Chuvas: não teve aplicativo de transporte, muito menos Uber ou 99 Moto: até nas chuvas, é o transporte público quem nunca volta para casa

Todos pararam nesta quarta (5), foram para suas residências e se abrigaram da chuva, mas o transporte público seguiu operando no Grande Recife

Publicado em 06/02/2025 às 12:41 | Atualizado em 06/02/2025 às 13:10
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Longe de querer transformar a última quarta-feira (5/2), quando o Grande Recife acumulou, em 24 horas, 200 mm de chuvas permanentes, em uma data de comemoração. Afinal, até o momento em que esse texto estava sendo escrito o Recife somava cinco mortes completamente evitáveis por choque elétrico, afogamento e sufocamento, Paulista uma morte e Camaragibe outra.

Mas a quarta-feira das águas serviu para mostrar a importância do transporte público coletivo urbano nas cidades. Aliás, serviu para confirmar a força que os sistemas de transporte regulares têm. Todos pararam, foram para suas residências e se abrigaram da chuva, mas o transporte público não voltou para casa. Seguiu operando no Grande Recife.

E me refiro, principalmente, aos ônibus, que são o eixo principal do transporte coletivo da RMR. São os ônibus que deslocam 1,5 milhão de passageiros diariamente. O Metrô do Recife parou devido às chuvas, é fato, mas após o horário de pico e por precaução para evitar um curto circuito generalizado, como explicou a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). E, mesmo assim, voltou no horário de pico da noite.

SEM REGRAS, APLICATIVOS EXPLORAM O PREÇO DINÂMICO QUANDO A POPULAÇÃO MAIS PRECISA

Reprodução/Redes Sociais
Mosaico com fotos das vítimas de acidentes nas chuvas do Grande Recife - Reprodução/Redes Sociais

Sem o transporte público nesta quarta-feira, o cidadão que ainda se atreveu a sair de casa - e não estava de SUV, é claro - ficou, como sempre acontece desde a chegada da Uber ao Brasil, refém do preço dinâmico dos aplicativos de transporte, que costumam até quintuplicar os valores das corridas.

E, mesmo assim, quando o cidadão conseguiu ser atendido por um motorista, também refém dos históricos alagamentos que tomaram conta da cidade nas fortes chuvas. O serviço de Uber e 99 Moto praticamente deixou de operar e também teve preços dinâmicos.

Mas os ônibus e o metrô não. Seguiram operando e, o que é mais importante, com o mesmo valor de passagem dos dias de sol. No transporte público não há preços dinâmicos, que oscilam ao sabor dos eventos e das vontades.

Isso faz toda a diferença e é mais um fator que precisa ser considerado por todos, sociedade, políticos e gestores públicos.

Houve atrasos nas viagens, terminais integrados foram fechados e linhas desativadas por causa das chuvas. Foram pelo menos dois TIs desativados (TI CDU, na Várzea, e TI Getúlio Vargas, no Cordeiro, Zona Oeste do Recife) e outras dez linhas que tiveram a operação suspensa.

Mas a maioria do sistema de ônibus estava nas ruas para atender ao passageiro. Muitos coletivos ficaram presos no trânsito e atrasaram as viagens, mas operaram. Não voltaram para casa.

PROBLEMAS NO TRANSPORTE PÚBLICO SÃO MUITOS

Sidney Lucena / TV Jornal
Chuvas fortes atingem Região Metropolitana do Recife (RMR) - Sidney Lucena / TV Jornal
Sidney Lucena / TV Jornal
Chuvas fortes atingem Região Metropolitana do Recife (RMR) - Sidney Lucena / TV Jornal
Sidney Lucena / TV Jornal
Todos pararam, foram para suas residências e se abrigaram da chuva, mas o transporte público não voltou para casa. Seguiu operando no Grande Recife - Sidney Lucena / TV Jornal
Sidney Lucena / JC Imagem
Todos pararam, foram para suas residências e se abrigaram da chuva, mas o transporte público não voltou para casa. Seguiu operando no Grande Recife - Sidney Lucena / JC Imagem

Não estou aqui negando que há problemas no transporte público coletivo do Grande Recife, assim como em todo o Brasil. E eles são muitos, ainda mais em dias de chuvas como a quarta-feira (5/2). O objetivo é ressaltar o papel que os sistemas de transporte urbanos regulares têm para as cidades, inclusive como justiça social.

Precisamos valorizá-lo. Sempre e cada vez mais. Todos. Prefeitos, governadores, gestores em geral. E também a sociedade, passageira ou não. A empresária que viu a secretária chegar ao trabalho apesar das chuvas, o síndico que teve a garantia de que os funcionários iriam trabalhar, ou os lojistas que aguardaram ansiosamente a chegada do vendedor.

Ou seja, sem o transporte público o cidadão fica na mão. Ou tem que aceitar e pagar preços dinâmicos, sem nenhum tipo de regulação do poder público e que, muitas vezes, chega quase ao nível de uma extorsão.

Passageiro ou não, você há de concordar.

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