Não sei se isso aconteceu com você, mas na minha infância, era costume minha mãe sair no comércio, levar os filhos a tiracolo e toda vez que a gente passava no armarinho do seu Otávio Liozipio eu ficava namorando uma gravatinha listrada, com falso nó e um elástico para colocar em volta do pescoço. Eu me imaginava usando aquele adereço nem que fosse de camisa e calças curtas. Mas a ladainha materna era a de sempre. “Na volta a gente compra”. Nunca voltava por aquela mesma rua, e olhe que Carnaíba (PE) não tinha tantas ruas assim, mas ela sempre achava um jeito.
E por que eu me lembrei da gravatinha que minha mãe não comprou? Porque o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anda espalhando nas rodinhas de políticos, principalmente entre aqueles que não são de guardar segredo, que ele não tem pretenções de romper com o governo Lula. Falando à rádio Bandeirantes, Lira disse que não passa de especulação. “Se especulou muito esse final de semana de um provável rompimento, não há possibilidade. Eu não seria irresponsável, como presidente da Câmara, de romper com o governo”, disse.
Prestes a decidir se colocar ou não para votar o projeto do Arcabouço Fiscal, Arthur Lira alfinetou a articulação política do governo com o Congresso Nacional afirmou que o grande projeto do Executivo federal é ser centralizador. “O governo precisa descentralizar, confiar e delegar, para melhorar a articulação política. Por enquanto, está muito internalizado no PT, e não abrem mão de articulação na base aliada. Enquanto o governo não se posicionar em fazer com que as coisas aconteçam com mais fluidez, enquanto permanecer trancado, cada um querendo ser dono de um quinhão querendo mostrar mais atividade perante o presidente da República, as coisas não vão andar”, recomendou.
O que Arthur Lira não disse na rádio é que o governo Lula ainda não desceu do palanque, o presidente entregou as lideranças na Câmara, no Senado e no Congresso Nacional, a políticos que encontram dificuldades de deixar claro - parafraseando meu dilema infantil: não vai ter gravatinha, coisa nenhuma. O líder do governo na Câmara é José Guimarães (PT-CE), o do Senado é Jaques Wagner (PT-BA) e o do Congresso Nacional é Randolfe Rodrigues (Rede Sustentabilidade-AP).
BANCADA DA BALA CENTRA FOGO PELA FLEXIBILIZAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO
O deputado Alberto Fraga (PL-DF) disse que vê “com preocupação a investida do governo” contra os CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) e contra os clubes de tiro. Um dos líderes da bancada da bala, Fraga no entanto, nega que esteja em curso uma trajetória de enfrentamento do Palácio do Planalto. “Eu quero conversar com o ministro Flávio Dino [Justiça] e com o secretário Tadeu Alencar [Secretaria Nacional de Segurança Pública] nem para ser tão flexível como foi o [decreto] de Bolsonaro nem tão rigoroso como é o atual. É preciso achar um meio termo”, diz.
Em entrevista ao JC, no último domingo, o secretário Tadeu Alencar aposta no recadastramento das armas de fogo para que a Polícia Federal tenha controle desse “arsenal”. “Nós não vamos satanizar nem demonizar as atividade dos CACs, o que nós queremos é regulação dessa situação. E por isso que o recadastramento foi um sucesso”, avalia.
Ao JC, Fraga defendeu “um meio termo”, resgatando decreto da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) “desde que seja acrescentada a permissão para uso dos calibres 9mm e 40mm. “O que é preciso deixar claro é que todas as políticas de desarmamento fracassaram”, argumenta Alberto Fraga.