Apesar do líder e mentor do MST (Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Pedro Stédile, ter aparecido nas fotos oficiais como integrante da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em sua viagem à China, o clima de arruaças patrocinado pelo movimento camponês tem desagradado integrantes do governo, até mesmo o ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, outrora liderança popular que sempre defendeu a invasão de imóveis urbanos, desocupados.
“Recebi das mãos da coordenação do MST a pauta da 26ª Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária. Neste encontro (17 de abril), eu informei que estou em diálogo com a Presidência da República na elaboração de medidas para a retomada do Programa Nacional de Reforma Agrária, paralisado nos últimos anos", disse o ministro, advertindo, logo em seguida. “Mas ao mesmo tempo, à frente do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, reforcei que a atuação do MDA é pautada pela Constituição Federal, tanto com relação à proteção da propriedade privada e quanto à função social da propriedade. Nesse sentido solicitamos a desocupação das áreas para a manutenção do diálogo entre movimentos sociais e governo federal", sentenciou.
A reportagem do Jornal do Commercio apurou que assim que as portas se fecharam e o ministro ficou frente a frente com os dirigentes do MST, Paulo Teixeira disse que o governo federal não vai tolerar invasões em áreas de produção e experimento de sementes, como na Embrapa Semiárido. O ministro leu para os invasores, a nota da Embrapa. “A invasão à área da Embrapa já está trazendo danos à condução de seus trabalhos e ao planejamento da execução de projetos e ações de pesquisa, que incluem parceiros com quem temos estabelecido avanços de cooperação que repercutirão em resultados de alto potencial de adoção junto aos produtores do Semiárido. Por fim, a invasão traz prejuízos consideráveis a produtores e agricultores familiares da área de abrangência da atuação da nossa instituição, bem como para toda a sociedade”, diz a nota.
Embora fazendo parte do mesmo governo, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi direto ao ponto, sem arrodeios. “Inaceitável! Sempre defendi que o trabalhador vocacionado tenha direito à terra. Mas à terra que lhe é de direito”, escreveu em uma rede social.
Na Câmara dos Deputados, durante reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária, o deputado Pedro Lupin (PP-PR) considerou “tímida” a reação do governo, embora “positiva”. “Você pode mensurar o prejuízo de duas formas. A primeira são os danos materiais. Imagine o aconteceu em Pernambuco. Eles [os pesquisadores] lá estão queimando pestana, fazendo pesquisas para que o país possa aumentar sua produtividade e aí aparecem esses movimentos para jogar, literalmente, por terra décadas de estudo. O governo precisa reagir”, disse.
Lideranças do “abril vermelho,” como é chamada a Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária rebatem, dizendo que a Embrapa “nunca se preocupou com a agricultura família”. Paulo Teixeira encerrou a audiência advertindo que “dessa forma”, fazendo invasões, o movimento dos sem terra poderá ficar sozinho, sem o apoio de “parceiros e aliados, nesse governo popular”.
Outras “jornadas de luta”, também intituladas de “abril vermelho” virão pela frente. Nesse quesito, o governo precisa ser mais incisivo. Não se negocia com invasor de propriedade produtiva, menos ainda quando se trata de centro de pesquisas.
Comentários