Romoaldo de Souza

Entre a prudência que nos norteia o Livro do Eclesiastes e os ensinamentos de Santo Agostinho, Lula bem que poderia dar uma pausa nos discursos e parar de destilar ódio

Leia a coluna Política em Brasília

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 23/03/2023 às 22:45
EVARISTO SA / AFP
O presidente Lula - FOTO: EVARISTO SA / AFP

De tantos os ditados populares que a vida me ensinou, aquele que já não repito mais é o que diz: “quem fala muito dá bom dia a cavalo”. Primeiro porque esmiuçando o que a frase significa, posso dizer, com segurança, que uma maneira correta de interpretar esse dizer é que quem fala demais explicando tudo nos mínimos detalhes, acaba causando sono até nos cavalos e fica falando sozinho. Outro motivo porque não uso mais esse ditado é que conversar com animais é um jeito tão terapêutico de se viver, que muitas vezes é até melhor estar ao lado de alguns bichinho de que de certas pessoas.

O presidente Lula (PT) pegou o país desajustado, a máquina emperrada, programas sociais cheios de viés eleitoreiro, a política desacreditada e aos poucos, ainda que recriando aqui, requentando acolá, ele vai dando noção de que o passado recente foi um desastre em quase todos os sentidos. Ponto para o petista.

Ocorre que Lula não seria Lula se ele não se sentisse como “O índio”, personagem da música do mesmo nome, de autoria de Caetano Veloso. “E aquilo que nesse momento se revelará aos povos. Surpreenderá a todos não por ser exótico. Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto. Quando terá sido o óbvio.” Alguém que desce numa carruagem de fogo, salva o mundo e paira sobre as criaturas, observando a reação de cada uma sem se aperceber de que ele também é parte do contexto.

Sem querer me ater aos porquês dos diálogos pouco construtivos de sua excelência, seja tentando desconstituir o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ora prometendo vingança contra o senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), Lula segue em cima do palanque.

Sobre Campos Neto, vale lembrar que o presidente da República poderá pedir sua destituição, caso apresente “comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil”, conforme preceitua a Lei Complementar 179/2021, artigo 5º, inciso IV. Mas aí os rompantes de Lula, para assumir o controle do Banco Central, e montar ali um balcão de temeridades financeiras, como elevar os gastos públicos, esbarram na falta de votos. “Hoje, o governo ainda não tem uma base consistente nem na Câmara, nem no Senado, para enfrentar matérias de maioria simples, quanto mais matéria de quórum constitucional”, como alertou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Até aí, as lorotas presidenciais eram motivo de chacota entre aqueles que acreditam na importante de um Banco Central independente.

Agora, Lula passou a desconfiar da Polícia Federal, da Justiça Federal e das policiais estaduais de São Paulo e do Paraná, dizendo “eu acho que é mais uma armação do [Sérgio]Moro. Quero ser cauteloso, é visível que é uma armação do Moro (…) Não vou ficar atacando ninguém sem ter provas e, se for mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda. Não sei o que vai fazer da vida se continuar mentindo do jeito que está mentindo”, insinuou o presidente.

Lula jogou por terra, desacreditou de meses de investigação séria, de ameaças objetivas contra um senador da República, um promotor de Justiça. Lula minimizou até as declarações de seu ministro da Justiça, Flávio Dino, que também comanda a PF. “O que nós fizemos foi, cumprindo a lei, proteger a vida de nosso adversário. Se nós não tivéssemos agido, aí, sim, teria sido uma ilação. Mas a Polícia Federal agiu de modo exemplar (…) Trabalho esse que salvou, graças a Deus, a vida do senador Sérgio Moro”, enfatizou.

Quem está com a razão? Certamente não é o presidente que pode até, justa ou injustamente, ter motivos de sobra para nutrir todo esse ódio por seu ex-algoz. Mas achar que tudo não passou de uma trama, é imaginar que o cidadão é carente de discernimento.

O presidente poderia levar em consideração o conselho de um velho político, que alertava que a prudência no falar nem de longe significa fragilidade. E, da mesma forma, quem esbraveja de [quase] tudo e [quase] todos aqueles que não estão do seu lado, tão pouco resulta em superpoderes. É muito mais um atestado de irresponsável atitude no uso das palavras.

Como pregava o filósofo Santo Agostinho (354 - 430) “A prudência é a deliberação correta sobre o agir e a escolha dos meios para realizar a ação”


 

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