Não tem mais conversa. A design de unhas e manicure Clécia Gomes Gonçalves, 38 anos, garante que não volta mais a andar de Uber ou 99 Moto. "Nunca mais volto a andar de Uber Moto. Duas quedas foram suficientes para eu aprender. Não me arrisco mais. Parei de usar. Tenho medo”, afirma na entrevista à Coluna Mobilidade.
Nela, Clécia conta detalhes das duas quedas que levou na garupa de motoqueiros parceiros e as razões para ter desistido de usar o serviço, após um ano de experiência. Confira:
JC - Então, é isso. Você nunca mais volta a andar de Uber ou 99 Moto? Por quê?
CLÉCIA - Sim, é isso. Nunca mais volto a andar de Uber, 99 Moto ou qualquer transporte por motocicletas. Levei duas quedas em dezembro de 2022 e em fevereiro deste ano. Por sorte, não foram graves, mas me mostraram o quanto esse tipo de transporte é frágil e como a gente, o passageiro, fica exposto. Tinha começado a usar o serviço no início de 2022 por ser mais barato e mais rápido, mas vi que não compensava e voltei para o ônibus. Também uso o Uber carro de vez em quando.
JC - Como foram os sinistros de trânsito?
CLÉCIA - No primeiro, uma mulher bateu na gente. O sinal abriu e ela puxou o veículo um pouco para a direita. O motoqueiro que estava dirigindo o Uber Moto estava chegando e colidiu quando ela fez o movimento. Foi um simples toque, mas que nos fez cair no chão.
E nessa queda, por pouco uma condutora não passou por cima da gente. Ela conseguiu frear a tempo. Parou, desceu do carro para nos ajudar e ficou super nervosa. Isso aconteceu na saída de San Martin para a Avenida Recife (Zona Oeste da capital). Arranhei o braço e dei um jeito no pé, mesmo de tênis e de calça. Acho que se estivesse de sandália aberta, por exemplo, teria quebrado o pé.
Na segunda queda, dois meses depois da primeira, o motoqueiro com quem eu estava colidiu com outro Uber ou 99 Moto. A culpa não foi dele, mas mesmo assim caímos e eu percebi a fragilidade que é usar moto. O culpado foi o outro motoqueiro, que mudou de faixa sem olhar para o lado. O pneu dianteiro de uma moto bateu no traseiro da outra.
Ele conseguiu segurar a moto, mesmo estando com um passageiro na garupa. Já o meu motoqueiro não aguentou o peso da moto. Era pequeno e caímos. Isso aconteceu na Avenida Abdias de Carvalho, no Bongi (Zona Oeste do Recife).
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JC - O que mais te chamou atenção para dizer que usar moto como transporte de passageiros é perigoso?
CLÉCIA - Como já disse, percebi que a moto é muito frágil. Na primeira queda, por exemplo, o motoqueiro estava devagar e, mesmo assim, caiu só com o toque do carro. Depois que passou, fiquei pensando: e se aquela condutora não tivesse conseguido frear o carro e nos atropelasse? E vi como é perigoso. Na segunda queda também. Estávamos andando na avenida tranquilamente, sem trânsito, e colidimos com outra moto. E me machuquei mais do que na primeira. Arranhei os braços e o joelho.
JC - E os motoqueiros parceiros que fazem Uber e 99 Moto? O que você poderia dizer sobre o comportamento e a condução deles?
CLÉCIA - Veja, peguei motoqueiros de todas as qualidades. Imprudentes e que dirigiam bem. Que corriam, outros que não, alguns verdadeiros loucos. Andando a 100 km/k, 120 km/k na moto, mas que sabiam o que estavam fazendo. É muito misturado, essa é a verdade.
Os dois motoqueiros que caíram comigo não estavam rápido nem foram imprudentes. E mesmo assim caímos. E, na maioria das vezes, andei em motos grandes, mas também já peguei todo tipo de motos.
JC - E como passageiro, como você se comportava? Andava segurado no motoqueiro ou solta? Temos visto muitos passageiros soltos na garupa das motos, alguns até manuseando o celular, por exemplo, num perigo iminente?
CLÉCIA - Eu costumava colocar a mão no ombro do motoqueiro, no máximo. E sei que ninguém segura. Não tem nem como. As pessoas andam mesmo é soltas ou, no máximo, segurando na própria moto. E, de fato, é verdade que muita gente mexe no celular na garupa. Tenho amigas que fazem isso e já as alertei sobre o perigo. Lembro do que passei, mesmo segurando nos motoqueiros.
JC - Você relatou as duas quedas à Uber?
CLÉCIA - Não, só a segunda queda. Mas hoje sei que deveria ter relatado as duas. Sabemos que tem muito pai de família rodando, que precisa do trabalho, mas tem muito motoqueiro imprudente também, sem que haja qualquer controle. Agora, que não faço mais uso do Uber e 99 Moto, tenho observado mais e vejo o quanto é perigoso.