Cada um sabe onde o calo aperta. E, no caso da greve das linhas de maior demanda do Metrô de São Paulo - um gigante da mobilidade urbana do País e até mundial - essa frase tem um significado ainda mais simbólico.
Só os gestores das linhas estaduais do Metrô de São Paulo (as linhas concedidas à iniciativa privada não tiveram paralisação: Linha 4-Amarela e 5-Lilás) e o governo do Estado - gestor do sistema metroferroviário paulista - sabem o aperto que estão enfrentando nesta quinta-feira (23/3), com a greve dos metroviários das Linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata, do monotrilho. As linhas Vermelha e Azul são as mais antigas do sistema paulista e as de maior demanda.
Mas, liberar as catracas do metrô - ou seja, deixar de cobrar a passagem - como estratégia para colocar o fim na greve dos metroviários é uma decisão perigosa. É uma estratégia que, no mínimo, precisa ser avaliada e reavaliada.
Isso porque, a partir de agora, poderá abrir precedentes não só em São Paulo, mas em todo o País. Não só para o transporte público metroferroviário, mas também para o transporte por ônibus, que também tem categorias fortes.
Confira a série de reportagens Metrôs - Uma conta que não fecha
DIREITO À GREVE É CONSTITUCIONAL E NÃO SE DISCUTE
Não vamos aqui entrar no mérito das negociações. O movimento grevista é um direito constitucional de qualquer categoria e, quem acompanha o setor de transporte público, sabe que os metroviários de São Paulo adiam essa paralisação há muito tempo e, por isso, têm suas razões. Isso é indiscutível.
Mas, liberar catracas sob pressão de movimentos grevistas é uma atitude, como já dissemos, perigosa. Aliás, perigosíssima. Mesmo que o argumento seja o de não prejudicar a população que depende do transporte público. E que, no caso de São Paulo, é ainda mais dependente do transporte sobre trilhos - afinal, sem o metrô e os trens (CPTM), a capital paulistana para, literalmente.
Dados da Folha de São Paulo mostravam que os congestionamentos na cidade chegavam a quase mil quilômetros pela manhã desta quinta, com a greve do metrô.
“O Metrô comunicou ao Sindicato dos Metroviários a liberação do funcionamento do sistema nesta quinta-feira (23) com liberação total das catracas (catraca livre, entrada gratuita), de forma a não prejudicar ainda mais a população que depende do transporte. A medida será colocada em prática, condicionada ao retorno imediato de 100% dos funcionários da operação e manutenção, para garantir a segurança dos passageiros”, informou o Metrô.
“A liberação deve gerar prejuízo dificultando ainda mais as possibilidades futuras de pagamento dos abonos. A Companhia reforça que tentou todas as formas de negociação, inclusive com a concessão de benefícios como o pagamento de progressões salariais. A empresa também cumpre integralmente com o acordo coletivo de trabalho e as leis trabalhistas”, finaliza a gestão do Metrô de São Paulo.
A questão toda passa pelo aspecto financeiro - que move o mundo e o transporte público coletivo. No setor, a frase mais ouvida é: “Não tem almoço de graça. Alguém sempre paga a conta”.
Nesse caso, como diz a própria direção do Metrô de São Paulo, a decisão de adotar a catraca livre é algo que “deve gerar prejuízo, dificultando ainda mais as possibilidades futuras de pagamento dos abonos”. Ou seja, será a população paulistana quem pagará essa conta.
EM DEFESA DA ESTRATÉGIA DE LIBERAR CATRACAS
Rafael Calabria, coordenador de Mobilidade do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) defende a estratégia de liberação das catracas pelo Metrô de São Paulo. Conhecido ativista em defesa das propostas de Tarifa Zero e Passe Livre no transporte público como estratégia de inclusão social, Calábria avalia que é uma experiência interessante de pressão dos movimentos grevistas sem prejudicar a população.
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“Na nossa visão, a não cobrança das tarifas seria uma forma interessante de a greve gerar impactos sem prejudicar os usuários. O ideal era que a situação entre grevistas e poder público não precisasse chegar a esse nível de desgaste. Mas seria uma oportunidade. É lamentável que o governo de São Paulo tenha derrubado na Justiça uma decisão que ele mesmo concordou”, afirmou.
Para calábria, a catraca liberada gera um impacto administrativo e é menos prejudicial ao cidadão do que 80% da frota funcionando.
JUSTIÇA DETERMINA FUNCIONAMENTO DO METRÔ
No fim da manhã desta quinta-feira, mesmo tendo autorizado a liberação das catracas, o governo de São Paulo conseguiu uma liminar judicial determinando o funcionamento de 80% do serviço do Metrô nos horários de pico (entre 6h e 10h e entre 16h e 20h) e com 60% nos demais horários, durante todo o período de paralisação, com cobrança de tarifa.
A liminar foi concedida a pedido do Metrô. E, em caso de descumprimento, poderá ser aplicada multa ao Sindicato dos Metroviários no valor de R$ 500 mil por dia.
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