Faixa Azul em ritmo lento no Recife. Muita promessa e pouca expansão

Publicado em 18/12/2019 às 7:46 | Atualizado em 08/05/2020 às 14:26
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A Faixa Azul da Avenida Mascarenhas de Morais está ganhando um prolongamento de 5 km (2,5 km em cada sentido), no trecho entre o Viaduto Tancredo Neves e o Aeroporto Internacional do Recife. Fotos: Brenda alcântara/JC Imagem  

 

As Faixas Azuis do Recife, como são chamadas na capital pernambucana as faixas exclusivas para circulação dos ônibus, continuam cercadas de promessas e com uma expansão que parou no tempo. Seis anos depois de o projeto ser implantado na cidade, a prefeitura anunciou um pequeno prolongamento na Avenida Mascarenhas de Morais, na Imbiribeira, Zona Sul do Recife, o segundo equipamento criado na cidade, ainda em 2014, que ganhou mais 2,5 quilômetros em cada sentido, totalizando 5 quilômetros a mais. E faz novas promessas de que irá, ainda em 2020, tirar do papel a Faixa Azul da Avenida Agamenon Magalhães, equipamento que coleciona perspectivas por parte da gestão municipal: foi prometida para o fim de 2017, depois para dezembro de 2018 e, em seguida, para o mesmo mês de 2019, sem virar realidade até agora.

 

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É inegável o mérito que a Prefeitura do Recife tem ao criar as Faixas Azuis, inspirada no Bus Rapid Service (BRS), modelo adotado no Rio de Janeiro e que previa, além da sinalização de circulação prioritária para os ônibus, a otimização das linhas e a criação de paradas de embarque e desembarque seletivas. Mesmo com um modelo mais simples, sustentado apenas na sinalização horizontal e vertical, quase sem fiscalização eletrônica e sem nenhuma seleção de linhas ou paradas, o projeto recifense alcançou quatro corredores e quatro trechos em cinco anos. A cidade tem hoje 58 quilômetros de faixas exclusivas,  dos quais 36 quilômetros foram implantados pela gestão Geraldo Julio (PSB).

 

   

 

Mas o ritmo adotado pela gestão municipal é muito lento. O último equipamento criado foi há quase dois anos, em janeiro de 2018, na Avenida Antônio de Góes, no Pina, que gerou uma grande reação dos motoristas de veículos particulares porque impactou na circulação da via, apesar de a faixa ter menos de 600 metros e ser fundamental para o corredor implantado dois anos antes na Avenida Conselheiro Aguiar. De lá para cá, apenas a ampliação da Avenida Mascarenhas de Morais – entre o Viaduto Tancredo Neves e o Aeroporto Internacional do Recife. E não há um cronograma oficial de novas implantações de Faixas Azuis na cidade. Atualmente, segundo a  Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), a priorização ao ônibus nas ruas do Recife beneficia 900 mil passageiros, um número relativamente pequeno quando consideramos que 2 milhões de pessoas usam o sistema diariamente. Significa dizer que 45% dos passageiros usufruem das vantagens da priorização viária para o transporte coletivo.

 

   

 

Nem mesmo o sucesso comprovado das Faixas Azuis para os ônibus – algo incontestável e que já promoveu ganhos de 118% na velocidade dos ônibus, como é o caso do corredor da Avenida Domingos Ferreira, em Boa Viagem, Zona Sul da cidade – tem sido suficiente para estimular o município a ampliar o projeto, que dá prioridade viária ao transporte de massa em detrimento ao transporte individual. Essa semana, durante debate na Rádio Jornal, o prefeito Geraldo Julio afirmou que a Avenida Agamenon Magalhães ganhará uma faixa exclusiva no início do próximo ano. Mas não anunciou sequer o mês. “Vamos implantar a Faixa Azul na Avenida Agamenon Magalhães no início de 2020 e iremos beneficiar mais de 200 mil passageiros que passam ali diariamente. Gente que vai economizar tempo nas viagens”, afirmou, sem dar mais detalhes. A expectativa informada pela CTTU é de que o equipamento comece a funcionar ainda no primeiro semestre do próximo ano.  

Na foto, simulação de uma Faixa Azul na Agamenon Magalhães  

 

A Avenida Agamenon Magalhães, via perimetral da cidade, considerada o pulmão viário do Recife, tem 12 faixas de circulação para o transporte individual. No meio delas, sem espaço garantido, trafegam os ônibus. Com menos de R$ 300 mil seria possível colocar faixas exclusivas nos dois lados da avenida, ao longo dos seus sete quilômetros. Beneficiaria 99 linhas de ônibus (25% das que operam em todo o sistema de transporte da RMR) e os 350 mil passageiros (29% do total de usuários) que diariamente usam a via.

 

 

Desde 2016, a CTTU divulgava que a Faixa Azul da Mascarenhas de Morais tinha 14 km (7 km em cada sentido), mas não era verdade. O equipamento tinha apenas 9 km. Os outros 5 km estão sendo implantados agora

 

“A prefeitura anunciou a implementação de Faixas Azuis na cidade e todos nós recebemos com bastante entusiasmo tal política pública. No entanto, atualmente apenas 5% das vias percorridas por ônibus têm exclusividade, ou seja, apesar de ser uma medida comprovadamente eficaz de priorização e fluidez do transporte coletivo, Recife ainda apresenta números muito tímidos em relação a outras cidades. Além disso, as Faixas Azuis muitas vezes não se interligam, o que compromete a implementação da medida. Em cinco anos, menos de 40 quilômetros foram criados, algo muito tímido para a dimensão da cidade. A Faixa Azul da Agamenon Magalhães nunca saiu do papel. Seria algo de baixo custo, mas de grande importância para o sistema de transporte. Falta vontade política dos gestores municipais”, criticou Pedro Josephi, integrante do Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM) e coordenador da Frente de Luta Pelo Transporte Público (FLTP).

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