Apenas o motorista do ônibus será indiciado pela morte de Camila. E, mesmo assim, por homicídio culposo

Publicado em 24/08/2015 às 7:00
Fotos: Guga Matos/JC Imagem
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  Fotos: Guga Matos/JC Imagem Fotos: Guga Matos/JC Imagem     Apenas o motorista do ônibus que fazia a linha Barro-Macaxeira deverá ser indiciado criminalmente pela morte da estudante da UFPE Camila Mirelle Pires da Silva, 18 anos, que morreu ao cair de um coletivo em maio, na BR-101, na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife. E, mesmo assim, por homicídio culposo (sem intenção), crime que pode ser revertido numa pena alternativa, como prestação de serviços sociais, por exemplo. Ao menos criminalmente, nem a Empresa Metropolitana, que operava a linha, nem o governo de Pernambuco, por meio do gestor do sistema de transporte – o Grande Recife Consórcio de Transportes – deverão ser responsabilizados. A empresa e o órgão poderão vir a responder administrativamente em outro processo, caso o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e a Justiça entendam dessa forma. Essa é a expectativa para o resultado da coletiva de imprensa marcada pela Polícia Civil para a manhã desta segunda-feira, na sede do Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), em Afogados, Zona Oeste da capital. A conclusão do inquérito será apresentada pelo delegado Newson Motta, titular da Delegacia de Delitos de Trânsito. Camila Mirelle caiu do ônibus em movimento depois que a porta do veículo abriu. A linha do acidente é uma das que tem maior demanda do sistema. A estudante, que cursava biomedicina na UFPE, foi arremessada para fora do coletivo. Camila ainda chegou a ser encaminhada ao Hospital Getúlio Vargas, na mesma região, mas não resistiu aos ferimentos. Na época, o condutor do ônibus, que participou de uma entrevista coletiva organizada pelo Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, mas teve a identidade preservada, alegou inocência. Disse não ter visto a estudante e argumentou que o acidente só aconteceu por imprudência da passageira – que invadiu o coletivo pela porta do meio, o que é proibido – e devido à lotação da linha, problema recorrente nos horários de pico. Alegou, ainda, que o acidente foi provocado pelo manuseio errado por parte dos usuários da trava localizada na porta dos coletivos. “Sem a trava, a porta fica neutra, sem o controle do motorista. O passageiro consegue abrir com as mãos. Se a garota tivesse entrado pela porta da frente nada disso teria acontecido. O ônibus estava muito cheio e eu não vi nada. Soube do acidente quando os passageiros começaram a gritar”, afirmou o motorista, na época. Ele também alegou que não fugiu após o acidente e foi quem acionou o socorro e a polícia. Deixou o local apenas após ser liberado pelos policiais. Mirele Pires da Silva, 18 anos, viajava no coletivo da linha Barro/Macaxeira, quando a porta do ônibus se abriu, arremessando a jovem o veículo. Mirelle Pires da Silva, 18 anos, viajava no coletivo da linha Barro-Macaxeira, quando a porta do ônibus se abriu, arremessando a jovem do veículo. Foto: Facebook   LEIA MAIS Morte nos ônibus do Recife: Quando a porta faz a diferença Empresas de ônibus culpam usuários por acidentes Depois de desconforto e espera, ônibus viram sinônimo de morte no Recife   Segundo informações extraoficiais, a investigação policial não teve como comprovar a culpa por parte da Empresa Metropolitana e do Grande Recife Consórcio de Transporte. Ela seria subjetiva, indireta. A culpabilidade, na avaliação da Polícia Civil, terá que ser apurada administrativamente e, não, criminalmente. Caberá ao MPPE, depois que estiver com o inquérito policial em mãos, instaurar um procedimento para avaliar outras responsabilidades. O mesmo acontecerá com possíveis indenizações financeiras que familiares da jovem venham a cobrar dos envolvidos. Nada será tratado no inquérito policial concluído e apresentado na coletiva desta segunda-feira. MAIS CASOS Camila Mirelle não foi a única vítima de acidentes envolvendo o transporte público do Grande Recife. Pouco mais de um mês depois de a estudante morrer na queda do coletivo, outro estudante universitário também faleceu numa situação parecida. Harlynton dos Santos, 20 anos, que cursava biologia na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), morreu depois de cair de um ônibus em movimento no Terminal de Santa Rita, Centro do Recife.   Harlynton Lima dos Santos tinha 20 anos Harlynton Lima dos Santos tinha 20 anos. Foto: Facebook   O acidente aconteceu por volta das 23h30, quando o estudante tentou subir no coletivo que fazia a linha Imip-Tancredo Neves, da empresa Vera Cruz, e seguiria para casa, após ter ido ao cinema. Harlynton teria batido na porta para que o motorista abrisse. Ele estaria no primeiro degrau da escada quando o condutor teria dado partida. O universitário caiu e bateu nas grades do terminal. Sofreu fraturas na bacia e na costela e chegou a ser submetido a duas cirurgias de emergência para conter sangramentos e as múltiplas fraturas no Hospital Português, mas não resistiu. Na época, o motorista do ônibus também alegou não ter visto o estudante. Soube do acidente já na garagem da empresa, quando foi procurado pela Polícia Militar. A investigação sobre o caso também está com o delegado Newson Motta, mas não deverá ser tratada na coletiva de hoje.

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