Romoaldo de Souza

O "gatonet" do Congresso Nacional, a CPMI do Golpe e a água mineral, que nem gelada era, servida a manifestantes

Leia a coluna Política em Brasília

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 24/04/2023 às 20:02
CARL DE SOUZA / AFP
Vidros quebrados no Palácio do Planalto - FOTO: CARL DE SOUZA / AFP

Qualquer filme digno de Oscar, um programa de TV que dispute o Emmy Awards ou uma transmissão ao vivo de um jogo de futebol, por uma emissora de rádio, por exemplo, tem em comum a “abençoada”- para quem usa - fita crepe, dessas que você compra por R$ 3,79 a unidade, nas lojas de departamento. Comprando em grandes quantidades, “o frete é gratuito”.

O cineasta espanhol Luis Buñel (1900-1983) repetia um bordão no set de filmagem que dizia “a imaginação é o nosso primeiro privilégio, tão inexplicável como o caso que a provoca”, para dizer que “se a câmera está em close não importa o curativo no calcanhar do ‘mocinho’. Desde que não apareça em cena”.

A conexão torta, enviesada - um tipo de “gatonet” -, que a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) terá de desnudar vai ter de ir além, bem além, do debate raso se era ou não uma tentativa de golpe de Estado. Se o governo Lula (PT) podia ou não ter evitado, afinal, não se dá golpe usando fita crepe. E, pelas ações voluntariosas de alguns manifestantes do 8 de janeiro, pareceu mais um piquenique com porrete nas mãos, embora as consequências daqueles atos tenham sido devastadoras para o país.

O que as imagens não mostram — Em depoimento à Polícia Federal, o general Gonçalves Dias, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsabilizou a edição (cortes) de imagens tornadas públicas para justificar a camaradagem com que alguns dos seus agentes receberam manifestantes em meio ao quebra-quebra dentro e fora do Palácio do Planalto. “O major distribuindo águas a manifestantes? Fizeram um corte específico na produção dos vídeos que vocês olharem (sic). Aquilo é um absurdo para minha imagem”, argumentou o general.

Um ponto importante que precisa ser esmiuçado na CPMI é “por que o oficial serviu água natural em vez de gelada, uma vez que as tardes dos janeiros de Brasília são pontuadas por elevadas temperaturas?” Ora, se é para ficar nas aparências, a fita crepe da CPMI, deputados e senadores terão muito o que analisar. Outro manifestante acende um cigarro no saguão de entrada, bem ao lado de um cartaz “é proibido fumar”.

E o que não está nos vídeos? “Corta!”, diria Buñel. “Conta”! Pedirão parlamentares. Quem patrocinou as despesas para a realização daqueles atos violentos de 8 de janeiro? Quem convenceu o seu José a pegar um ônibus em Palmeiras de Goiás (GO), viajar 357km até chegar em Brasília, sem ser alertado de que poderia ser enquadrado no Código Penal em crimes contidos nos artigos 286 (incitação ao crime) e 288 (associação criminosa armada). Ou ainda, dependendo da celeridade do Supremo Tribunal Federal (STF), abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado? Esse é o mistério. Quem pagou o frete dos ônibus?

Pelos primeiros nomes indicados pela oposição a fazer parte da CPMI já é possível antecipar que de tédio ninguém vai morrer. Eduardo Bolsonaro (SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e Alexandre Ramagem (RJ), ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), já encomendaram a fita crepe. Essa CPMI promete.

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