Foram muito bem recebidas no meio acadêmico, as declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre taxar importados de até US$ 50 para reduzir a sonegação fiscal. “Não conheço a loja virtual Shein, só conheço a Amazon, porque compro lá todo dia um livro.” “Benzadeus!” É tudo aquilo que boa parte dos brasileiros gostaria e não o faz, não é nem por falta de vontade, mas faltam-lhes as condições que Haddad tem para comprar um livro todo santo dia.
No filme “O Carteiro e o Poeta”, dirigido por Michael Radford, o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), vivido por Philippe Noiret, vai morar em uma remota ilha na Itália. Um carteiro amador, Mário Ruoppolo, personagem interpretada por Massimo Troisi passa a entregar as correspondências do chileno, costumeiramente. Os encontros são cada vez mais corriqueiros a ponto de Mário se arriscar em aprender a declamar alguns versos para conquistar uma garçonete por quem se apaixona. Neruda incentiva.
Nessa tentativa de erro e acerto, bem que o ministro da Fazenda poderia dar de presente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “Churchill e a ciência por trás dos discursos: Como Palavras se Transformam em Armas”, de Ricardo Sondermann. Está até em promoção. De R$ 79,90 por R$ 34,90. Frete e taxas incluídos.
Recorro a Sondermann para recordar de um episódio que se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Estava reunido o gabinete de guerra montado pelo governo britânico, quando o conde de Halifax (Edward Frederick Lindley Wood) chama a atenção dos presentes, alertando que “A Europa está perdida. É preciso negociar um tratado de paz. Adolfo Hitler (1889-1945) não vai fazer pedidos ultrajantes. Ele conhece as suas fraquezas”. De pronto, o primeiro-ministro, Winston Churchill (1874-1965), deixa todos em silêncio. “Quando é que vamos aprender a lição? Quantos outros ditadores vão ter de ser aclamados e apaziguados até aprendermos? Não se pode argumentar com um tigre quando a cabeça está dentro da boca dele”, sentenciou.
Não se sabe, ainda, se por puro rompante ou em função do jet lag - fadiga causada depois de certa convivência com diferentes fusos horários - mas em sua viagem à Ásia, concluída neste domingo (16), Lula disse que “a decisão da guerra foi tomada pelos dois países”, numa referência à invasão da Rússia ao território ucraniano. “A construção da guerra será mais fácil que a saída da guerra. A decisão da guerra foi tomada por dois países. E agora o que estamos tentando construir é um grupo de países que não tem envolvimento com a guerra, que não querem a guerra, que desejam construir paz no mundo, para conversarmos tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia”, disse. Segundo Lula, ”Do jeito que está a coisas, a paz está muito difícil. O presidente [Vladimir] Putin não toma iniciativa de parar [a guerra], o [Volodymyr] Zelensky não toma iniciativa de parar”. O presidente brasileiro deveria ser alertado por seus assessores internacionais e até pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, de que foi a Rússia de Putin que invadiu a Ucrânia de Zelensky, em 24 de fevereiro de 2022. A guerra é consequência da invasão.
Para completar o quadro, chegou ontem ao Brasil, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. Ele almoçava com autoridades brasileira no Palácio do Itamaraty, quando do lado de fora, menos de meia-dúzia de “gatos pingadas” protestava contra a visita de Lavrov ao Brasil . Três estudantes seguravam cartazes com mensagens “não aos acordos com a Rússia imperialista”, Lavrov fora do Brasil” e Rússia fora da Ucrânia”. Dez minutos depois de abrirem suas faixas de protesto, as estudantes se retiraram do gramado do palácio. Hoje, Lula e Lavrov almoçam juntos. Vamos ver o que pode sair desse encontro. Por vezes faltam às autoridades uma certa dose de humildade que o carteiro de Neruda tinha em excesso e uma pitada da perspicácia que saia pelo polos de Churchill.
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