por isso, a literatura não é apenas mais um discurso entre tantos, como certa voga dos estudos atuais quer disseminar. A literatura busca imortalizar a memória pela via da metáfora, da música, dos encantamentos a que se referiu Osman. A palavra poética dura mais do que a pedra das estátuas, e o papel dos escritores é justamente resistir à extinção absoluta; é não permitir, para usar uma imagem de Cecília, que a água derreta o brilho fino que, do alto, contemplamos”.


Dúvida como urgência

Unindo as pontas da tradição literária com a contemporaneidade, Perón Rios encaminha assim o encerramento de sua fala inaugural na APL: “A literatura, num tempo tão repleto de certezas, vem restabelecer a dúvida como urgência, mostrando a grandeza do mundo, sua complexidade e seus enigmas. O literário, lembrava Roland Barthes, é esse encontro dos saberes, uma “Babel feliz”.


Homenagem na APL

Em sessão nesta segunda-feira, 27, os acadêmicos Alvacir Raposo e Ana Maria Cesar prestam homenagem ao centenário de José Nivaldo de Souza, integrante da Academia Pernambucana de Letras, falecido em 2013. Será a partir das 3 da tarde, na sede da entidade, no Recife.

 

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Janir Ribeiro lança "Memórias de lince" no sábado - Divulgação


Herança de narrativas

As escritoras Janir Ribeiro e Ana Daviana são as convidadas desta segunda, a partir das 7 da noite, na Live Livronews, no Instagram. Ambas com novos títulos pelo selo Auroras, da Penalux, a serem lançados nos primeiros dias de junho. O tema da conversa é “Fatos históricos, a contação de causos e a herança de narrativas em contos”. A cearense Janir Ribeiro lança “Memórias de Lince” no próximo sábado, 1, no Crato, às 17h. Ana Daviana promove o lançamento de “Essa mundana gente” no sábado seguinte, dia 8, no Instituto Energisa, em João Pessoa, às 18h. Siga no Instagram: @anasilva_daviana, @janirsribeiro e @seloauroras.


Centenário do Surrealismo

A Universidade Estadual Paulista (Unesp) realiza Jornada de Estudos em celebração dos 100 anos do Surrealismo, nesta segunda, 27, no campus de Ribeirão Preto (SP), durante todo o dia. O legado do movimento será posto em debate pela visão de lentes contemporâneas, com a participação de Michel Lowy, Guy Girard e Sylvia D. Chrostowska, do grupo surrealista de Paris, Lurdes Martínez e José Manuel Rojo, de Madri, e os editores da 100/cabeças, Alex Januário, Ameli Jannarelli e Elvio Fernandes. Na ocasião, haverá o lançamento de “Uma vaga de sonhos”, de Louis Aragon, obra inédita no Brasil. Para solicitar o programa completo da Jornada, basta enviar mensagem para o e-mail [email protected].

 

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A escritora Claudia Nina - Divulgação


Leituras cruzadas

A Livraria Janela do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, recebe nesta quarta um bate-papo com os escritores Alex Andrade e Claudia Nina, com a mediação de Carlos Eduardo Pereira. A conversará irá girar em torno do espelhamento entre os livros “Para os que ficam” e “Jasmins”, respectivamente de autoria de Alex e Claudia. “Vamos falar das muitas conexões que unem as obras e também das conexões literárias em nossas trajetórias”, convida @claudianinaliteratura no Instagram. Na mesma rede social, encontre @alexdeandrade e a @janela_livraria, onde o evento acontece, a partir das 7 da noite.


Oficinas de escrita

O Astrolabio oferece opções de oficinas online de escrita, em junho. A partir do dia 3, o quarto módulo de “Memórias, diários & outras declarações de amor”, com Micheliny Verunschk. Iniciando no dia 4, Cláudia Chigres mostra “Técnicas de escrita ficcional”. No dia 13, Evelyn Blaut ministra a oficina de métodos de escrita “Escrever o íntimo universal”. Saiba mais no site www.oastrolabio.com.br.

 

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Ruth Rocha estará na Livraria da Vila - Nagila Rodrigues


Ruth Rocha na Vila

Um momento especial está marcado para o sábado, 1º de junho, na Livraria da Vila da Fradique Coutinho, em São Paulo. Aos 93 anos, a escritora Ruth Rocha, um dos maiores nomes da literatura infantil e infantojuvenil no país, participa de uma tarde de autógrafos para marcar a conclusão do lançamento da Coleção Comecinhos, de oito livros inspirados pelos netos da autora. A publicação é da Global, com ilustrações de Mariana Massarani. A Livraria da Vila terá Ruth Rocha no próximo sábado a partir das 4 da tarde.

 

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Escritora Francine Cruz - Divulgação


Poemas para brincar

Composto por 40 haicais, o livro infantil de Francine Cruz, com ilustrações de Débora Bacchi, ganha segunda edição pela Donizela. A obra reúne as alegrias da infância durante as mudanças de cenário natural do ano. “Poemas para brincar nas quatro estações” é apresentado como leitura inspiradora para se resgatar a essência da contemplação, em qualquer idade. “Abra estas páginas com os olhos meditativos de quem observa o mundo pela primeira vez", diz a autora. O livro foi aprovado pelo edital da Fundação Cultural de Curitiba.


Dá para ser diferente!

Em publicação do selo Artêra, da Appris, Carla Martins lança obra que reúne reflexões de escritores e filósofos em contraste à “crise existencial do nosso tempo” e da “busca incessante por sentido”. Partindo de abordagem das redes sociais, “Dá para ser diferente!” oferece uma leitura bem-humorada da “complexidade da experiência humana na atualidade”, segundo a divulgação. Saiba mais no site www.editoraappris.com.br.


Um livro encontrado

A Elo Editora apresenta a nova obra de Stella Maris Rezende, com ilustrações de Sid Meireles: “A mágica história de um livro encontrado” remete à imaginação e a amizade de duas amigas que moram num lar de idosos. Duas senhoras “que sonham com abraços e aventuras”. Escritora e atriz, Stella Maris Rezende venceu por quatro vezes o Prêmio Jabuti. Outras informações no Instagram @eleoeditora.


Mundurucu

A Cepe HQ publica o romance gráfico de Paulo Santos, Libório Melo e Luciano Félix, “Mundurucu na Confederação do Equador”. A narrativa em quadrinhos conta as “peripécias vividas pelo Major Emiliano Mundurucu, um pioneiro na luta pelo fim da escravidão e da segregação racial no Brasil e também nos Estados Unidos”. Na mistura de fatos e personagens históricos, como Frei Caneca, com ficção, a obra leva o leitor ao Brasil de dois séculos atrás. Acompanhe outros lançamentos no Instagram @cepeeditora.

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