Chuvas: não teve aplicativo de transporte, muito menos Uber ou 99 Moto: até nas chuvas, é o transporte público quem nunca volta para casa
Todos pararam nesta quarta (5), foram para suas residências e se abrigaram da chuva, mas o transporte público seguiu operando no Grande Recife

Longe de querer transformar a última quarta-feira (5/2), quando o Grande Recife acumulou, em 24 horas, 200 mm de chuvas permanentes, em uma data de comemoração. Afinal, até o momento em que esse texto estava sendo escrito o Recife somava cinco mortes completamente evitáveis por choque elétrico, afogamento e sufocamento, Paulista uma morte e Camaragibe outra.
Mas a quarta-feira das águas serviu para mostrar a importância do transporte público coletivo urbano nas cidades. Aliás, serviu para confirmar a força que os sistemas de transporte regulares têm. Todos pararam, foram para suas residências e se abrigaram da chuva, mas o transporte público não voltou para casa. Seguiu operando no Grande Recife.
E me refiro, principalmente, aos ônibus, que são o eixo principal do transporte coletivo da RMR. São os ônibus que deslocam 1,5 milhão de passageiros diariamente. O Metrô do Recife parou devido às chuvas, é fato, mas após o horário de pico e por precaução para evitar um curto circuito generalizado, como explicou a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). E, mesmo assim, voltou no horário de pico da noite.
SEM REGRAS, APLICATIVOS EXPLORAM O PREÇO DINÂMICO QUANDO A POPULAÇÃO MAIS PRECISA
Sem o transporte público nesta quarta-feira, o cidadão que ainda se atreveu a sair de casa - e não estava de SUV, é claro - ficou, como sempre acontece desde a chegada da Uber ao Brasil, refém do preço dinâmico dos aplicativos de transporte, que costumam até quintuplicar os valores das corridas.
E, mesmo assim, quando o cidadão conseguiu ser atendido por um motorista, também refém dos históricos alagamentos que tomaram conta da cidade nas fortes chuvas. O serviço de Uber e 99 Moto praticamente deixou de operar e também teve preços dinâmicos.
Mas os ônibus e o metrô não. Seguiram operando e, o que é mais importante, com o mesmo valor de passagem dos dias de sol. No transporte público não há preços dinâmicos, que oscilam ao sabor dos eventos e das vontades.
Isso faz toda a diferença e é mais um fator que precisa ser considerado por todos, sociedade, políticos e gestores públicos.
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Houve atrasos nas viagens, terminais integrados foram fechados e linhas desativadas por causa das chuvas. Foram pelo menos dois TIs desativados (TI CDU, na Várzea, e TI Getúlio Vargas, no Cordeiro, Zona Oeste do Recife) e outras dez linhas que tiveram a operação suspensa.
Mas a maioria do sistema de ônibus estava nas ruas para atender ao passageiro. Muitos coletivos ficaram presos no trânsito e atrasaram as viagens, mas operaram. Não voltaram para casa.
PROBLEMAS NO TRANSPORTE PÚBLICO SÃO MUITOS




Não estou aqui negando que há problemas no transporte público coletivo do Grande Recife, assim como em todo o Brasil. E eles são muitos, ainda mais em dias de chuvas como a quarta-feira (5/2). O objetivo é ressaltar o papel que os sistemas de transporte urbanos regulares têm para as cidades, inclusive como justiça social.
Precisamos valorizá-lo. Sempre e cada vez mais. Todos. Prefeitos, governadores, gestores em geral. E também a sociedade, passageira ou não. A empresária que viu a secretária chegar ao trabalho apesar das chuvas, o síndico que teve a garantia de que os funcionários iriam trabalhar, ou os lojistas que aguardaram ansiosamente a chegada do vendedor.
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Ou seja, sem o transporte público o cidadão fica na mão. Ou tem que aceitar e pagar preços dinâmicos, sem nenhum tipo de regulação do poder público e que, muitas vezes, chega quase ao nível de uma extorsão.
Passageiro ou não, você há de concordar.