PÓS-ISOLAMENTO

Pela apropriação das cidades no pós-pandemia

Defensores da mobilidade ativa divulgam manifesto em defesa de cidades mais humanas, sustentáveis e democráticas quando o isolamento social passar

Roberta Soares Roberta Soares
Cadastrado por
Roberta Soares
Roberta Soares
Publicado em 21/05/2020 às 12:23 | Atualizado em 21/05/2020 às 13:23
FILIPE JORDÃO/ACERVO JC IMAGEM
OPERAÇÃO Com três quilômetros de extensão, a Ciclofaixa Operacional Marim dos Caetés vai funcionar no horário das 7h às 16h, aos domingos, quinzenalmente - FOTO: FILIPE JORDÃO/ACERVO JC IMAGEM

Por cidades mais humanas, sustentáveis e democráticas. Que tenham foco na vida e, não, na circulação de automóveis. Que tenham velocidades mais leves, que estimulem os encontros físicos e priorize a sobrevivência.

O parágrafo acima pode parecer utopia, mas ele é a base de um manifesto por uma cidade melhor no pós-pandemia do coronavírus. Uma tentativa de sensibilizar os gestores públicos para estimular a mobilidade ativa como solução de resgate da cidade e retomada da vida com as regras de distanciamento que, com certeza, terão que fazer parte da rotina por um tempo - talvez, inclusive, muito, muito tempo.

Foto: Diego Nigro/Acervo JC Imagem
Manifesto da Ameciclo pede que cenas como essa da foto sejam o constante no pós-pandemia - Foto: Diego Nigro/Acervo JC Imagem

“A cidade que urge” é o manifesto da Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo), que assim como outras entidades defensoras da mobilidade ativa (sem motor) no País, têm soltado comunicados e feito articulações junto ao poder público para tentar ajudar na reorganização da rotina quando as cidades tiverem que sair do isolamento social. “Não há mais como aceitar um futuro senão de uma
revolução que devolva a cidade para as pessoas”, diz o manifesto.

E você, concorda? 

"A CIDADE QUE URGE"

Manifesto para retomada dos territórios urbanos

A pandemia mudou e continuará mudando nossos hábitos de interação social nas cidades. Vivemos num contexto de desigualdade social - fonte e produto da ausência de direito à cidade, com a socialização das externalidades negativas da mobilidade motorizada e com a lentidão na realização das prioridades nas políticas públicas que ampliam as injustiças sociais.

Considerando a perspectiva iminente de ampliação da pobreza, da dificuldade na recuperação econômica, da escassez dos recursos e da necessária diminuição dos contatos físicos, precisamos, agora mais que nunca, mobilizar todos os ativos para a transformação da cidade em espaços mais humanos, democráticos e sustentáveis. Se a realidade atual nunca deveria ter sido tolerada, não pode mais ser aceita ou normalizada. Principalmente frente ao novo cenário. Não há mais como aceitar um futuro senão de uma revolução que devolva a cidade para as pessoas.

Do ponto de vista da mobilidade urbana, a situação atípica de diminuição da quantidade de automóveis nas vias resgatou parte de uma cidade que já tivemos: menos colisões, mortes e atropelamentos; com  diminuição da poluição sonora e atmosférica; redução de ocupação abusiva do espaço público e contenção de estressantes engarrafamentos. No futuro próximo, tornaremos a usar a cidade, mas não como antes. O transporte coletivo sofrerá limitações. e não poderá mais ser um espaço de confinamento.

Aos carros, mesmo que se pretendesse ampliar o acesso, não haveria condições social, ambiental e espacial da fazê-lo. Menos mal. Pois já sabemos que, se o fizéssemos, estaríamos nos deixando arrastar para um labirinto de mazelas a ditar nossa vida. Este cenário prejudicará especialmente as parcelas mais vulneráveis da população, como mulheres e pessoas negras. A organização da mobilidade na cidade precisa ser revista para comportar mudanças.

Queremos cidades mais humanas. Com foco nas vidas, e não no fluxo de veículos. Com velocidades compatíveis com a sobrevivência. Com prioridade para segurança nos deslocamentos e nos encontros físicos. Queremos uma cidade com mais espaço para afetos.

Cicclofaixa do Bongi foi inaugurada em agosto, com menos de 3 km. Recife avança lentamente na prioridade viária à bicicleta. Foto: Guga Matos/JC Imagem
No manifesto, além de mais espaços públicos voltados para a mobilidade ativa, a redução de velocidade das vias - Cicclofaixa do Bongi foi inaugurada em agosto, com menos de 3 km. Recife avança lentamente na prioridade viária à bicicleta. Foto: Guga Matos/JC Imagem


Queremos cidades mais sustentáveis. Com menos poluição e baixo consumo de carbono. Sem o uso excessivo dos escassos recursos socioambientais. Com mais espaços verdes enaturais.

Queremos cidades mais democráticas. Com melhores ofertas para escolhas de modos de
deslocamento. Com divisões mais justas do espaço entre os modos de transporte. Com
menos privilégios sociais, raciais e de gênero. Com priorização de recursos a quem mais
precisa.

A bicicleta é, sempre foi e será, parte essencial dessa revolução: a transformação das cidades em ambientes mais humanos, democráticos e sustentáveis. Não mata, não polui, é energética e espacialmente eficiente. É saudável, acessível, rápida e prática. Democrática, a bicicleta pode ser utilizada por todo tipo de gente: mulheres e homens, crianças e pessoas idosas, pessoas com restrições físicas, de diversas classes sociais. E, apesar disso, como reflexo de estruturas de poder tão desiguais, o risco gerado pelo uso dos veículos
motorizados sempre dificultou a sua utilização. Portanto, para o uso massivo da bicicleta, é necessária a adaptação das estruturas da cidade para garantir a sua segurança.

Queremos as ruas para todas as pessoas agora e queremos para sempre!

Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
Recife passará a ter 125 km de estrutura para a bicicleta até o segundo semestre de 2020, mas ciclistas querem rotas conectadas - Foto: Filipe Jordão/JC Imagem

LEIA MAIS CONTEÚDO NA COLUNA MOBILIDADE www.jc.com.br/mobilidade

Comentários

Últimas notícias