Contorno do Recife é o campeão de acidentes em toda a extensão da BR-101 em Pernambuco

Publicado em 15/06/2013 às 9:00 | Atualizado em 17/06/2013 às 11:01
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  Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem O mar de buracos que tomou conta dos 30,7 quilômetros do contorno urbano que a BR-101 faz da Região Metropolitana do Recife tem consequências muito mais sérias do que se pensa. Não deve incomodar apenas pela proximidade da Copa das Confederações ou da Copa do Mundo de 2014. Suas feridas são maiores. Transformaram o contorno no trecho mais perigoso de toda a rodovia no Estado. Pesquisa desenvolvida por estudantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) revela que quase metade dos acidentes de toda a BR-101 em Pernambuco, numa extensão de 215 quilômetros, acontecem no contorno urbano, entre o município de Abreu e Lima, ao Norte do Recife, e Prazeres, bairro de Jaboatão dos Guararapes, ao Sul da capital. E mais: que a maioria deles não foi provocado por erro humano, como os gestores das estradas e as polícias rodoviárias costumam afirmar, mas por reações dos motoristas às péssimas condições do pavimento. A pesquisa, ainda em curso, está sendo desenvolvida por 28 alunos do curso de engenharia civil da UFPE divididos em grupos. Os acidentes analisados foram computados entre 2007 e 2011. Nesse período, a BR-101 em Pernambuco registrou 13.940 acidentes, sendo que 48%, ou seja, 6.645 colisões, se deram apenas no contorno. “É uma realidade assustadora. Principalmente quando consideramos que a BR-101, embora seja a terceira BR mais extensa do Estado, responde por quase 50% dos acidentes das 11 rodovias federais monitoradas pelo Dnit e PRF”, alerta o mestre em transporte e orientador da pesquisa, Maurício Pina. A rodovia federal mais extensa de Pernambuco é a BR-232 (555 km), seguida da BR-316 (307 km).   Maurício Pina e os alunos responsáveis pela pesquisa. Foto: Clemilson Campos/JC Imagem Maurício Pina e os alunos responsáveis pela pesquisa. Foto: Clemilson Campos/JC Imagem   O mais grave é que, no levantamento, os estudantes encontraram indícios de que as colisões estão sendo causadas, sim, pela degradação do pavimento. Os dois quilômetros com maior incidência de acidentes, feridos e mortes são, por coincidência, os que mais têm problemas físicos e os com a velocidade operacional mais baixa nos horários de pico, ou seja, quando um carro não consegue ultrapassar os 10 km/h. A pesquisa aponta que o km 68 (imediações do Hospital das Clínicas, na Cidade Universitária) e o km 69 (imediações do Colégio Militar, na mesma região) são os mais perigosos. O primeiro registrou 628 acidentes e, o segundo, 473. “Nos dois casos, as colisões foram traseiras ou laterais, características típicas de acidentes provocados pelo pavimento ruim. O motorista reduz ao ver um grande buraco e o outro bate atrás. Ou ele desvia e colide com o outro. Os alunos também descobriram que, em 2011, depois que houve uma grande operação de manutenção do contorno, os acidentes nesses dois quilômetros reduziram 10,3%. Ou seja, a relação com o pavimento é direta. O contorno tem 38 anos e nunca passou por uma recuperação decente das placas de concreto. Ao contrário, a manutenção é equivocada. Não trocam as placas, apenas lançam asfalto sobre elas”, critica Maurício Pina.   BR-101 contorno1   DEPOIS DE ACUSAÇÕES, DNIT APROVA EDITAL PARA OBRAS NO CONTORNO URBANO As feridas do contorno urbano da BR-101 estão mais perto de serem fechadas. Não por causa da vergonhosa liderança das estatísticas de acidentes de trânsito em Pernambuco. Mas por causa das acusações e cobranças que o governo de Pernambuco fez, inclusive na figura do governador Eduardo Campos, à Superintendência do Dnit no Estado. A direção geral do órgão, em Brasília, informou que o edital de licitação do projeto de restauração do contorno e implantação de um corredor de ônibus no modelo BRT (Bus Rapid Transit) foi aprovado na última terça-feira e será devolvido, em breve, a Pernambuco. A liberação, entretanto, não resolve os buracos. Esses, serão fechados com a manutenção cotidiana, a velha tapa-buraco, quando o asfalto é lançado sobre a placa de concreto, que estaria lenta por causa das chuvas. A informação da aprovação do edital pelo Dnit foi dada por meio de nota. A superintendência em Pernambuco foi proibida de falar sobre o assunto. Apenas Brasília repassa informações. O governo do Estado também optou por se calar e evitar mais polêmicas. Procurado pela reportagem, a Secretaria das Cidades disse que não iria mais comentar o episódio. Na semana passada, entretanto, a troca de acusações foi pesada. Durante evento público, o secretário Danilo Cabral cobrou a manutenção da rodovia e o governador Eduardo Campos reforçou a cobrança. A atitude foi uma reação às declarações dadas pela direção do Dnit em Pernambuco numa entrevista à Rádio JC/CBN. Na nota oficial a direção geral do Dnit esclarece que a manutenção da rodovia é do órgão até que as obras comecem. Apesar do silêncio atual, Danilo Cabral chegou a expor durante audiência na Assembleia Legislativa todas as idas e vindas do processo. Disse que a direção geral do Dnit determinou a suspensão do edital de licitação lançado pelo Estado no dia 6 de abril. Nove dias depois houve a recomendação para que fosse suspenso, o que foi cumprido pelo governo de Pernambuco no dia 20 de abril. O projeto do novo contorno urbano da BR-101, incluindo o corredor de BRT, está orçado em R$ 225 milhões. Nesse valor não estão incluídas os viadutos, passarelas e pontes.

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