Governo do Estado só na observação

Publicado em 08/07/2017 às 18:00 | Atualizado em 13/07/2018 às 11:57
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População  e rodoviários reclamam que o governo do Estado, via GRCT, tem se envolvido cada vez menos nos problemas do sistema de transporte público da RMR, como a greve de ônibus da semana passada. Foto: Léo Motta/JC Imagem   Não é de hoje que as críticas à capacidade de gestão, controle e fiscalização do sistema de transporte público pelo Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT) são feitas por quem vive o setor. Mesmo no anonimato, elas são registradas por técnicos, empresários e mais abertamente pelos rodoviários e passageiros. As greves dos motoristas, cobradores e fiscais de ônibus, inclusive a da semana passada, que durou três dias, reforçam a dificuldade que o órgão vem enfrentando para conseguir mostrar uma gestão firme e forte. O sentimento é de que o GRCT – o braço executivo do governo de Pernambuco e que ganha receita para gerir o sistema metropolitano – está sempre numa posição de observador dos acontecimentos. Nunca se envolve diretamente nos problemas e divergências que resultam em paralisações e greves da categoria. Tem sido comum a transferência de responsabilidade para o setor empresarial, o que causa a impressão de que as empresas têm mais poder sobre a operação do que deveriam como prestadoras de um serviço público essencial. A maioria delas – 9 dos 11 operadores –, inclusive, sem concessão legal. É uma ausência de envolvimento encarada por alguns setores como omissão. Principalmente pela população. De um lado ficam os empresários de ônibus e, do outro, os rodoviários. No meio, os dois milhões de passageiros diários do sistema. E, só na observação, o GRCT.  
  “O que a gente vê hoje em dia é um Consórcio Grande Recife que só é grande no nome porque é dependente das empresas. Um órgão que deveria fiscalizar a operação, mas que não consegue. São os operadores que mandam. Quando a gente coloca 30% da frota nas ruas, como aconteceu na greve, quem deveria determinar em quais linhas e terminais esses veículos deveriam rodar era o GRCT. Mas não. Isso não acontece e eles ficam mostrando os terminais integrados vazios, sem ônibus, por exemplo. Mas o GRCT não faz mais isso, está à mercê das empresas. Não vemos nem mesmo vontade do governo do Estado, ainda mais na pessoa do governador Paulo Câmara, para que a greve acabasse. Não há envolvimento. O governo deveria participar mais”, criticou o presidente dos rodoviários, Benilson Custódio. No segundo dia da greve dos rodoviários, semana passada, o governador Paulo Câmara chegou a pedir celeridade na solução do movimento. Cobrou o cumprimento da determinação judicial para que 50% da frota circulasse nos horários de pico e criticou a rotina anual das manifestações. Mas sem anunciar qualquer tipo de envolvimento direto na solução do problema que afetava os dois milhões de passageiros do sistema. “Não pode ficar todo ano à mercê de movimentos como esse que só fazem prejudicar a população, não ajudam os proprietários das empresas de ônibus, não ajudam os profissionais, mas prejudica muito a população e a gente tem que fazer todo um esforço, como estamos fazendo, para que seja resolvido hoje”, disse no dia, sem explicar qual seria esse ‘esforço’, já que o GRCT ou a Secretaria das Cidades em momento algum participaram dos processos antes ou durante a greve.  
  O Estado, por sua vez, defende-se de todas essas afirmações. André Melibeu, diretor de operações do GRCT, garante que o órgão cumpre, sim, seu papel de gestor do sistema e que foi o consórcio quem controlou e monitorou pessoalmente a saída da frota das garagens. Mas argumenta que, de fato, não está entre as funções do GRCT se envolver nas questões trabalhistas dos rodoviários e dos operadores. “Somos nós que, nessa greve, definimos o número de ônibus e as linhas que vão operar. A prerrogativa da fiscalização também continua conosco. No último movimento, tivemos fiscais em todas as portas de garagens para conferir a saída dos ônibus. Eram eles que estavam contabilizando. A informação que nós passamos a cada hora eram informações obtidas presencialmente. Não eram informações repassadas pelo sindicato patronal ou pelo sindicato dos trabalhadores”, disse André Melibeu. “Agora, o GRCT não tem o papel, como órgão gestor, de participar das negociações salariais. O que nós fazemos é informar à Justiça, por exemplo, os custos do sistema para que saibam como a planilha é calculada, qual o peso dos rodoviários na folha de pagamento, qual o salário deles e como isso é computado na planilha de custo. Repassamos dados de como calculamos a tarifa, mostrando que ela não é uma caixa preta”, acrescentou o diretor de operações.  
  E para comprovar que exerce, sim, o papel de gestor do transporte público da RMR, a assessoria de imprensa do GRCT informou que o órgão emitiu 589 autuações às empresas operadoras no período de janeiro a maio deste ano. E explica que, entre os motivos que podem levar a autuações estão o não cumprimento de quadro de horário, queimas de parada e a utilização de veículos sem os itens obrigatórios em perfeito estado. Os itens obrigatórios são plataforma elevatória veicular – PEV, sistema de bloqueio de portas e câmeras. Para quem tiver curiosidade, vale a pena acessar o link https://www.granderecife.pe.gov.br/web/grande-recife/historico e conferir o papel oficial do GRCT. Veja e tire suas próprias conclusões.  

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