Daquilo tudo que esperava pela frente nesses primeiros 100 dias de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esbarrou em um ponto que é considerado nevrálgico e que necessita ser corrigido a tempo. No Palácio do Planalto a avaliação, para consumo interno, é de que precisa haver uma correção de rumo o quanto antes, sob pena de ter poucas chances de chegar com boa desenvoltura aos 200, 300 dias. Até aqui, a versão Lula 3.0 vem perdendo a guerra das redes sociais. Sim é uma guerra de narrativas, de ações, de investimento e sobretudo de conhecimento. O atual governo é analógico e tem de buscar fôlego justamente nas mídias sociais, para completar os 1.361 dias que ainda faltam. Falta povo, no governo Lula.
Em recente entrevista ao Portal 247, o ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, acusou a imprensa de ser adversária do governo. “A mídia comercial não será nossa aliada e o presidente Lula fará lives semanais após voltar da China. Não podemos ter a ilusão de que a mídia será nossa aliada”. Nas palavras de ministro, quem não está do "nosso" lado deve ser tratado como inimigo. É bem o estilo do petismo que se contorce de náuseas quando encontra um pensamento diferente do seu.
Nos quatro anos da gestão de Jair Bolsonaro (PL) as quintas-feiras eram sagradas para os apoiadores do presidente. A avidez parecia contagiante em busca de notícias do grande líder. Se bem que a “mídia tradicional”, como define Pimenta, também esperava aquela momento, em busca de informações omitidas pelo palácio do Planalto. Em uma dessas famosas lives, Bolsonaro aplaudiu o seu ministro do Turismo, Gilson Machado, que apareceu tocando Ave Maria. Foi insensad,o pelos católicos, embora ignorado pela comunidade evangélica.
Questionado sobre formato, periodicidade e em que dia da semana a live do Lula irá ao ar, o ministro da Secom se limitou a afirmar que será “um momento semanal para fazer uma transmissão nas redes sociais, uma mensagem direta dele para os brasileiros. Isso está decidido. Só vamos detalhar ainda questões de formato, dia, horário, etc”, e resumiu: “Há regiões do Brasil que não chega sinal de TV ou de internet. Alguém falou aqui sobre a EBC e a TV Brasil. Não são só uma tv pública. Nós vamos ter lives semanais. Nós estamos com três meses de governo, parece uma eternidade pelo volume de trabalho”, afirmou.
O que governantes em geral mais gostam é de falar sem serem interrompidos. Dar entrevista sem que haja interrupção ou réplica para questionar quando necessário a resposta. Adaptando o ditado popular do grande comunicador pernambucano, Abelardo Barbosa, o Chacrinha (1917-1988), na política nada se cria, tudo se copia.
Os 100 dias, do novo inquilino do Planalto — Outro sinal de alerta escutado por esses dias, no 4º andar do Palácio do Planalto, foi a “ponte” que o atual governo ainda não conseguiu concretizar, ligando o Poder Executivo com o Congresso Nacional. Se os 100 primeiros dias de governo são aquela fase de transição que vai dos festejos da posse ao “vamos ver” do início da gestão, deputados e 1/3 dos senadores ainda estão se ambientando, como quem espera a chuva passar. E é aí que o governo falha. A multi-instrumentista maranhense, Dilu Melo (1913-2000), imortalizou uma moda caipira que diz assim: “Fiz a cama na varanda me esqueci do cobertor.” Com essa base aliada, o governo Lula está fadado a “passar frio” porque, como diz o ditado popular, “o cobertor é curto”.
Durante reunião ministerial da última segunda-feira (10), o presidente fez o discurso fácil, colocando-se como “salvador da pátria” das contas públicas, falou sobre o tal do arcabouço fiscal “para equilibrar as contas públicas e trazer o pobre de novo ao orçamento” e reconheceu o “fogo amigo” do próprio partido contra o ministro da Fazenda. “[Fernando] Haddad, sei que você, de vez em quando, sofre algumas críticas. Tenho que elogiar. Sei que nunca teremos 100% de solidariedade”, defendeu.
Mérito para o presidente que foi certeiro ao criticar os bancos públicos que, passados 100 dias de governo, ainda não levaram adiante o programa “Desenrola”, cujo objetivo é reduzir o endividamento de 60 milhões de consumidores com renda de até dois salários mínimos por mês, para que eles voltem a comprar. “Eu lembro que eu dizia na campanha que, se a gente não fizer, dá a impressão de que a gente está enrolando o povo. Como o programa chama Desenrola, Haddad, eu queria que você, a sua equipe, fizesse uma conversa na Casa Civil, preparasse esse programa para gente lançar. Por mais dificuldade que a gente possa ter, tem que ter um começo. E nós precisamos lançar esse programa para ver se a gente termina com a dívida que envolve quase 60 milhões de pessoas que estão se endividando no cartão de crédito para comprar o que comer. Não tem sentido. vamos desenrolar, pelo amor de Deus. Vamos desenrolar aí", brincou o presidente.
O compositor mineiro, Fernando Brandt (1946-2015), deixou importante lição na canção “Nos Bailes da Vida” quando ressalta que “Com a roupa encharcada, a alma repleta de chão. Todo artista tem de ir aonde o povo está”. Talvez o excesso de governo e a falta de gente estejam deixando a desejar no atual governo. Para sorte de Lula e, oxalá, do país, esse governo ainda tem pela frente, 1.361 dias.
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