Durante a Copa do Mundo de 1970, quando o Brasil sagrou-se tricampeão e trouxe em definitivo a taça Jules Rimet (1873 - 1956), fazia muito sucesso naquele país a música “Besame Mucho”, da belíssima pianista Consuelo Velásquez (1916 - 2005). Na tarde de 17 de junho, o baiano João Gilberto (1931 - 2019) passava pelo centro histórico da Cidade do México, quando dá de cara com o Café De Tacuba, renomada cafeteria, especializada em drinks. João entrou, sentou-se, e arriscando no espanhol, pediu um café “sin azucar”. A "Radio W Deportes" transmitia Brasil x Uruguai, que jogavam em Guadalajara, a 500 quilômetros dali.
A dividida torcida pendia para a “Seleção Canarinho”, treinada por Mário Jorge Lobo Zagallo que acabara de fazer o gol de empate. “De repente me vi abraçado por toda essa turma. Foi um negócio incrível!”, comemorou, anos depois, Clodoaldo. Um pouco desse abraço ao volante sergipano saira dos braços de João Gilberto que, sozinho, comemorava seus 39 anos. Ele recém tinha gravado “João Gilberto en México”[na capa do LP, um João sem o til e com um escasso bigode]. O cantor baiano tinha marcado encontro com o maestro Oscar Castro-Neves (1940 - 2013).
“Como si fuera esta noche. La última vez.” Os versos de Consuelo Velásquez, tantas vezes balbuciados por João Gilberto foram, da mesma forma, marcantes quando o atabalhoado governo de Fernando Collor de Mello se viu no epicentro de um “affair” envolvendo a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, e o ministro da Justiça, Bernardo Cabral. Quando soube do romance, o presidente disse aos dois pombinhos: “Isso é nitroglicerina pura”. Acertou em cheio.
A ministra comemorava seus 37 anos, numa noite de 30 de setembro, quando na festa reservada para celebrar também o romance, resolveu colar o rosto na face do colega e, repetindo no ouvido de Cabral, cantarolava: “Como si fuera esta noche. La última vez.” E foi. Em seguida o ministro da Justiça pediu demissão “para preservar o casamento”. Meses depois Zélia pediu ao primo para deixar o governo.
Bolachas em Don Juan do Cerrado — As tardes de junho de Brasília são pontuadas por pequenos vesperais juninos, que acontecem nos gabinetes dos parlamentares, organizados pela bancada nordestina. “Isso é um jeito de marcarmos nossa presença aqui no Congresso, divulgar nossa cultura e mostrar que somos bons de chamego”, dizia o senador paraibano Ney Suassuna (PMDB), famoso por festinhas regadas a tudo o que se possa imaginar.
Pois foi numa dessas animadas tardes junho de 1998, que o “pau cantou” na porta do Plenário “Ulysses Guimarães.” Havia um corre corre frenético. Tinha sido convocada sessão extraordinária para debater requerimento de perda de mandato de dois deputados acusados de vender seus votos para aprovar a emenda da reeleição. Antes mesmo de chegar ao Conselho de Ética, foram arquivados os processos contra Ronivon Santiago e João Maia, ambos do Acre (à época filiados ao PFL, atual DEM).
Soa a companhia. A sessão é interrompida. Aquele burburinho. “Um deputado deu um sopapo em um colega”, gritou alguém. Quem? Quem? Todos correm para o salão verde, ponto de encontro da Casa. No chão, um nocauteado deputado, tentava se levantar. Era Sandro Mabel (PMDB-GO). Momentos antes, o então dono da fábrica de bolachas Mabel estava conversando com colegas quando foi surpreendido pelo também parlamentar de Goias, Orcino Gonçalves (PRN). Um sonora "
Plaft!!!" no ar. “Isto é para você aprender a não mexer com a mulher dos outros. Ele cantou a minha mulher, que é uma senhora de respeito”, esbravejava Orcino. Ao lado de Mabel, pendia uma abotoadura de ouro e uma presilha de gravata, com um avião em alto-relevo, que recém tinha ganho de presente do presidente do Aeroclube de Goiás.
Ricardo Barros (PPB-PR) que ajudou a apartar a briga cochichou no ouvido de um colega: “É, finalmente o Sandro Mabel conhece o sabor de uma verdadeira bolacha.” Todos riram, a sessão foi retomada. Anos depois, Mabel vendeu a fábrica de bolachas.
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