Romoaldo de Souza

De joia em joia, o ex-presidente Bolsonaro vai aos poucos, revelando o porquê de suas viagens ao Oriente Médio

Leia a coluna Política em Brasília

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 04/04/2023 às 22:56
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Pronunciamento de Bolsonaro começa que horas? Veja se já existe confirmação da live de Bolsonaro ao vivo hoje (01) - FOTO: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Dona Josefa Andrade tem 77 anos, foi casada desde os 18, mas recentemente o marido não resistiu às sequelas da covid-19 e deixou a viúva desamparada, morando de favor na casa de uns amigos conterrâneos que deixaram, anos atrás, e Codó, na região central do Maranhão. A cidade é a maior concentração de centros de religião de matriz africana do país. Eles chegaram a Brasília para se aventurar fazendo “bico” como amolador de faca, consertador de panela de pressão e desentupidor de boca de fogão a gás.

Parada na porta da agência de penhores da Caixa Econômica, Dona Zefa se recorda do dia em que recebeu o trancelim de ouro de um fazendeiro da região. “Ele andava com uma dor de cabeça de lascar o coco, e logo ficou curado com minha reza”, lembra. O agente analisa, coloca e tira o monóculo e informa, “R$ 50!”. A benzedeira esperava uma avaliação de pelo menos R$ 100. “Mas fazer o quê? Quando a gente tá precisando, meu filho. Num dá nem pra comprar o gás lá em casa, mas já é um ajuda”, diz resignada enquanto caminha para a parada de ônibus mais próxima. Antes de embarcar no 154,2 que passa pontualmente às 17h, ela se despede e diz, “É quase duas horas de viagem”. Coloca o dinheiro enrolado em um lenço, embarca e vai embora.


Dona Zefa não votou nas últimas eleições presidenciais. Ela disse que perdeu o interesse pela política “porque essa gente só vai na casa da gente quando é eleição, depois vira as costas”, conta. Mas, mal sabe ela que aquela agência de penhores uniu a necessidade financeira da rezadeira, à busca de um álibi perfeito pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Momentos antes, o ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fábio Wajngarten informou que “A defesa do ex-presidente da República entregou hoje à tarde, terça-feira, 4, o terceiro kit de presente que ele recebeu em 2019, dentro do prazo estabelecido pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A entrega reitera o compromisso da defesa do presidente Bolsonaro de devolver todos os presentes que o TCU solicitar, cumprindo a orientação do ex-mandatário do país, que sempre respeitou a legislação em vigor sobre o assunto.”

Essa nova entrega de presentes do ex-presidente é o conjunto de joias que Bolsonaro recebeu quando fez viagem oficial a Doha, no Qatar, e a Riad, na Arábia Saudita. O Jornal do Commercio apurou que no estojo entregue ontem à Caixa Econômica Federal estavam uma caneta, um par de abotoaduras, um relógio da marca Rolex - cravejado de diamantes - um anel e um masbaha - semelhante a um rosário, feito em ouro branco. Estimativas apontam que essa leva de presentes equivale a 10 mil trancelins que Dona Zefa penhorou para ajudar a comprar o gás.

Os mimos dados a Bolsonaro foram entregues à Caixa um dia antes do depoimento do ex-presidente à Polícia Federal para explicar sobre as joias e os motivos que o levaram a se apossar dos presentes, uma vez que autoridades são obrigadas a entregar o que recebem para o acervo da União. O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, também prestará depoimento à Polícia Federal.

Em março, o advogado de defesa, Paulo Cunha Bueno, tinha acatado determinação do TCU e entregue à Caixa Econômica um estojo com um colar, relógio e brincos, estimados em R$ 16,5 milhões. Pensando bem, talvez dona Josefa Andrade tenha razão quando tem uma merecida desconfiança de alguns políticos.

 

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